Os ciclos e os círculos
Ainda
pode falar de bebê reborn ou já é assunto antigo? Porque se ainda puder falar
vou discorrer minha opinião. Mas antes, para não perder o costume, vou contar
uma história. Em 2015 levei minha filha mais velha para se apresentar no Carnegie
Hall em NYC, e entre tantas coisas que fizemos na Big Apple, fomos visitar (e
comprar também) uma loja de bonecas que era a sensação naquela época: American
Girl. O pai bobo aqui achou que seria uma loja comum de bonecas, mas eis que se
deparou com um prédio imenso de quatro pavimentos em plena quinta avenida.
Embasbacado fiquei. Mas isso tudo aqui é para vender uma boneca? Quando entrei
vi que não se tratava de venda e sim de sonho. Aquelas meninas entravam pela
porta e mergulhavam num mundo de desejo e realização. E os pais num mundo de
trevas e gasto de dinheiro. Cada andar que subíamos eu me surpreendia mais e
mais. Salão de beleza para bonecas e “mães”, maternidade e adoção de bebês, pet
shop para os pets das bonecas, restaurante, entre outros. Naquele momento,
diante de toda aquela exposição, tive um breve pensamento sociológico para onde
a humanidade estava caminhando e como a comunicação em redes sociais exponenciava
essa relação humana. Também recordei das “paixões” que a minha geração acalentou
e de como a teoria de que tudo era cíclico ficava mais presente naquele
momento. Tive que comprar (claro) uma boneca para a pequena e mais um monte de acessórios
e isso ficou no passado.
Quando voltamos ao presente, pensando na
questão cíclica apresentada na história narrada e no tema da crônica, faço algumas
perguntas: seria algum tipo de patologia a adoção de uma boneca como se um
humano fosse? Nesse ponto permitam-me outro questionamento: e os pais de pet e
de plantas não estão na mesma categoria “patológica” dos pais de bebê reborn?
Vamos ampliar mais a discussão: não estariam também nessa classe os cultuadores
de cirurgia plástica e procedimentos estéticos? E os mega expostos das redes
sociais? Prefiro não entender essas manifestações como patologias ou doenças
psicológicas, mas como a falta de algum elemento. O afeto é um deles. Pode
causar a retração do ser ou a tentativa de distribuição de maneira irracional.
Humanidade é outro elemento. A falta dele pode trazer junto a antipatia. A
simplicidade e o altruísmo também entram nessa lista. A falta desses elementos
provoca vaidade e ego. E a hiperexposição na verdade pode estar mascarando uma
baixa autoestima. No fim das contas também não podemos tomar isso tudo como
inédito, pois a humanidade está cansada de passar por esses momentos em que a
falta de certos elementos expõe os seres a situações quase ou totalmente
vexatórias. Sem sentido. E sem sentido também as reações exageradas a essas
situações, colocando barreiras e classificando as pessoas que padecem dessa
carência como doidas, párias ou desajustadas. Excluindo-os do seu círculo,
criando guetos invisíveis de pensamentos humanos. Todos, os de dentro e de fora
do círculo, padecendo do mesmo mal, qual seja, a falta de algum elemento
formador do caráter humano.
Já
que todos sofremos do mesmo mal e quando digo todos, não estou me excluindo,
sigamos o mesmo caminho de aquisição do que nos falta. Somente um processo de
autoconhecimento pode levar a humanidade a se embrenhar nesse caminho de
evolução. Fácil? Tenho certeza que não. Mas só pelo fato de entendermos que
somos todos carecedores de elementos, passamos a ser empáticos e a entender que
todos fazemos parte da mesma jornada. Dessa forma o julgamento pode ser
substituído pelo acolhimento. Pensemos sobre isso.
Guilherme
Augusto Santana
Goiânia, sexta feira 05 de junho de 2025
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