Sobre
mudanças, ansiedades e adaptação
Para
aqueles que tem filhos em idade escolar essa semana foi o rebuliço. Um balde de
água fria nas férias. A volta ao bendito (ou maldito, como queira) ciclo das
aulas. Se não bastasse ter que acordar mais cedo por conta dos horários das
escolas, temos que acordar de madrugada por conta do horário de verão. Mas isso
é um outro assunto. O que importa é o recomeçar. Professores novos, colegas
novos, matérias novas, materiais escolares novos, dívidas novas para quem compra
o material escolar novo. Tudo junto e misturado numa semana que deve chegar ao
fim com alguns nocautes e vários feridos que iniciam o processo de adaptação
desse novo ciclo.
Aqui
em casa temos um recomeço ainda maior. A troca da escola da filha mais velha.
Apertem os cintos que vai subir. Contabilizem comigo. Um filho em cada escola.
Escolas relativamente longe uma da outra. Horários de entradas diferentes.
Horário de saída com diferença de quase hora. Matérias escolares que se
multiplicaram igual Gremilin quando é molhado. Até acertarmos o horário já
quase acabou o semestre. Agora se para nós adultos, a mudança gera um
transtorno e requer uma adaptabilidade, o que dirá da mente de uma criança? O
que e como se processa em seus pensamentos diante de um giro vertiginoso como
esse? Saindo de uma escola pequena onde a acolhida era afetuosa para uma
escola, até então, incerta. Logo ela perceberá que os mundos não são assim tão
diferentes e a Lei de Evolução vai tratar de fazer a transição que tanto
aterroriza. Mas isso só acontecerá depois de muita unha roída, muito cabelo
arrancado, muita lágrima vertida e muita espinha aparecida.
Ansiedade
foi a palavra mais falada essa semana aqui pelas minhas redondezas. De filhos,
pais e irmãos. Diria até de avós e tios. De cachorros também. Todo mundo em
estado de nervos alterado. A mudança provoca esse efeito. A inércia nos acomoda
no nosso mundinho e muitas vezes sussurra ao nosso ouvido maldizendo o novo.
Mas com o passar dos anos a experiência ajuda a bloquear esses maus agouros e
nos faz entender que a mudança é salutar. É essencial. Como o ciclo da vida.
Entre acordar mais cedo, organizar menino e tocar minha vida, consegui recordar
a época em que passei o que minha filha está passando hoje. Quando eu precisei encarar
de frente essa mudança. A saída de um colégio de bairro onde era conhecido pelo
nome para um colégio grande onde um número me caracterizava. E tinha que dar
sorte porque corria o risco de sair com o número 24. Aí era mudança com zoeira.
Lembro-me do coração apertado quando saia ao pátio do colégio com aquelas
“crianças” bem maiores do que eu. Procurava o canto seguro. Fazia-me de
invisível. Até que achava os meus e íamos nos fazendo. Sobrevivendo. Adaptando
juntos àquelas mudanças. Depois mais para frente outras mudanças. E mais
outras. E começamos a nos acostumar. O coração se aperta menos. E depois
começam as mudanças dos filhos e o nosso coração começa a se apertar de forma
diferente. Por eles. Por saber o que se passa em suas mentes. Por conseguir sentir
o acelerar de seus corações. Por estar passando por tudo isso de novo e saber
que tudo isso vai passar. De novo. E de novo. Num processo de mudança e de
adaptação. Um processo da vida.
Guilherme
Augusto Santana
Goiânia, sexta feira 27 de janeiro de
2017