Sobre
mocinhos e bandidos
Essa semana estava matando
tempo e resolvi fuçar no Netflix à procura de entretenimento barato e fácil.
Passando os olhos na seção documentários me deparei com o “Buena Vista Social
Club”. Gosto demais. Apertei o play.
As cenas de Havana e dos
músicos liderados por Compay Segundo chamaram a atenção de meus filhos que se
encontravam no mesmo ambiente, porém com os olhos no iPhone e similares. Cometi
o erro (ou não) de contar sobre o embargo econômico à ilha, ao tentar exaltar a
importância daqueles músicos para a cultura de Cuba. Pronto. Estavam abertas as
portas para as perguntas. E do tipo que não tem jeito de responder sem fazer
uma linha histórica. Vamos a ela.
Procurei de maneira
simplificada, e tentando prender a atenção dos meninos, explicar alguns fatos
históricos para melhor entendimento. Falei da revolução ocorrida na Rússia em
1917 e suas consequências na divisão do mundo entre capitalistas e socialistas
(nesse trecho eles particularmente se interessaram muito pelo fuzilamento do
Czar Nicolau II e sua família). Entrei no pós segunda guerra mundial e o
imperialismo das nações vencedoras com a formação da União Soviética. Passei
pela revolução de Cuba liderada pelos irmãos Castro e Che Guevara, mostrando o
alinhamento do país ao bloco socialista e consequente embargo econômico por
parte dos Estados Unidos e aliados. Cheguei a guerra fria onde as potências
latiam horrores, mas não chegaram a morder (por pouco), e nesse interim toquei de
leve no assunto das milenares guerras no oriente médio com fundo religioso e
econômico bancadas pelas grandes potências imperialistas.
Logicamente que as mentes
infantis não conseguem conceber muito bem as motivações das guerras, embargos
econômicos e jogos de war da vida real, então os protestos foram inevitáveis ao
fim da explanação. Tentando contornar a revolta, parti para dar a boa notícia.
A de que o Presidente Obama tinha, ao final de 2014, iniciado as tratativas
para derrubar o embargo econômico à Cuba. Pude perceber naquele momento, o
brilho nos olhos deles quando falei do Presidente americano e lembrei-me do seu
último e fantástico discurso na ONU proferido essa semana. A falta do peso nas
costas como líder da maior potência do mundo está lhe fazendo bem. E fazendo
bem também ao planeta. Seus discursos e principalmente seus atos históricos, ao
final do mandato, tem mostrado o quanto o pensamento infantil deveria ser
levado em consideração. Fatos como embargos, guerras, intolerâncias de qualquer
ordem simplesmente não deveriam existir porque não fazem sentido. As crianças
não veem lógica nisso e nós adultos teimamos em contextualizar e tentar
justificar aquilo que não tem explicação. Talvez por isso Obama seja tão
idolatrado entre as crianças. Não como um super-herói que pilota caças
supersônicos e parte para a guerra defendendo seus cidadãos contra russos,
alienígenas e extremistas religiosos. Isso é muito anos 80. Mas simplesmente
como alguém que tem questionado aquilo que nunca fez sentido. Logicamente que
num mundo real onde não existem bandidos e mocinhos, isso possa parecer uma
utopia. Concordo. Mas hão de concordar também, que o mundo seria bem melhor se
visto sob essa ótica lógica das crianças. Bem melhor.
Guilherme
Augusto Santana
Goiânia, sexta feira 23 de setembro de
2016
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