Habemus Mater?
O assunto do mês que não posso me
furtar em comentar é a renúncia do Papa Bento XVI. Tentarei fugir do meio comum
e entrar por um ponto de vista diferente. Não sou Ilze Scamparini que acompanha
o Pontífice de perto, nem teólogo que emenda mil teorias sobre seu afastamento
e muito menos fiel cego que acredita piamente na Santa Madre Igreja. Portanto
terão a análise de um qualquer. Alguém que tenta ver sobre outro ponto de
vista. Teorias muitas têm surgido para calçar a saída do chefe máximo da Igreja
Católica. Questões ligadas a sua saúde, ligadas ao seu conservadorismo, ligadas
à omissão e acobertamento de casos de pedofilia dentro da igreja, ligadas a
golpes e tentativas de tomada do poder, ligadas ao Banco do Vaticano e sua
ingerência e possível lavagem de dinheiro. Ou seja, questões que povoam o
imaginário popular. Ninguém precisa ser especialista para lançar sua opinião.
Nos bares, praças e igrejas, todo mundo tem uma teoria sobre a renúncia. Isto
posto, a distância que estamos de sabermos o que realmente acontece intramuros
no Vaticano. Aliás, diga-se de passagem, a maioria dos brasileiros (e aí penso
que a maioria dos católicos do mundo se encaixa) tem uma visão do Papa muito
distante. Forante a voz da Ilze e as missas rezadas na Praça de São Pedro, não
sabemos nada do Pontífice. Nada mesmo. E como advenho da crença cristã católica,
passando por quase todos os sacramentos (batizado, primeira comunhão, crisma,
matrimônio), tive a oportunidade de perceber a distância que a Igreja Católica
teve de seus fiéis nos últimos séculos. Haja vista a evolução corrente das
religiões de origem protestantes arrebanhando fieis por se imiscuir mais
profundamente nos anseios dos mesmos. Pude presenciar crises de identidade e
críticas vorazes ao conservadorismo e falta de adaptabilidade aos ditos “tempos
modernos” e perceber a morosidade e peso de uma instituição que caminha a
passos lentos e calculados. E ai culminamos numa situação em que a Igreja não
passava há mais de seis séculos. A renúncia de um Papa. E aí percebemos uma
comoção geral pela figura de Ratzinger. Todos abraçaram o Papa como se
estivesse à beira da morte. Discursos inflamados sobre sua atuação e o legado
que vai deixar. Citações sobre a coragem e a bravura diante da renúncia. O Papa
é nosso! A instituição Igreja é nossa! Escondamos as sujeiras debaixo do tapete
(que não são poucas) e proclamemos nossa fé inabalável na Santa Sé! Isso me faz
lembrar uma tese que minha avó defendia com unhas e dentes. “Sei todos os
defeitos do meu filho, mas ele não deixa de ser meu. E o defenderei com unhas e
dentes, mesmo sabendo de seus erros e suas falhas.” Essa é a representação máxima
do instinto materno. Aquele que defende a cria independente da situação. E a
Igreja, assim como outras religiões, é cria do homem. Foi forjada e pensada por
mentes humanas. Com o objetivo sim de alcançar Deus, mas concebida humanamente.
E aí me vem o questionamento. Será que não estava na hora de pararmos de agir
como mães instintivas e passáramos a agir como mães racionais e sensíveis? Não
estou dizendo para abandonarmos a cria, mas para fazermos uma análise profunda
sobre seu comportamento e sua atuação. A Igreja Católica, tal como está hoje (e
aí coloco todas as religiões e crenças de maneira geral), passaria por esse
crivo de racionalidade e sensibilidade materna? Habemus Mater?
Guilherme Augusto
Santana
Goiânia, sexta feira 22 de fevereiro de 2013