sexta-feira, 4 de abril de 2025

Pais, Adolescentes e a peneira

 

        Não temos um assunto mais falado no momento do que a série britânica “Adolescência”. A repercussão dos quatro capítulos tem reverberado como uma sirene estridente na consciência das pessoas. Assunto de podcasts, rodas de conversa, teses de doutorado ou simplesmente inquietações nas mentes de pais e adolescentes. Mas não quero aqui falar sobre a série em si no seu aspecto técnico, narrativo ou cinematográfico. E nem analisar os porquês e como. Entendo que um viés pouco falado nisso tudo é o que fazer. Como lidar com os adolescentes nos tempos atuais. Como influir, educar e amparar esses seres que passam por momento tão singular em suas existências.         

        Todo o processo começa na infância, que é o preparatório para toda a vida adulta. É nessa fase que o ser está mais suscetível aos moldes e absorção de conceitos. Como ensina o pensador humanista Gonzáles Pecotche: “a mente da criança é terra virgem e fértil”. É nesse momento que precisamos ensinar os conceitos de bem e mal, de família, de amor a si mesmo e ao próximo, de fraternidade, de evolução, de vida e morte. Mas, no meu entendimento, esses conceitos devem ser transmitidos sem o temor. Com afeto. O temor causa um enrijecimento nas pequenas mentes das crianças em formação que afetará seu ser adulto. Outro fator que ajudará nessa função de educação é o exemplo dos pais e educadores. As crianças são seres muito observadores e tendem a copiar o perfil das pessoas que estão junto delas, como uma esponja seca que absorve a água próxima. Então cabe aos adultos ser esse exemplo para que a criança possa absorver os conceitos de bem. Fácil? Pelo contrário. Esse “ser exemplo” requer uma análise aprofundada de nós como seres humanos, dos nossos conceitos e da maneira como nos relacionamos com o mundo. Em suma, requer obrigatoriamente que sejamos sempre melhores, em um processo de evolução, para sermos melhores exemplos para os filhos.

          Mas aí chega a adolescência. O que faço com esse ser que dormiu terno e acordou revoltado? Não esperem uma receita de bolo, porque primeiro não sou especialista e segundo porque cada ser tem uma maneira e nem sempre o que funciona para um, funciona para o outro. Mas apliquei algumas ferramentas ao longo da educação dos meus filhos que reputo terem ajudado para uma adolescência menos punk. Uma delas é a aproximação com o adolescente. Aquela aproximação que tínhamos quando eram crianças. A nossa tendência, com a mudança de fase, é o afastamento e a famosa frase: “vou sair de perto até que a adolescência acabe”. Penso que isso seja um erro, pois além de todos os medos, incertezas e mudanças que o adolescente passa, ainda vê seus pais se afastarem com se ele tivesse contraído uma doença contagiosa. A aproximação afetuosa é muito importante para que o adolescente entenda que não está sozinho nessa, e que existem pessoas que o amam e o ajudarão com suas dúvidas e incertezas. O cuidado que temos que ter é para que essa aproximação não seja excessivamente controladora, pois o adolescente necessita de espaço, e algo nesse sentido pode causar um sentimento de revolta ainda maior e de clausura do adolescente. Tenha-os sempre perto. Crie atividades para que eles possam participar e momentos especiais como seções familiares para assistirem filmes ou escutarem música. Esses momentos costumam suscitar aquele afeto que sentiam quando criança e fazem com que amenizem seus medos. Aproximação e não afastamento.

          Escutem seus adolescentes. Imaginem que eles estão passando por um momento em que os pensamentos alheios que tinham quando criança estão sendo atropelados pelos pensamentos próprios. As certezas da fase infantil estão sendo substituídas pelas dúvidas. O conforto e acolhimento sendo suplantados pelos afastamentos e estranhezas. Isso tudo dentro da mente de um ser que ainda está em formação. Aí vocês imaginam a necessidade que eles têm de se expressar e contar a alguém como está sendo difícil esse momento. E quem melhor para escutar que os pais? Mas uma escuta inteligente é necessária. Sem julgamentos. Sem o espanto e a incredulidade. Sem a tentativa de adestramento. Sem o “no meu tempo não era assim”. Uma escuta que dê amparo e mostre ao jovem que alguém se importa com ele. Além das conversas uma coisa que ajuda muito é o pai entrar no universo do adolescente. Mais uma vez ressaltando que não de forma intrusiva. Procure conhecer as músicas que ele escuta, as diversões que ele gosta, os jogos que ele joga. Proponha aprender com ele. Solicite que ele te conduza a esse mundo particular que é a mente do adolescente. Dessa forma ele se sentirá útil e seguro de si. Escuta e não julgamento.

          Entendo não ser um desafio fácil a ser enfrentado pelos pais e muito menos pelo adolescente. O entendimento que todos nós passamos por essa fase na vida, e sobrevivemos ao final, acalenta um pouco nosso ser, porém a qualidade como passamos por essa fase da adolescência é que tem que ser observada e enfrentada. Senão ao final teremos jovens e adultos recrudescidos e afastados dos conceitos de bem que receberam quando criança. E essa responsabilidade de guiar o jovem ser nesse caminho tortuoso é nossa como pais. Terceirizar a educação de nossos filhos talvez seja a maior causa de desalento entre a juventude e não enfrentar essa responsabilidade fere de morte a função de pais e educadores. É preciso enfrentar com coragem e perseverança, para que não possamos em momentos como esses, nos assombrar com a cruel realidade de uma série, mas ao contrário, termos certeza da nossa contribuição para o bem de nossos filhos. O restante é tapar o sol com a peneira.

    

  

         

 

 

 

 

Guilherme Augusto Santana

Goiânia, sexta feira 04 de abril de 2025

santanagui@hotmail.com

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