Não temos um assunto mais falado no momento do que a série britânica “Adolescência”. A repercussão dos quatro capítulos tem reverberado como uma sirene estridente na consciência das pessoas. Assunto de podcasts, rodas de conversa, teses de doutorado ou simplesmente inquietações nas mentes de pais e adolescentes. Mas não quero aqui falar sobre a série em si no seu aspecto técnico, narrativo ou cinematográfico. E nem analisar os porquês e como. Entendo que um viés pouco falado nisso tudo é o que fazer. Como lidar com os adolescentes nos tempos atuais. Como influir, educar e amparar esses seres que passam por momento tão singular em suas existências.
Todo
o processo começa na infância, que é o preparatório para toda a vida adulta. É
nessa fase que o ser está mais suscetível aos moldes e absorção de conceitos.
Como ensina o pensador humanista Gonzáles Pecotche: “a mente da criança é terra
virgem e fértil”. É nesse momento que precisamos ensinar os conceitos de bem e
mal, de família, de amor a si mesmo e ao próximo, de fraternidade, de evolução,
de vida e morte. Mas, no meu entendimento, esses conceitos devem ser
transmitidos sem o temor. Com afeto. O temor causa um enrijecimento nas pequenas
mentes das crianças em formação que afetará seu ser adulto. Outro fator que ajudará
nessa função de educação é o exemplo dos pais e educadores. As crianças são
seres muito observadores e tendem a copiar o perfil das pessoas que estão junto
delas, como uma esponja seca que absorve a água próxima. Então cabe aos adultos
ser esse exemplo para que a criança possa absorver os conceitos de bem. Fácil?
Pelo contrário. Esse “ser exemplo” requer uma análise aprofundada de nós como
seres humanos, dos nossos conceitos e da maneira como nos relacionamos com o
mundo. Em suma, requer obrigatoriamente que sejamos sempre melhores, em um
processo de evolução, para sermos melhores exemplos para os filhos.
Mas
aí chega a adolescência. O que faço com esse ser que dormiu terno e acordou
revoltado? Não esperem uma receita de bolo, porque primeiro não sou
especialista e segundo porque cada ser tem uma maneira e nem sempre o que
funciona para um, funciona para o outro. Mas apliquei algumas ferramentas ao
longo da educação dos meus filhos que reputo terem ajudado para uma
adolescência menos punk. Uma delas é a aproximação com o adolescente. Aquela
aproximação que tínhamos quando eram crianças. A nossa tendência, com a mudança
de fase, é o afastamento e a famosa frase: “vou sair de perto até que a
adolescência acabe”. Penso que isso seja um erro, pois além de todos os medos,
incertezas e mudanças que o adolescente passa, ainda vê seus pais se afastarem
com se ele tivesse contraído uma doença contagiosa. A aproximação afetuosa é
muito importante para que o adolescente entenda que não está sozinho nessa, e
que existem pessoas que o amam e o ajudarão com suas dúvidas e incertezas. O
cuidado que temos que ter é para que essa aproximação não seja excessivamente controladora,
pois o adolescente necessita de espaço, e algo nesse sentido pode causar um
sentimento de revolta ainda maior e de clausura do adolescente. Tenha-os sempre
perto. Crie atividades para que eles possam participar e momentos especiais
como seções familiares para assistirem filmes ou escutarem música. Esses
momentos costumam suscitar aquele afeto que sentiam quando criança e fazem com
que amenizem seus medos. Aproximação e não afastamento.
Escutem
seus adolescentes. Imaginem que eles estão passando por um momento em que os
pensamentos alheios que tinham quando criança estão sendo atropelados pelos
pensamentos próprios. As certezas da fase infantil estão sendo substituídas pelas
dúvidas. O conforto e acolhimento sendo suplantados pelos afastamentos e
estranhezas. Isso tudo dentro da mente de um ser que ainda está em formação. Aí
vocês imaginam a necessidade que eles têm de se expressar e contar a alguém
como está sendo difícil esse momento. E quem melhor para escutar que os pais? Mas
uma escuta inteligente é necessária. Sem julgamentos. Sem o espanto e a incredulidade.
Sem a tentativa de adestramento. Sem o “no meu tempo não era assim”. Uma escuta
que dê amparo e mostre ao jovem que alguém se importa com ele. Além das
conversas uma coisa que ajuda muito é o pai entrar no universo do adolescente.
Mais uma vez ressaltando que não de forma intrusiva. Procure conhecer as
músicas que ele escuta, as diversões que ele gosta, os jogos que ele joga.
Proponha aprender com ele. Solicite que ele te conduza a esse mundo particular
que é a mente do adolescente. Dessa forma ele se sentirá útil e seguro de si.
Escuta e não julgamento.
Entendo
não ser um desafio fácil a ser enfrentado pelos pais e muito menos pelo
adolescente. O entendimento que todos nós passamos por essa fase na vida, e
sobrevivemos ao final, acalenta um pouco nosso ser, porém a qualidade como
passamos por essa fase da adolescência é que tem que ser observada e
enfrentada. Senão ao final teremos jovens e adultos recrudescidos e afastados
dos conceitos de bem que receberam quando criança. E essa responsabilidade de
guiar o jovem ser nesse caminho tortuoso é nossa como pais. Terceirizar a
educação de nossos filhos talvez seja a maior causa de desalento entre a
juventude e não enfrentar essa responsabilidade fere de morte a função de pais
e educadores. É preciso enfrentar com coragem e perseverança, para que não
possamos em momentos como esses, nos assombrar com a cruel realidade de uma série,
mas ao contrário, termos certeza da nossa contribuição para o bem de nossos
filhos. O restante é tapar o sol com a peneira.
Guilherme
Augusto Santana
Goiânia, sexta feira 04 de abril de 2025