quarta-feira, 25 de dezembro de 2024

Natal na casca de noz

 

Natal na casca de noz

 

Os que me conhecem de “faz tempo” sabem que não resisto a uma crônica de Natal. Época emotiva, reflexiva e palco de todas as histórias. Volta ou outra esqueço-me desse fenômeno como um lapso na memória de um possível demente, mas quando vejo, escuto, sinto determinadas coisa, é como se voltasse aos tempos de outrora. Papo de gente velha e saudosista. Porque começo nesse processo. Do passado ser maior que o futuro. E o Natal faz parte desse portentoso passado. Suas luzes piscando, sua harpa natalina e a casca de noz. Olha que coisa interessante. A casca de noz. Não a do Stephen, mas a minha. Aquela que via sobre a mesa na casa de Tia. Sabe as que vem dentro de um saco de rede amarela com fios? (Não consigo descrever mais que isso). A memória lúdica as vezes é maior que as palavras para descrever. Elas, as nozes, ficavam espalhadas pela mesa. Lado a lado com as nectarinas, pêssegos, uvas e chocolates sonho de valsa. As nozes não eram o alvo de preferência principal senão os invólucros brilhantes de cor que não sei descrever nesse momento de devaneio representados pelo casal bailando valsa. Mas as nozes eram obstáculos. Vinham em cascas. Proteção impenetrável eficaz contra invasões indesejadas. Poucos ousavam tentar tal feito. Conspurcar seu invólucro sagrado em busca de amêndoa tão noz. Assim como a vida. Fechada e misterioso a espera de quem busca desvendá-la. Com a ferramenta certa e a sutileza das leis de Newton, rompe-se as camadas de fibra que levam ao prêmio. Gosto por demais do sabor de guardado, mas ainda mais adoro romper-lhe a casca. Como na vida. O desafio do caminho sendo mais gozoso que o efêmero júbilo da vitória. A noz como fim de caminho longo, ardiloso e dificultoso. Mesmo que saísse inteira. Sem máculas. Indo direto à boca como prémio de processo perfeito. Sempre como a vida. Segue. Depois vem os chocolates. Troféus da glicose efêmera. Mas nunca me esqueci da noz em casca. Ali a se mostrar com esfinge. Devorando quem não tentasse decifrá-la. Tácita. Permanente. Misteriosa. Presente. Como a vida. Sempre.

 

Guilherme A. Santana

25 de dezembro de 2024

santanagui@hotmail.com

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