sexta-feira, 29 de junho de 2012

Mouros x Mouros

Caros amigos leitores

Estou postando uma crônica que foi escrita há cerca de 7 anos atrás. Naquela ocasião o fato midiático era o escandalo do mensalão. Nada mais atual, visto o início do julgamento do mesmo pelo STF. Não costumo ser cavaleiro do apocalipse então prefiro o "antes tarde do que nunca".

Feliz aniversário Mensalão!

Espero que gostem. 


MOUROS X MOUROS



         Estes dias, estava eu tomando um chá de cadeira aguardando algum Diretor de algum órgão público, quando chegou até minhas mãos um folheto que contava a história das cavalhadas, muito tradicional em todo estado de Goiás. Lendo aquele enredo, que até então conhecia pouco, me impressionei com a luta de Carlos Magno e seus Pares de França contra os temíveis Sarracenos, povos bárbaros que haviam invadido a Península Ibérica (hoje Portugal e Espanha), desde o século V da nossa era. Comecei a refletir se realmente seriam os Mouros (Sarracenos) tão terríveis assim a ponto de movimentar meio mundo cristão em seu combate, provocando uma das mais sangrentas guerras que foram as Cruzadas. Relembrando meus estudos de História, ministradas pela professora Selma, lembrei-me que os Mouros eram chamados bárbaros por não falarem a língua que se aplicava em Roma e também por terem “hábitos” estranhos ao Cristianismo, moda naquela época. O que me levou a refletir mais profundamente: Seriam os Sarracenos bárbaros? Ou melhor ainda: Quem seriam os bárbaros? Será que a História não tem o crédito de quem a conta? Será que no mundo Islâmico os papeis não são invertidos? O Bárbaro Carlos Magno e seus cristãos infiéis contra o protetor dos Mouros, o Sultão da Mauritânia? Mas como isso já passou e faz parte da história vamos mudar de assunto.

          Estes dias estava assistindo o jornal, não importa qual deles afinal todos dão as mesmas notícias, e me deparei com cenas típicas das Cruzadas. Cavaleiros se digladiando por causa nenhuma, lançando armas e acusações. De um lado os Mouros do PTB defendidos pelo Sultão da Mauritânia, neste ato representado pelo temido cantor de Brasília Roberto Jéferson e de outro os Cristãos do PT, amparados por seu nobre colega Carlos Magno, representado pelo então ex Ministro José Dirceu. Não esqueçamos de nominar os Pares de França: Sir Delúbio, Sir Marcos Valério, Sir Genuíno, Sir Palloci entre outros. Vi uma batalha sangrenta de palavras e acusações que beiravam a encenação, tal qual a das cavalhadas. Só faltavam uns vestidos de azul e os outros de vermelho para melhor identificar quem era quem. Tudo integralmente coberto pela imprensa, que convenhamos não dispensa uma batalha teatral.

         Mas antes de continuar esqueci-me de contar uma parte da História que é fundamental para nossa narrativa. Conta a história que havia uma mulher (não poderia faltar uma na história) que se chamava Floripes, e era filha do Sultão Mouro que é roubada pelo embaixador Cristão Oliveiros. Na nossa narrativa precisamos encontrar um personagem que se encaixe no perfil da bela dama que provavelmente era virgem e ingênua. Pronto está escolhido: Milady Lula! Nada mais ingênuo e puro. Se bem que a barba não se assemelha muito a das damas em geral. Mas, feito o adendo, voltemos a nossa narrativa.

         Eis que mal começada a batalha os Cristãos sofrem a primeira baixa. Carlos Dirceu Magno renuncia ao posto de comando e abre sua fortaleza ao saque do Sultão Jéferson. Mas afinal de contas não eram os Cristãos que deveriam ganhar a batalha e a mão de Milady Lula? Mas afinal quem são os Cristãos e quem são os bárbaros? Quem são os mocinhos e quem são os bandidos nesta história? E quem serão os vencedores para contar a sua versão vitoriosa no final? No fim das contas não conseguimos distinguir Mouros de Cristãos e o papel tão almejado de Carlos Magno troca de mãos a todo instante. Nem sabemos com certeza se Carlos Magno foi realmente um herói. Não sabemos distinguir quem tem boas intenções ou se alguém as tem. Somos todos, meio cristãos meio bárbaros. Fruto de uma cultura herdada, e não modificada, de querermos levar vantagem em tudo, de termos esta complacência, esta inércia diante de nossas deficiências culturais. Se na nossa vizinha Argentina acontecesse esta palhaçada, me desculpem o termo mas realmente temos palhaços contracenando, já teríamos milhares de mulheres batendo suas panelas em frente à Casa Rosada. Se ocorresse no Japão, metade dos ministros já teria cometido o harakiri. Porque que só no Brasil as coisas acabam em pizza? Difícil responder né? Ah! Deixa pra lá. Logo, logo chega o carnaval.

