A gente não quer só
comida
Hoje fiz um programa inusitado com a
família. Daqueles que você fica um tempão prometendo e nunca cumpre. Pois bem.
Feito está. Peguei esposa, filhos e sogra e fomos ao Mutirama (para os que não
são de Goiânia, trata-se de um parque de diversões municipal). Tinha bem uns 30
anos que não entrava no parque. Talvez 30 seja exagero. Digamos que 29 seja mais
razoável. Pois bem. Desde sua remodelagem, fico escutando de longe os
comentários de ambas as partes. Os da oposição e os da situação. Logicamente
que cada um puxando brasa para sua sardinha. Escutei maravilhas e críticas
ferozes. Desde a montanha russa de segunda mão comprada a peso de ouro até
comparações com parques americanos. Logicamente que minha tendência a peneirar
comentários com ênfase política é bem ativo, então resolvi tirar a prova
pessoalmente.
Começamos com o estacionamento que é
pequeno e de difícil acesso (principalmente para quem estava acostumado com a
antiga entrada). Mas vejam só. Tem estacionamento! Coisa rara nos dias de hoje
nas grandes cidades. E é grátis e sem flanelinhas! Cheguei e parei meu carro.
Tranquilo. Ao comprar o ingresso quase caí de costas. R$ 10,00. Meia entrada R$
5,00. A primeira impressão que se tem é que deve ser um parque dos mais fubás.
Mas logo minha mente recobra o objetivo para o qual foi criado o mesmo. Um
parque municipal com entretenimento subsidiado. Pois bem. Dando uma geral
percebe-se uma boa quantidade de funcionários públicos cuidando dos brinquedos.
Sem uniforme e muitas vezes sem disposição de trabalho. Mas vejam só. Existem
funcionários públicos! Coisa rara em um parque público. Pois bem. Começamos com
os brinquedos mais leves e fomos aumentando o grau de dificuldade. Meus filhos,
que ainda não conhecem a Disney, estavam encantados. Montanha Russa, Roda
Gigante, Twister, Casa Fantasma, Autorama...não sabiam aonde ir primeiro.
Lembrei-me da minha infância. Lembrei-me o que o Mutirama representava.
Lembrei-me dos domingos. Dos lixos em formato de palhaço (não existem mais).
Dos bebedouros em formatos de bichos (não existem mais). Fui puxando um fio da
memória e relembrando momentos agradáveis passados debaixo daquelas árvores
(ainda existem). Resolvi brincar junto com os meninos. Dei-me esse direito
depois de 29 anos. Talvez 28.
Mas nem tudo são maravilhas. Os
brinquedos estão bem melhores, mas a manutenção continua falha. As normas de
segurança ainda precisam melhorar. As barracas de alimentos estão bem
controladas, mas ainda precisam de um ajuste da vigilância sanitária. A limpeza
está boa, mas ainda pode ser melhor. Mas isso só percebe quem é adulto. As
crianças parecem enxergar de outro jeito. Parecem enxergar de um jeito
particular. Com cores diferentes. Será que vamos perdendo essas cores quando
crescemos?
Muitos podem dizer que quando meus
filhos forem para Epcot, Universal, Bush Gardens entre outros, acharão o
Mutirama fraco e monótono. Pode ate ser. Essa criançada de hoje eleva seu nível
de exigência muito rápido. Coisa da modernidade. Mas vou dizer uma coisa. Eu
conheço a maioria desses parques americanos e não deixei de me emocionar e nem
de me divertir hoje. E vamos ser bem francos. Ele não foi feito com a intenção
de agradar famílias como a minha. Ele foi feito e revitalizado para aqueles que
não têm a oportunidade de conhecer outros. Então imaginem a alegria dessas
crianças ao brincarem nesse, que para elas, é a Disney. E para aqueles que
acham um absurdo serem gastos tantos recursos em um parque de diversões público,
eu cito Arnaldo Antunes, Marcelo Fromer e Sérgio Brito: “ a gente não quer só
comida, a gente quer comida, diversão e arte”.
Guilherme Augusto Santana
Goiânia, quarta feira 16 de fevereiro de 2013
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