Natal na
casca de noz
Os que
me conhecem de “faz tempo” sabem que não resisto a uma crônica de Natal. Época
emotiva, reflexiva e palco de todas as histórias. Volta ou outra esqueço-me
desse fenômeno como um lapso na memória de um possível demente, mas quando
vejo, escuto, sinto determinadas coisa, é como se voltasse aos tempos de
outrora. Papo de gente velha e saudosista. Porque começo nesse processo. Do
passado ser maior que o futuro. E o Natal faz parte desse portentoso passado.
Suas luzes piscando, sua harpa natalina e a casca de noz. Olha que coisa
interessante. A casca de noz. Não a do Stephen, mas a minha. Aquela que via
sobre a mesa na casa de Tia. Sabe as que vem dentro de um saco de rede amarela com
fios? (Não consigo descrever mais que isso). A memória lúdica as vezes é maior
que as palavras para descrever. Elas, as nozes, ficavam espalhadas pela mesa.
Lado a lado com as nectarinas, pêssegos, uvas e chocolates sonho de valsa. As
nozes não eram o alvo de preferência principal senão os invólucros brilhantes de
cor que não sei descrever nesse momento de devaneio representados pelo casal
bailando valsa. Mas as nozes eram obstáculos. Vinham em cascas. Proteção impenetrável
eficaz contra invasões indesejadas. Poucos ousavam tentar tal feito. Conspurcar
seu invólucro sagrado em busca de amêndoa tão noz. Assim como a vida. Fechada e
misterioso a espera de quem busca desvendá-la. Com a ferramenta certa e a sutileza
das leis de Newton, rompe-se as camadas de fibra que levam ao prêmio. Gosto por
demais do sabor de guardado, mas ainda mais adoro romper-lhe a casca. Como na
vida. O desafio do caminho sendo mais gozoso que o efêmero júbilo da vitória. A
noz como fim de caminho longo, ardiloso e dificultoso. Mesmo que saísse inteira.
Sem máculas. Indo direto à boca como prémio de processo perfeito. Sempre como a
vida. Segue. Depois vem os chocolates. Troféus da glicose efêmera. Mas nunca me
esqueci da noz em casca. Ali a se mostrar com esfinge. Devorando quem não
tentasse decifrá-la. Tácita. Permanente. Misteriosa. Presente. Como a vida.
Sempre.
Guilherme A. Santana
25 de dezembro de 2024
santanagui@hotmail.com
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