Estou postando uma crônica que foi escrita há cerca de 7 anos atrás. Naquela ocasião o fato midiático era o escandalo do mensalão. Nada mais atual, visto o início do julgamento do mesmo pelo STF. Não costumo ser cavaleiro do apocalipse então prefiro o "antes tarde do que nunca".
Feliz aniversário Mensalão!
Espero que gostem.
MOUROS X MOUROS
Estes dias, estava eu tomando um chá de
cadeira aguardando algum Diretor de algum órgão público, quando chegou até
minhas mãos um folheto que contava a história das cavalhadas, muito tradicional
em todo estado de Goiás. Lendo aquele enredo, que até então conhecia pouco, me
impressionei com a luta de Carlos Magno e seus Pares de França contra os
temíveis Sarracenos, povos bárbaros que haviam invadido a Península Ibérica
(hoje Portugal e Espanha), desde o século V da nossa era. Comecei a refletir se
realmente seriam os Mouros (Sarracenos) tão terríveis assim a ponto de
movimentar meio mundo cristão em seu combate, provocando uma das mais
sangrentas guerras que foram as Cruzadas. Relembrando meus estudos de História,
ministradas pela professora Selma, lembrei-me que os Mouros eram chamados
bárbaros por não falarem a língua que se aplicava em Roma e também por terem
“hábitos” estranhos ao Cristianismo, moda naquela época. O que me levou a
refletir mais profundamente: Seriam os Sarracenos bárbaros? Ou melhor ainda: Quem
seriam os bárbaros? Será que a História não tem o crédito de quem a conta? Será
que no mundo Islâmico os papeis não são invertidos? O Bárbaro Carlos Magno e
seus cristãos infiéis contra o protetor dos Mouros, o Sultão da Mauritânia? Mas
como isso já passou e faz parte da história vamos mudar de assunto.
Mas antes de continuar esqueci-me de contar
uma parte da História que é fundamental para nossa narrativa. Conta a história
que havia uma mulher (não poderia faltar uma na história) que se chamava
Floripes, e era filha do Sultão Mouro que é roubada pelo embaixador Cristão
Oliveiros. Na nossa narrativa precisamos encontrar um personagem que se encaixe
no perfil da bela dama que provavelmente era virgem e ingênua. Pronto está
escolhido: Milady Lula! Nada mais ingênuo e puro. Se bem que a barba não se
assemelha muito a das damas em
geral. Mas , feito o adendo, voltemos a nossa narrativa.
Eis
que mal começada a batalha os Cristãos sofrem a primeira baixa. Carlos Dirceu
Magno renuncia ao posto de comando e abre sua fortaleza ao saque do Sultão
Jéferson. Mas afinal de contas não eram os Cristãos que deveriam ganhar a batalha
e a mão de Milady Lula? Mas afinal quem são os Cristãos e quem são os bárbaros?
Quem são os mocinhos e quem são os bandidos nesta história? E quem serão os
vencedores para contar a sua versão vitoriosa no final? No fim das contas não
conseguimos distinguir Mouros de Cristãos e o papel tão almejado de Carlos
Magno troca de mãos a todo instante. Nem sabemos com certeza se Carlos Magno
foi realmente um herói. Não sabemos distinguir quem tem boas intenções ou se
alguém as tem. Somos todos, meio cristãos meio bárbaros. Fruto de uma cultura
herdada, e não modificada, de querermos levar vantagem em tudo, de termos esta
complacência, esta inércia diante de nossas deficiências culturais. Se na nossa
vizinha Argentina acontecesse esta palhaçada, me desculpem o termo mas
realmente temos palhaços contracenando, já teríamos milhares de mulheres
batendo suas panelas em frente à Casa Rosada. Se ocorresse no Japão, metade dos
ministros já teria cometido o harakiri. Porque que só no Brasil as coisas
acabam em pizza? Difícil responder né? Ah! Deixa pra lá. Logo, logo chega o
carnaval.
Ao fim da história permanece na torre
de seu castelo, enclausurada, ela, a Milady Lula, virgem, ingênua e pura a
espera de um príncipe encantado que possa tirá-la deste mar de lama, quer dizer
da torre, para que sejam felizes para o resto de suas vidas, ou para o fim das
nossas.
Guilherme Augusto
Santana
Goiânia, 06/07/2005