Saudades minhas
Se quiser ter um encontro
com a melancolia, que leia essas palavras. Senão, que passe a outro post ou
artigo que seja, porque hoje estou saudoso.
Mas não vou falar
exclusivamente de saudade. Não. Vou falar de família. Daquelas que vivia
grudada. Igual carne e unha. Fazia viagem para praia. Qualquer que fosse. Tendo
lugar para ficar ou não. Indo para longe impreterivelmente pegava também uma
temporada de hospital. Tudo junto e misturado. De uma forma que não se sabia
onde começava os filhos de um e onde terminava os dos outros. Todos éramos
filhos e pais de todos. Feito carne e unha eu já disse. Repito para que me
ouçam com os três ouvidos. Conta o do coração também. Falei de família e me
voltou o assunto da saudade. Porque estão umbilicalmente ligados. E como há
muito desmamado, hoje sente falta do amparo. Saudades daquela família.
Mas não vou falar só de
saudade. Não. Vou falar de amizade. Daquelas resistente igual aroeira. Cerne
duro. Ia para a fazenda. Se espremia tudo em pequenos quartos. Importante era
estar junto. Assuntos mil na cozinha cheirando coisa boa. Pamonha, chuva mansa,
cheiro de terra molhada. Verde que te quero verde. Amizade é que nem lavoura.
De qualquer tipo que seja. Precisa semente. Precisa terra. Precisa adubo.
Precisa água. Precisa afeto. Tudo cultura. Mas amizade é planta rara. Difícil
de dar fruto. Mas quando tratada com carinho cresce que é uma beleza.
Independente da fraqueza da terra ou da escassez da chuva. Mas tem as pragas.
Traiçoeiras. Roubam a força da planta. Falei de amizade e me veio de novo a tal
saudade. Porque amigo sente dessas coisas. E quando apartado está não para de
pensar se junto irmanado estivesse. Saudades daquela amizade.
Mas não vou falar somente
de saudade. Não. Vou falar de alegria. Daquelas sorridentes como a luz do dia.
Igual arco íris depois da chuva. Falou de alegria lembrei de festa. Quer coisa
melhor? Com comida, sem comida, com música, sem música, com motivo e sem
motivo. Mas nunca sozinhos. Sempre aquela família amiga. Recorda? A felicidade era
marcada parecido cicatriz. Mas de corte bom. Cicatriz na alma. Mas alegria
requer sorriso. Precisa compreensão. Necessita paciência. Repele a tristeza.
Porque essa, não se engane, está à espreita. Pronta para dar o bote. E quando
monta de galope, não tem quem segure. Falei de alegria e eis que surge teimosa a
saudade. De um tempo que risos transbordavam. Saudades daquela alegria.
Mas não vou falar
exclusivamente de saudade. Não. Corre risco de ficar monótono. Coisa que é visceralmente
melancólica. Mudemos de assunto. Vou falar de tempo. Aquele emprestado por
Caetano: Tempo, tempo, tempo, tempo. Compositor de destinos. Tambor de todos os
ritmos. Aquele que passa sem avisar. Aquele que me lembra da fugacidade da
vida. Aquele que me recorda do Criador. A Lei do Tempo. Universal e inflexível.
Será que ainda temos todo tempo do mundo? Ou será que sinto saudade do tempo que
já se passou no meu mundo? Ou será que percebo que o tempo que resta em meu
mundo, não terá mais o meu mundo? Aquela família. Aquela amizade. Aquela
alegria. Eu já ia falando do tempo mas a saudade bateu a porta. Ela quer
entrar. Eu deixo. Quem sabe ela me traga tempo. O tempo que não volta mais.
Guilherme
Augusto Saudoso Santana
Sexta chuvosa
do último dia de março do ano de 2017
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