Segue o cortejo.
Poucos dias atrás, eu conversava com uma amiga sobre a arte da escrita dos obituários. Ela me recomendou um livro sobre o assunto e eu prontamente adquiri e comecei a desfrutá-lo. “O livro das Vidas” é uma compilação de obituários publicados no The New York Times e que demonstram com peculiaridades, um traço pitoresco da cultura americana. Confesso que como sou da área funerária, bateu-me a vontade de experimentar a arte e aproveito o falecimento de tão nobre figura do cenário mundial para fazer meu intróito. Espero que ele, o falecido, não leia.
Jobs por O Coveiro
Steve Paul Jobs nasceu em São Francisco, uma cidade sem preconceitos na ensolarada Califórnia, onde se toma um belíssimo vinho escutando jazz da mais alta qualidade, nos idos do ano de 1955. Esse fato parece até ironia, pois nesse mesmo ano morreria outro grande gênio da humanidade. Albert Einstein. Há de se imaginar que nada nesse mundo é por acaso. Filho de uma americana e um imigrante sírio, estava fadado ao insucesso quando seus pais o deram para adoção por não conseguirem pagar sua faculdade. Outra ironia do destino, pois ao que me consta, após a adoção, os altos custos da Faculdade do Oregon o fizeram abandonar os estudos. Talvez fosse seu destino vencer na vida sem o embasamento estudantil de uma faculdade americana. Talvez fosse melhor assim.
Nos idos dos anos 70, enquanto os hippies estavam pregando a paz e o amor livre, o pequeno Jobs criou a Apple, junto com o amigo Wozniak. Isso também não quer dizer que ele não tenha tomado LSD e participado de Woodstock, mas com certeza isso não queimou seus neurônios e nem o fez andarilho vendedor de pulseiras de fibra na praia. Menos mal. Se bem que algumas de suas criações pareciam estar sobre o efeito de alucinógenos. Deixemos de lado. A escolha da maça mordida como símbolo também não pareceu obra do acaso, visto que representa o pecado em forma de fruta. Deixemos de lado também. Entre encontros e desencontros, Jobs idealizou vários conceitos que iriam revolucionar o conceito do homem moderno sobre comunicação. E talvez essa rapidez e facilidade de comunicação o tenham colocado na berlinda da exposição mundial quando da sua doença. Convenhamos que Jobs era um quase desconhecido para a maioria da população mundial no começo dos anos 2000. Os seus inventos o fizeram ser personagem de um BBB de agonia. E talvez para sustentar esse sistema bilionário de tecnologia, ele tenha negligenciado sua saúde e apressado o seu encontro com a morte. Vai saber né?
Eu confesso que não gostava de Jobs até pouco tempo atrás, pois tive que carregar um Macintosh dentro da mochila, vindo dos Estados Unidos e quando cheguei no Brasil a porcaria não funcionava direito. Tudo bem que estávamos nos idos de 1994, mas não aplacou minha decepção com a Apple e com seu criador. Mas hoje vejo que o erro não estava em Jobs. O erro estava em nós, brasileiros, que não estávamos preparados para essa tecnologia. Hoje, com conceito mudado, nutro uma relação de amor com meus produtos Apple e consequentemente, nutro um respeito profundo por quem os criou. Logicamente se valer o meu testemunho pessoal.
Jobs faleceu em Palo Alto, na mesma Califórnia onde nasceu. Foi considerado o Rei do Vale do Silício. Deixa 8,3 bilhões de dólares de patrimônio. Um arqui-rival, Bill Gates. A esposa Laurene e quatro filhos. Além disso, deixa milhões de órfãos usuários de suas traquitranas que lutaram junto com ele para tentar vencer sua doença. Foi vencido pela morte física, mas deixa um patrimônio intelectual inapagável.
Guilherme Augusto Santana
07/10/ 2011
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