sexta-feira, 17 de novembro de 2017

sobre Leis e julgamentos


Sobre Leis e julgamentos

 

 

          Final de semana passado, como de costume, a esposa alugou um DVD para assistirmos. Sei que isso as vezes causa espanto, aluguel de DVD em plena era Netflix, mas lá em casa ainda utilizamos desse recurso. Sei que de repente me vi assistindo o tão alardeado “A Cabana”. Confesso que quando vi qual seria o filme escolhido me veio uma avalanche de pré-conceitos. Já havia escutado inúmeros comentários sobre o livro e o filme. Soava-me meio que suspense com auto ajuda religiosa. Tanto que não me atrevi a ler o livro. E a maior constatação de tudo isso é: como podemos errar no julgamento precipitado. Até em caso de acerto no ato de julgar, erramos por faze-lo antecipadamente. Por ouvir dizer. E por conta disso, da minha sentença premeditadamente errônea, paguei com lágrimas. E olha que chorei muito vendo esse filme.

           

          Como havia “ouvido” falar, realmente a história tem sua figura de linguagem principal sustentada em diálogos entre o protagonista e a Santíssima Trindade, quer seja, Pai, Filho e Espírito Santo. A princípio, para quem julgou o livro pela capa, parecia uma fantasia sem fim. Uma pretensão digna dos piores livros de autoajuda. Mas pasmem... foi a decisão mais acertada. A temática da estória versa sobre um pai que busca motivação para viver após a perda trágica da filha. E em volta dessa busca são envolvidos elementos como perdão, redenção, ódio, tristeza, paternidade, afeto e mil outros. E como abordar tantos temas transcendentes se não utilizar a base de conceitos abarcados pelo protagonista da estória? Seria como tentar ensinar um bebe a encaixar uma peça quadrada em um buraco redondo. Cada ser humano possui um cabedal de conhecimentos e conceitos que formam a base do seu entendimento. Qualquer ensinamento que não se encaixe nessa base será de imediato rechaçado. Com exceção, é claro, quando o ser se propõe a expandir sempre sua base de conhecimentos, ou quando cambia conceitos num processo de evolução. Mas isso já é uma outra história. Sei que, no meu modesto entendimento literário e cinematográfico, as figuras de linguagem foram acertadas e mais uma vez paguei com lágrimas meu estúpido pré-conceito. E como chorei.

         

          Quando achei que tinha visto de tudo, aparece a atriz Alice Braga protagonizando a Justiça. Mais uma vez bateu-me o senso crítico e irônico avisando que talvez não fosse muito sensato um brasileiro encarnado o personagem da justiça. Mas entendi de imediato que essa não era a mensagem. Pelo menos não a mensagem principal. Naquele momento o personagem estava dentro de uma simulação de julgamento e disparava suas sentenças de condenação. Condenava o pai, condenava o assassino da filha, condenava Deus. Condenava. Foi então que a “Justiça” lhe disse o que considero ser o cerne do filme: que o ser humano deveria confiar nas Leis Divinas. Que as falhas e erros só são sanados pela atuação das Leis. Podemos instituir tribunais legalmente perfeitos, mas nada restitui ao pai a perda de uma filha, nada devolve ao ofendido a sua honra, nada repõe ao agredido a sua integridade. Não quer dizer que não devamos ter as leis humanas que disciplinem a nossa sociedade. Não estou aqui falando em anarquia. Mas o erro está em procurar redenção nas leis humanas. A redenção deve ser procurada dentro de cada ser que comete o erro. Ninguém tem o poder de perdoar ninguém. E essa redenção de si mesmo não exime as sanções das Leis Universais. Não! Os erros são passíveis de consequências mesmo que tenhamos reconhecidos os mesmos, nos arrependido e nos redimido. Eis mais uma vez o cerne da questão. Devemos confiar nas Leis Divinas porque elas são inexoráveis, inflexíveis e principalmente justas. Aí está a justiça. E ela atua. Podem ter certeza.

 

          Ao final recomendo o filme fortemente. Sutil e sensível trás à baila conceitos universais sob o pano de fundo da religiosidade metafórica. Deu até vontade de ler o livro. De qualquer forma precisei escrever esse texto para tentar me redimir perante os muitos amantes de “A Cabana”, apesar de ter me tornado um deles. Errei. Precipitei meu julgamento. E como sempre as Leis atuaram em sua imparcialidade e paguei o erro com lágrimas. Mas quem nunca errou e pagou com lágrimas? Que a atire a primeira pedra.     

 

 

 

 Guilherme Augusto Santana

Goiânia, sexta feira 17 de novembro de 2017

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