         Ao fim da história permanece na torre de seu castelo, enclausurada, ela, a Milady Lula, virgem, ingênua e pura a espera de um príncipe encantado que possa tirá-la deste mar de lama, quer dizer da torre, para que sejam felizes para o resto de suas vidas, ou para o fim das nossas.



Guilherme Augusto Santana

Goiânia, 06/07/2005

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Sustentabilidade

Caros leitores amigos

Banda Eva diz assim:

"Meu amor, olha só hoje o sol não apareceu
É o fim da aventura humana na Terra
Meu planeta adeus,
Fugiremos nós dois na arca de Noé
Olha bem meu amor no final da odisséia terrestre"


Será?


Sustentabilidade

Nunca se falou tanto essa palavra pelo mundo afora. Sustentabilidade. É sustentabilidade para cá, é sustentabilidade para lá e o termo vai se popularizando e ao mesmo tempo, se desgastando em seu real sentido. No meu tempo (não precisamos aqui explicitar o quanto isso representa em décadas), se chamava preservação. Foi também uma palavra muito utilizada nos meios acadêmicos e populares. Preservação da fauna, da flora, dos animais em extinção, da natureza de uma maneira geral. Junto com a palavra preservação veio uma outra. Radicalização. “Se é para preservar não podemos fazer mais nada”. Temos que estagnar os processos produtivos para resguardar o que ainda temos de recursos naturais. Incluem-se nisso a estagnação do crescimento populacional terrestre. Muito simples. Se precisamos preservar, não podemos consumir e consequentemente não podemos crescer. Aí percebemos um erro de conceito. O homem estava incluído na natureza. Como não percebemos isso antes?  Como preservar excluindo o ser humano? Impossível. Passamos anos acreditando que a palavra certa era preservação. Foram décadas perdidas em embates. Despertamos o monstro da radicalização por entendermos errado os problemas do mundo. Mas será que realmente foram perdidos os esforços? Será que a coexistência meio ambiente/homem não se beneficiou de forma nenhuma desse embate? Penso que tivemos ganhos. Só de conseguirmos entender com profundidade que o homem faz parte da natureza umbilicalmente, no meu ponto de vista, já é um ganho enorme. Afinal somos a única espécie pensante sobre a face da Terra. Cabe a nós o gerenciamento do boteco, mas sem esquecer que nós também fazemos parte dele. No mesmo barco em que estão a Floresta Amazônica, o mico leão dourado e a baleia jubarte, estão o Seu Zé, a Dona Joana e seus filhos. Entendido a verdadeira relação de participação no meio, surgiu o atual termo significativo que dá nome a crônica: Sustentabilidade. Habilidade de sustentar ou suportar algo. Permitir a permanência por um determinado tempo. Aí encontramos uma palavra que apimenta a relação. Tempo. Teremos tempos para implantar a tão famosa Sustentabilidade? Estamos à beira do colapso e a velocidade das mudanças é aquém das necessidades de sustentação? Seria o fim da aventura humana na Terra?

            É nesse meio de palavras da moda, palavras do passado e dúvidas que se realiza a Rio + 20. Conferência de Meio Ambiente e Sustentabilidade. Como o próprio nome diz, vinte anos depois da irmã mais velha Rio 92. Chefes de Estado, burocratas, ambientalistas, preservacionistas, ONGs, cidadãos comuns todos tentando conversar sobre o assunto. Tentando jogar a culpa em alguém. Tentando passar a responsabilidade para alguém. Como se a mesma não fosse compartilhada. Todos cobrando resultados e velocidade. Todos dando desculpas e justificativas. Todos não se entendendo sobre os conceitos. Será que conseguiremos avançar diante desse cenário? Não consigo responder essa pergunta. Consigo sim dar minha opinião. Pode ser que muitos achem que o que vou dizer aqui é retórica, mas a História está a meu favor. As mudanças de conceito no mundo são lentas. Graduais. Não adianta querermos imprimir uma velocidade que não se sustenta. Acabei de dar esse exemplo na substituição da palavra preservação por sustentabilidade. E isso levou décadas para ocorrer e mesmo assim ainda não descobrimos como implantar. As mudanças vêm com o passar das gerações. Paulatinas. A colheita vem depois do plantio e nem sempre na velocidade que desejamos. Se ainda temos tempo? Não posso garantir. Prefiro sempre o otimismo. Se estou sentindo a mudança? Estou. Sinto-a todos os dias com meus filhos. A minha palavra era preservação. A deles já é sustentabilidade. Tenho certeza que a geração deles terá maior conhecimento e consciência para comandar nosso planeta. Assim estamos plantando. Assim espero que colham.

