sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Provérbios, ondas e tsunamis


Provérbios, ondas e tsunamis

 

 

            Diz um provérbio antigo que: “água morro abaixo, fogo morro acima e mulher quando quer dar... ninguém segura”. Aí muitos dos leitores podem estar se perguntando o porquê da citação de tal frase um tanto quanto chula pelo que vos escreve. Explico. Ele, o provérbio, reflete literalmente o cenário político brasileiro da atualidade. Às vésperas de uma eleição para Presidente, um fator emocional modificou todo o panorama das intenções de voto para o cargo majoritário da República. Quem estava sentado ficou em pé, quem estava em pé começou a correr e alguns viram seus pontos de IBOPE se desfazerem como gelatina em água. Esse fenômeno não é novo na História política do país. Recordo-me da onda verde amarela para eleger um político de um Estado pobre do nordeste nos idos de 1989. A campanha de Fernando Collor foi um exemplo flagrante de uma onda política que se avolumou e depois se tornou impossível deter. Poderíamos até considerar a eleição do mais jovem Presidente da República como desvio padrão, visto que foi o primeiro pleito direto para Presidente depois de 21 anos de ditadura militar. Mas existiram outros casos de ondas políticas detectadas nas eleições. Em 1997 o jovem Deputado Federal, até então desconhecido da maioria da população de Goiás, Marconi Perillo viu-se alçado a candidatura de Governador em embate com o maior fenômeno político do Estado até então, Iris Rezende Machado. Parecia história certa, porém uma onda azul de mudança tomou conta do eleitorado, e o que parecia impossível tornou-se realidade. O menino da camisa azul que começara o pleito com 5% das intenções de voto consagrou-se vencedor. Muitas análises foram feitas sobre o fenômeno político, mas no entendimento precário deste cronista, a vontade de mudança prevaleceu em todos os aspectos. E aí vemos uma fragilidade da onda política. O desejo de mudança não olha a quem. Em momento algum se olhou a capacidade dos postulantes ao cargo, e sim um desejo de algo diferente do status quo. Não faço aqui uma análise opinativa sobre capacidades administrativo-políticas dos candidatos à época, e sim tento vislumbrar a cegueira com que a onda política passa por cima dos incrédulos. Pois bem. Hoje vislumbramos esse cenário. Diria até que não temos uma onda e sim um tsunami que se avizinha sobre as eleições. Uma insatisfação generalizada que eclodiu em movimentos de rua no ano passado aliados a números pífios da economia estão alimentando esse tsunami. Mais uma vez volto a afirmar. Não é tanto o problema com a Presidenta e com o partido que ela lidera, mas um desejo de ver algo novo. Assim como os tucanos viram a onda vermelha se abater sobre suas cabeças na eleição do Presidente Lula, os petistas veem a onda verde de Marina Silva chegar a seus joelhos. E como o ditado mesmo diz, esses fenômenos ninguém segura. Resta saber se o tsunami se mantém até as eleições e se a devastação provocada por ele irá afetar o que já conquistamos em termos de estabilidade e democracia. Como todo fenômeno da natureza, a onda política trás a mudança, mas também a destruição do já estabelecido. Resta avaliarmos se é isso mesmo que queremos.   

   
 

 

Guilherme Augusto Santana

Goiânia, sexta feira 05 de setembro de 2014

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