sábado, 16 de fevereiro de 2013

a gente não quer só comida

Uma crônica de sábado com cara de nostalgia. Com Titãs e tudo.


A gente não quer só comida

 

            Hoje fiz um programa inusitado com a família. Daqueles que você fica um tempão prometendo e nunca cumpre. Pois bem. Feito está. Peguei esposa, filhos e sogra e fomos ao Mutirama (para os que não são de Goiânia, trata-se de um parque de diversões municipal). Tinha bem uns 30 anos que não entrava no parque. Talvez 30 seja exagero. Digamos que 29 seja mais razoável. Pois bem. Desde sua remodelagem, fico escutando de longe os comentários de ambas as partes. Os da oposição e os da situação. Logicamente que cada um puxando brasa para sua sardinha. Escutei maravilhas e críticas ferozes. Desde a montanha russa de segunda mão comprada a peso de ouro até comparações com parques americanos. Logicamente que minha tendência a peneirar comentários com ênfase política é bem ativo, então resolvi tirar a prova pessoalmente.  

            Começamos com o estacionamento que é pequeno e de difícil acesso (principalmente para quem estava acostumado com a antiga entrada). Mas vejam só. Tem estacionamento! Coisa rara nos dias de hoje nas grandes cidades. E é grátis e sem flanelinhas! Cheguei e parei meu carro. Tranquilo. Ao comprar o ingresso quase caí de costas. R$ 10,00. Meia entrada R$ 5,00. A primeira impressão que se tem é que deve ser um parque dos mais fubás. Mas logo minha mente recobra o objetivo para o qual foi criado o mesmo. Um parque municipal com entretenimento subsidiado. Pois bem. Dando uma geral percebe-se uma boa quantidade de funcionários públicos cuidando dos brinquedos. Sem uniforme e muitas vezes sem disposição de trabalho. Mas vejam só. Existem funcionários públicos! Coisa rara em um parque público. Pois bem. Começamos com os brinquedos mais leves e fomos aumentando o grau de dificuldade. Meus filhos, que ainda não conhecem a Disney, estavam encantados. Montanha Russa, Roda Gigante, Twister, Casa Fantasma, Autorama...não sabiam aonde ir primeiro. Lembrei-me da minha infância. Lembrei-me o que o Mutirama representava. Lembrei-me dos domingos. Dos lixos em formato de palhaço (não existem mais). Dos bebedouros em formatos de bichos (não existem mais). Fui puxando um fio da memória e relembrando momentos agradáveis passados debaixo daquelas árvores (ainda existem). Resolvi brincar junto com os meninos. Dei-me esse direito depois de 29 anos. Talvez 28.

            Mas nem tudo são maravilhas. Os brinquedos estão bem melhores, mas a manutenção continua falha. As normas de segurança ainda precisam melhorar. As barracas de alimentos estão bem controladas, mas ainda precisam de um ajuste da vigilância sanitária. A limpeza está boa, mas ainda pode ser melhor. Mas isso só percebe quem é adulto. As crianças parecem enxergar de outro jeito. Parecem enxergar de um jeito particular. Com cores diferentes. Será que vamos perdendo essas cores quando crescemos?

            Muitos podem dizer que quando meus filhos forem para Epcot, Universal, Bush Gardens entre outros, acharão o Mutirama fraco e monótono. Pode ate ser. Essa criançada de hoje eleva seu nível de exigência muito rápido. Coisa da modernidade. Mas vou dizer uma coisa. Eu conheço a maioria desses parques americanos e não deixei de me emocionar e nem de me divertir hoje. E vamos ser bem francos. Ele não foi feito com a intenção de agradar famílias como a minha. Ele foi feito e revitalizado para aqueles que não têm a oportunidade de conhecer outros. Então imaginem a alegria dessas crianças ao brincarem nesse, que para elas, é a Disney. E para aqueles que acham um absurdo serem gastos tantos recursos em um parque de diversões público, eu cito Arnaldo Antunes, Marcelo Fromer e Sérgio Brito: “ a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte”.

 

 Guilherme Augusto Santana

Goiânia, quarta feira 16 de fevereiro de 2013

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