Provérbios, ondas e
tsunamis
Diz um provérbio antigo que: “água
morro abaixo, fogo morro acima e mulher quando quer dar... ninguém segura”. Aí
muitos dos leitores podem estar se perguntando o porquê da citação de tal frase
um tanto quanto chula pelo que vos escreve. Explico. Ele, o provérbio, reflete
literalmente o cenário político brasileiro da atualidade. Às vésperas de uma eleição
para Presidente, um fator emocional modificou todo o panorama das intenções de
voto para o cargo majoritário da República. Quem estava sentado ficou em pé,
quem estava em pé começou a correr e alguns viram seus pontos de IBOPE se
desfazerem como gelatina em água. Esse fenômeno não é novo na História política
do país. Recordo-me da onda verde amarela para eleger um político de um Estado
pobre do nordeste nos idos de 1989. A campanha de Fernando Collor foi um
exemplo flagrante de uma onda política que se avolumou e depois se tornou
impossível deter. Poderíamos até considerar a eleição do mais jovem Presidente
da República como desvio padrão, visto que foi o primeiro pleito direto para
Presidente depois de 21 anos de ditadura militar. Mas existiram outros casos de
ondas políticas detectadas nas eleições. Em 1997 o jovem Deputado Federal, até
então desconhecido da maioria da população de Goiás, Marconi Perillo viu-se
alçado a candidatura de Governador em embate com o maior fenômeno político do
Estado até então, Iris Rezende Machado. Parecia história certa, porém uma onda
azul de mudança tomou conta do eleitorado, e o que parecia impossível tornou-se
realidade. O menino da camisa azul que começara o pleito com 5% das intenções de
voto consagrou-se vencedor. Muitas análises foram feitas sobre o fenômeno
político, mas no entendimento precário deste cronista, a vontade de mudança
prevaleceu em todos os aspectos. E aí vemos uma fragilidade da onda política. O
desejo de mudança não olha a quem. Em momento algum se olhou a capacidade dos
postulantes ao cargo, e sim um desejo de algo diferente do status quo. Não faço
aqui uma análise opinativa sobre capacidades administrativo-políticas dos
candidatos à época, e sim tento vislumbrar a cegueira com que a onda política
passa por cima dos incrédulos. Pois bem. Hoje vislumbramos esse cenário. Diria
até que não temos uma onda e sim um tsunami que se avizinha sobre as eleições. Uma
insatisfação generalizada que eclodiu em movimentos de rua no ano passado aliados
a números pífios da economia estão alimentando esse tsunami. Mais uma vez volto
a afirmar. Não é tanto o problema com a Presidenta e com o partido que ela
lidera, mas um desejo de ver algo novo. Assim como os tucanos viram a onda
vermelha se abater sobre suas cabeças na eleição do Presidente Lula, os
petistas veem a onda verde de Marina Silva chegar a seus joelhos. E como o
ditado mesmo diz, esses fenômenos ninguém segura. Resta saber se o tsunami se
mantém até as eleições e se a devastação provocada por ele irá afetar o que já
conquistamos em termos de estabilidade e democracia. Como todo fenômeno da
natureza, a onda política trás a mudança, mas também a destruição do já
estabelecido. Resta avaliarmos se é isso mesmo que queremos.
Guilherme Augusto
Santana
Goiânia, sexta feira 05 de setembro de 2014
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