Cuidareis de sua casa
Aproveitando o dia morno e parado pelo feriado do dia dos funcionários públicos, apesar de não o ser, fui beber direto da fonte da sabedoria. Coisas de sexta. Conversa sem pretensões e sem responsabilidades com uma das maiores cabeças pensantes do nosso país. Daquelas conversas que poderiam perfeitamente acontecer em um boteco ou mesmo em um restaurante caro na capital federal, logicamente diferindo o valor da conta a ser paga no final. Junto comigo no bate papo, encontrava-se meu pai, que tinha a mesma faixa etária de nosso interlocutor. Como sempre, começa-se a conversa com as amenidades e as perguntas do tipo “onde está fulano?”, “você tem visto sicrano?”, “bons tempos aqueles!”. E o cidadão que vos fala já na impaciência para adentrar logo ao assunto. Espera a deixa para introduzir o real motivo da conversa. E conversa vai. E conversa vem. Quando não obstante, entram no assunto de meio ambiente e progresso. O cidadão que vos fala, mudo. Lembra-se do ditado de que se tem duas orelhas e somente uma boca para escutar mais e falar menos. Vamos escutar. É nessas horas que percebo que a sabedoria está nas entrelinhas. Na frase dita com convicção que provoca uma reação em outrem. Mas não aquela reação cega de gado sendo espetado, mas sim aquela reação que te faz pensar. Aquela que te mostra um cenário diferente do que você considera o modelo perfeito. Aquela que harmoniza conceito e vivência. Mesmo que não seja o seu conceito e nem a sua vivência. Mas qual ponto de vista está correto? O seu ou o deles? A resposta é nenhum. Nem o do seu pai, nem o seu e nem o do seu filho. Ficou confuso? Imagina eu que tentava entender isso no meio da conversa?!?!
Cresci escutando sobre a fase de ouro de crescimento do país e de como demos um salto de desenvolvimento rumo ao progresso. Tudo em nome da natureza, afinal o homem também faz parte da natureza. Também escutei muito que as gerações de hoje se preocupam mais com os animais e as árvores do que com o ser humano e suas necessidades. Escutei também que o progresso do país está travado pelos ambientalistas ecochatos e suas ONG´s patrocinadas pelos países de primeiro mundo que não querem ver nosso país crescer. Discursos e discursos. Também cresci vendo os efeitos dos desmazelos com o meio ambiente. Esses eu tenho notado. Climas endoidecendo. População mundial crescendo. Miséria aumentando. Recursos naturais diminuindo. Talvez a minha geração seja a primeira a perceber isso. E não venhamos com idealismo de dizer que o fizemos por consciência. Não foi. Foi por necessidade. Por estarmos sofrendo na pele os primeiros efeitos da chamada deteriorização global. A minha geração não era sustentável, ela está tentando se tornar sustentável. As duras penas, diga-se de passagem. Então às vezes quando escuto as gerações anteriores dizerem que estamos exagerando e que estamos de certa forma impedindo o progresso do país, sinto um certo choque. Mas aí reside o ponto nevrálgico do parágrafo anterior. Quem será que está certo? Será que a geração anterior a de meus pais é que estava certa ou será a dos meus filhos? A resposta é a mesma. Nenhuma. E me reservo o direito de complicar mais um pouquinho. Todos estão certos. Aí que bagunçou mesmo né? Pois tento esclarecer. Cada geração agiu baseada no momento que estava vivendo. Reagiu às necessidades que se apresentavam para o instante. Coube a nossa geração enxergar que sem sustentabilidade, não chegaríamos a lugar nenhum. Aliás, essa geração chegaria ao fim, mas as próximas não teriam início. E como temos dois instintos muito fortes gravados em nosso DNA: Sobrevivência e perpetuidade, estamos tentando, volto a negritar, as duras penas, deixar um planeta mais consciente para os próximos. Isso é fácil? É rápido? Infelizmente não. A evolução é lenta e gradual. Mas tenho certeza que ela se refletirá nas futuras gerações. Vejo nos meus filhos a mudança. Isso é meu maior alento. Tenho certeza que um dia estaremos nos mesmos papéis que hoje me encontro com meu pai. E ficarei extremamente orgulhoso se eles pensarem que seu pai está ultrapassado e saudosista, como penso muitas vezes do meu. Sinal de que a evolução está acontecendo.
Guilherme Augusto Santana
Goiânia, 28de outubro de 2011