A
dor une
Passando
férias na Bahia, entre um mergulho e outro, o filho mais novo cortou o dedo em
uma luminária da piscina na casa em que estávamos hospedados. Foi aquela sangueira.
Todo mundo corre ao socorro. Cada vez que um olhava era aquela cara de espanto.
O corte tinha sido profundo. Pega menino molhado mesmo e leva no pronto
socorro. Vai aos prantos. Devia estar ardendo muito. Devia estar muito
assustado. No pronto socorro a médica começa a explicar os danos. O corte tinha
sido profundo e a articulação estava à mostra. A mãe começa a passar mal,
seguida pelo pai (que sou eu) e logo após a tia que se dizia forte. A médica
ficou sozinha em sua explicação e resolveu fazer um curativo. Indicou que o levássemos
à Salvador para uma avaliação de especialista. Fomos.
Distância de uma hora. Remédio
para dor aliviou o pranto do pequeno. Hospital no cetro da capital baiana.
Aquele ritmo que todos conhecem. Pressa só amanhã. Avaliação da médica.
Simpática. Raio-x do técnico. Gente boa. Sutura da equipe de enfermagem.
Solícitos. Essa hora era a pior. O enfermo já vinha reclamando desde o ocorrido
que não ia dar ponto. Que ia doer. Que iam passar um fio na sua pele. Agonia.
Pois foi inevitável. Foi segurado por quatro pessoas incluindo o pai. Sempre dói
mais no pai. O candidato a sutura em prantos. Nessa de segura e chora,
aproximei-me do seu ouvido e tentei tirar sua atenção. Perguntei sobre o jogo
do celular que ele era player. Ele, entre um choro e outro, explicava alguma
coisa sobre o jogo. Não consegui dissuadi-lo totalmente da cena da costura, mas
toda a coisa chegou ao fim. Finalmente. Todos parecendo que tinham levado surra
de vara.
Nesse ponto nos lembramos da
hora avançada da tarde e a falta de almoço de todos que estavam presentes.
Voltando passamos em um shopping. No caminho para a praça de alimentação o
pequeno me questionou: “Papai, aquela hora que você perguntou sobre o jogo
estava só querendo me entreter ou realmente estava interessado?”. Nessa hora,
além do espanto do uso da palavra “entreter” de maneira tão cabível, não tive
coragem de falar que a intenção era o desvio da atenção. No mesmo momento, num
ápice de consciência, pensei que seria interessante aprender com ele sobre o
jogo. Um ponto de contato. Um elo de ligação.
Muitas gerações de pais se
horrorizaram com as “modas” de seus filhos, como a febre da música, da TV e dos
vídeo games sem mergulharem nesse mundo para entendimento do que se passava na
mente dos filhos. A geração dos meus filhos mistura todos esses gêneros sob o
manto da internet. Não posso e não devo simplesmente negar isso tudo sem
entender. Essa oportunidade surgia a todo momento, mas era postergada sob
desculpas muitas. Dessa vez não pude me omitir. Aquiesci. Abaixei a guarda. Pois
então ele passou todo o passeio no shopping me explicando os personagens,
cenários e fases do jogo. Entre uma mordida ou outra no sanduiche triplo foi me
dando aula de tática. Eu, do lado de cá, ouvindo tudo atentamente. Não com a
intenção de me tornar um exímio jogador, mas com o simples propósito de ficar
mais perto do meu filho. A dor, ao final, acaba unindo.
Guilherme
Augusto Santana
Goiânia, sexta feira 20 de janeiro de
2017
Nenhum comentário:
Postar um comentário