O
canudinho da vez
Estava
levando a filha mais velha aos inúmeros lugares que eles vão nas férias, quando
escutei alguma coisa sobre a campanha de abolição do canudinho plástico no
rádio. Confesso que não tinha pensado a fundo no significado daquilo até aquele
momento, mas como a filha tinha recém passado por um episódio de compadecimento
por uma causa, resolvi lhe perguntar sobre o assunto. Logicamente que ela me
respondeu: “legal”. Não satisfeito pedi que discorresse mais sobre os porquês.
Ela explicou do lixo e da morte de tartarugas por conta dos artefatos, até
então inofensivos, de plástico. Depois da conversa pus-me a refletir sobre o
assunto e os convido a fazer o mesmo. Com certeza é legal uma campanha para
evitar a morte de tartarugas por asfixia. Não é? Tenho certeza que quase ninguém
seria contra. Mas vamos dar profundidade nisso? Antes do canudinho ser
considerado vilão mor da sociedade mundial, foram as sacolas plásticas. E antes
delas foi o gás de geladeira. E antes dele foi o petróleo. E assim teceremos
uma lista infindável de condenados de crime ambiental. Agora a pergunta
nevrálgica seria: Como esses artefatos foram parar nas vias aéreas de uma
tartaruga, ou nas vias gástricas de um golfinho ou até mesmo nas penas de uma
ave migratória? Eles apareceram lá por milagre? Quando fazemos essa pergunta e
notamos que existe uma cadeia imensa entre usar o canudinho e o mesmo ser encontrado
em um cadáver de tartaruga, chegamos a conclusão que o simples fato de usarmos
um artefato de plástico não reflete em quase nada o problema. E aí bate-me, não
sei se em vocês ocorreu o mesmo, uma sensação de que estou sendo usado numa
campanha no mínimo rasa. O meu compadecimento foi usado nisso. Cheguei a olhar
torto para os canudinhos. Mas refazendo-me do sentimentalismo, vejo que na
verdade, estamos culpando a vítima. Não a tartaruga, mas o canudo. Visto que o
verdadeiro culpado disso tudo somos nós. Olha que conclusão interessante. Ou
você sabe exatamente o que é feito com o lixo depois que sai da sua casa? Ou
você acompanha toda parte de reciclagem e tratamento dos resíduos que provocamos?
Não né? Nem eu. E isso estamos falando só de lixo já produzido. Pensa no
consumismo de maneira geral e no que isso reflete de absorção de recursos
naturais. Sentiu o drama? E aí vem a conclusão mais importante de toda essa prosopopeia:
Deveríamos fazer uma campanha para mudar o ser humano, não os canudos de
plástico. Aliás, a campanha deve começar dentro de cada um. Uma auto campanha. Somos
responsáveis incondicionalmente pelos nossos atos e pelas consequências dos
mesmos. Eu sou responsável por mudar minhas atitudes e entregar um cidadão
melhor a sociedade. Cada um o é. Senão, como diria Marcelo D2, lava as mãos como
Pilatos achando que já fez sua parte. Pensemos.
Guilherme
Augusto Santana
Goiânia, sábado 27 de julho de 2018
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