sexta-feira, 27 de julho de 2018

perder e ganhar


Perder e ganhar

 

          Quando vi a filha chorando copiosamente não resisti ao ímpeto paterno de consolá-la. Desses ímpetos que trazemos junto com o instinto, mas que é potencializado imensamente pela sensibilidade. Queria dar colo, queria explicar, queria relativizar, queria tirar a decepção com a mão. Sim decepção. As lágrimas caiam de pura e singela decepção. Era a primeira Copa do Mundo que ela acompanhava com dedicação. Com afinco (sorte a dela não o ter feito nos 7x1). Gritava vai Phillipe, dribla Neymar, avança William como gente grande. Que entende o que diz. Por isso o choro valia. Cada lágrima valia. E ela só queria verte-las. E o pai só contê-las. Ou tentar pelo menos. Mostrei-lhe a bandeira que carregava desde a Copa de 94. Mais derrotas do que vitórias. Contei da seleção favorita de 82 e do fiasco de 90. Narrei os gols da França na final de 98 e da mesma em 2006. Falei da Holanda em 2010. Todos entalados na garganta. Mas ela continuava no choro copioso. Não tinha passado por aquilo. Não sabia quem eram Caniggia, Paolo Rossi, Zidane, Henry. Sabia que a sua Seleção tinha sido eliminada. A sua Seleção. E por isso chorava. Aí o pai percebeu que as decepções não podem ser explicadas, narradas, inculcadas. Devem ser vividas, sentidas, assimiladas. Assim como as vitórias. Por mais que eu explicasse a sensação do pênalti perdido por Baggio, ou o gol de falta de Branco contra a Holanda ou ainda a falta de Ronaldinho Gaúcho contra a Inglaterra, ela não sentiria o gostinho do que foi. A sensação. O êxtase. Têm coisas na vida que carecem de explicação. Ou não tem explicação. Ou são explicáveis por si só. Ou sentidas. Assim são as alegrias e decepções da vida. Vitórias e derrotas. E olha que estamos só falando de futebol aqui, sendo que a regra se estende por praticamente tudo. No momento que entendi, deixei que ela chorasse. As lágrimas foram feitas para serem vertidas. Nos momentos de alegria e de tristeza. Porque elas expressam e curam. Até que o luto vire saudade e a euforia, boa lembrança.        

  

           Guilherme Augusto Santana

Goiânia, sábado 07 de julho de 2018

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