Guilherme Augusto Santana

Goiânia, sexta feira 22 de junho de 2012

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Épocas passadas

Caros amigos leitores

Será que as notícias mudam em 60 anos?

espero que gostem.


Épocas passadas



Semana passada dei-me um descanso. Pescaria no meio do estado do Tocantins. Daquelas com contatos mínimos com a civilização e máximos com a natureza. Externa e interna. Saindo da bela cidade de Palmas, paramos para abastecer o carro e no folhar as revistas da loja de conveniências, uma me chamou a atenção. Tinha a foto do ex Presidente Getúlio Vargas na capa. Era uma edição da revista Época comemorativa dos 60 anos da Editora Globo. Não me contive. Comprei. Já que ficaria o fim de semana sem internet, ao menos as informações impressas. Lei de Compensação. De uma maneira muito interessante, os editores da revista dividiram a mesma em duas partes. A primeira metade com conteúdos do ano de 1952 e a outra metade com conteúdos de 2012. Um prato cheio para quem gosta de história (que é o caso desse que vos fala). Deparei-me com assuntos que eram tratados na época como a criação da Petrobrás e a tentativa do governo Vargas de insuflar o orgulho nacionalista sobre o ouro negro. A frase “O petróleo é nosso” era estampada nas manchetes e dava ao Brasil uma perspectiva de lugar ao sol no cenário global. Qualquer coincidência com o pré-sal ou qualquer coisa que o valha, nesse caso, não é coincidência. Outra notícia que chamou muita a atenção no ano de 52, foi sobre as enchentes na cidade de São Paulo e os problemas de mobilidade urbana nas grandes metrópoles. Destaco um trecho da reportagem: “Para quem acredita em destino, um alento vem dos astros: de acordo com o calendário chinês, 1952 é o Ano do Dragão de Água. Desastres naturais são esperados nesse período. A sorte é que o próximo ano do Dragão de Água será apenas em 2012, quando certamente já teremos superado o problema das enchentes.”. Não dá vontade de rir? E parece que foi há tanto tempo! Olha outra nota interessante da década de 50: “O jogo do bicho se imiscuiu entre os parlamentares. Uma parte da bancada fluminense se tornou cliente das bancas de Magé. A outra aposta com os bicheiros de Teresópolis. Vai dar zebra.”. Fora a palavra “imiscuiu” a nota poderia se encaixar perfeitamente nos moldes da política nacional atual, só que dessa feita se alastrando além de fronteiras fluminenses. Reparem nessa: “O governo quer que os industriais paulistas reduzam em 30% o consumo de energia nos horários de pico. As medidas fazem parte de um pacote de racionamento. Pede-se às donas de casa que apaguem as luzes e evitem pegar o elevador no começo das manhãs e no final das tardes.”. E até hoje não conseguimos resolver o problema energético do Brasil. Passados 60 anos a notícia está atualíssima! E para terminar o apanhado de notas, cito uma que provocará risos (ou lágrimas): “Zumbe no Maranhão o advogado José Sarney. Com apenas 22 anos, ele chegou à Academia Maranhense de Letras. O caminho foi aberto com versos feitos para sua musa, Marly, com quem se casou em julho, em São Luiz. Ativo na política, Sarney faz ferrenha oposição ao governo local. Esse ainda vai dar trabalho.”. Sem palavras. Além de todas essas pérolas da década de 50, encontra-se uma belíssima crônica da escritora Raquel de Queiroz sobre o feminismo que aconselho a todas as mulheres lerem. Entrevistas simuladas com Carlos Lacerda e Nelson Rodrigues e reportagens internacionais sobre a morte de Evita Perón e a coroação da Rainha Elizabeth II fazem da revista uma leitura leve e contemporânea.  

Mas vamos ao cerne da questão, pois não é minha intenção relatar aqui todo o conteúdo da publicação e sim chegar a uma conclusão sobre ela. Espero que os que tiverem oportunidade de ler a revista, que o façam. No mínimo poderão fazer essa análise que ora realizo. Será que em 60 anos os problemas da sociedade brasileira e mundial foram solucionados? Ou ao menos mudados? Ou ao menos amenizados? A princípio, para quem lê as notícias dos idos de 50, pode chegar à conclusão que não. Tudo leva a crer que não evoluímos nada nesses 60 anos de história. Mas dou aqui a minha opinião. A vida de certa forma é cíclica e se move em forma de espiral. Sempre para cima. Por mais que tenhamos a impressão de estar passando pelas mesmas situações, essas estão em um patamar superior. Sempre evoluindo. De forma lenta e gradual. O segredo está em olhar para a parte de baixo da espiral e utilizar as experiências passadas para solucionar os problemas atuais. Tentar ao máximo dilatar a distância entre as voltas da vida. Porque a vida, impreterivelmente, dá voltas. Só não podemos permitir que as voltas terminem no mesmo lugar que começaram. Assim eu penso.                






Guilherme Augusto Santana

Goiânia, sexta feira 15 de junho de 2012

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Palavra

Amigos leitores

O poder da palavra.


Palavra

            

Não é novidade para ninguém que sou um entusiasta adepto das redes sociais e do mundo da internet. Que não me deixem mentir minhas contas do Face, Twitter, MSN, Whatsapp, Blogspot e afins. Fato que já me ocasionou grandes bônus, mas também grandes ônus. Coisas inerentes à vida. Tipo, tudo tem seu lado bom e seu lado ruim. O que sempre tenho dito, por meio das crônicas, é tentar aproveitar o lado bom dessa modernidade, sem esquecer que dentro de todo Dr. Jekyll, pode haver um Dr. Hyde à espreita. Tenho percebido, acompanhando as redes sociais, que esse canal estreitou as relações humanas. Antes para se conhecer a opinião de um pensador renomado, tínhamos que comprar um livro (e lê-lo logicamente) ou termos uma convivência amiúde com o mesmo. Tínhamos a amostragem das opiniões das pessoas que nos eram próximas e o mundo girava numa amplitude menor. Com o advindo do meio WWW pudemos experimentar o gosto de ler opiniões e ideias de todas as partes do mundo e de todos os tipos de pessoas. On line pudemos ler Arnaldo Jabor, Luis Fernando Veríssimo, Justin Bieber (baita pensador), Luciano Huck entre outros. Não nos atenhamos aqui a classes de fama e reconhecimento literário, mas de simples amostragem. Pois bem. O que nos trouxe essa abundância de opiniões? Coisas boas! Opa! Aprendi tanta coisa. Mas trouxe cada aberração. Cada monstruosidade. Cada piada. Cada lixo. Cada Dr. Hyde. São os ônus que havia dito. Mas a internet é livre não é? E ainda temos a famosa liberdade de expressão cantada em verso e prosa. “Vou é dar minha opinião. Se quiserem ler, leiam. Se não quiserem...”. E nosso universo foi inundado de ideias, opiniões, piadas e trocadilhos. Dos mais criativos aos mais infames. Deixando bem claro que a diferença de infame para criativo depende do ponto de vista de quem está lendo. Pois bem novamente. Será que todas essas coisas jogadas no mundo virtual vão tomar vida própria? Será que serão esquecidas como as folhas de jornal de ontem usadas hoje para enrolar peixe no mercado? Ou será que marcarão indelevelmente os interlocutores que a proferiram?

            Penso que a palavra tem uma força ainda incompreendida pelo ser humano. Logo ele o único ser a fazer uso da mesma de maneira consciente. Um atributo divino dado para servir de diferencial. Dado para ser usado com parcimônia. Com lucidez. Senão volta a assemelhar-se aos os grunhidos dos animais que possuem só o instinto para lhe servir. Aliás, é assim que me parecem certas opiniões. Grunhidos. Palavras desconexas como as proferidas por um papagaio que só consegue repetir textos decorados. Precisamos entender o peso da palavra dada. E as consequências da sua emissão. Senão passaremos a viver em uma torre de babel onde todos falam e ninguém escuta. Ou será que já vivemos?

Ao final podemos até escutar um sem número de opiniões, mas nos cabe a sabedoria de absorver aquelas que nos engrandece. Como as palavras do pensador e humanista Gonzáles Pecotche: “As palavras não devem ser esbanjadas, porque podem faltar quando for necessário que seu peso influa em algumas circunstâncias da vida.”.

Espero que minhas palavras não tenham sido em vão.      

           


Guilherme Augusto Santana
Goiânia, sexta feira 01 de junho de 2012