Francisco, Joaquim,
Antônio e outros brasileiros
Batizado Francisco, porque não
haveria de ser aceito seu nome africano, Zumbi nasceu na Serra da Barriga,
antiga capitania de Pernambuco. Isso tudo do meio para o fim dos anos 1600. Nascido
dentro do Quilombo dos Palmares, desde cedo se mostrou um bravo guerreiro e
teve por destino assumir o comando do quilombo até a sua extinção nos idos de
1694. Foragido só conseguiu resistir até o dia 20 de novembro de 1695 quando
foi preso, morto, decapitado e levado as autoridades para comprovação do feito.
Zumbi poderia ter sido confundido com milhares de negros que foram despejados
no Brasil da era colonial e que perderam suas vidas lutando pela vida dos
conterrâneos. Milhares e milhares que morreram anonimamente sem ao menos uma
lápide para guardar a memória de seus nomes. Assim poderia ter sido Francisco.
Mas quis o destino que a coroa portuguesa amargasse 95 anos de resistência do quilombo
mais famoso da história brasileira e transformasse seu último líder em mártir.
Entrou para História e para os livros de História. Foi um cidadão que
provavelmente não quis livrar o Brasil do julgo português mas sim ter uma vida
liberta para seus pares.
Batizado Joaquim, porque havia de
ser filho legítimo de portugueses, Tiradentes nasceu no Distrito de Pombal,
antiga Capitania de Minas Gerais. Isso tudo do meio para o fim dos anos 1700. A
alcunha veio do ofício de dentista, que por sinal não foi o único, tendo
exercido as ocupações de tropeiro, minerador, comerciante, militar e por
derradeiro mártir (ou bode expiatório para o lado B). Conseguiu resistir até 21
de abril de 1792 quando foi executado, esquartejado e teve seu sangue utilizado
para lavrar a certidão de cumprimento de sua sentença, julgado pelo crime de
lesa-majestade. Tiradentes foi um dos muitos que se voltou contra o julgo e a
sede de riquezas da coroa portuguesa. As veias abertas do ouro e pedras
despejando além Tejo enquanto a maioria dos brasileiros vivia na precariedade. Milhares
e milhares que lutaram pelas injustiças instituídas e não tiveram nem uma linha
escrita nos livros. Assim poderia ter sido Joaquim. Mas quis o destino que seu
nome estivesse no meio de outras tantas figuras importantes e, por menor
hierarquia, fosse dado de boi de piranha a sanha de “justiça” dos portugueses.
Entrou para a História e para os livros de História. Foi um cidadão que
provavelmente quis livrar o Brasil do julgo de seus ascendentes, mas com
certeza queria mesmo era não ser vilipendiado com os impostos exorbitantes.
Batizado Antônio, porque seus pais
religiosos faziam questão, Conselheiro nasceu na cidade de Quixeramobim, antiga
Província do Ceará Grande. Isso tudo do meio para o fim dos anos 1800. Parece
que sua sina estava ligada a religiosidade e penitencia, pois além do desejo atroz
de seus pais pela vida clerical, fez-se seu ofício a advocacia dos pobres e
desvalidos. O infortúnio da descoberta da traição de sua esposa levou Antônio
Conselheiro a se exilar na região de Sobral onde lhe restou a penitência e a
peregrinação. Muitos se juntam a ele, já um fora da lei, e surgiu então o
Arraial de Canudos, renomeado pelo seu criador como Belo Monte. Tornou-se
desafeto do recente governo republicano por supostamente abrigar recém-libertos
escravos, pobres de toda ordem e fanáticos religiosos que viam em Conselheiro um
milagreiro do sertão. Conseguiu resistir até 22 de setembro de 1897 quando
morreu de causas desconhecidas. Matado ou morrido. Teve o túmulo profanado, a
cabeça cortada e levada à Faculdade de Salvador para estudos. Nunca mais se
juntou corpo e cabeça. Conselheiro foi dos muitos que por uma desilusão pôs-se
a peregrinar e juntar os desvalidos em torno de suas asas como um pai que
alenta o sofrimento alheio. Milhares e milhares que lutaram pelos mais pobres e
nunca tiveram seu busto na praça de nenhum pobre vilarejo. Assim poderia ter
sido Antônio. Mas quis a República do Brasil que ele servisse de exemplo para
todos aqueles que ousassem enfrentar o novo e garboso Estado Republicano.
Entrou para a História e para os livros de História. Foi um cidadão que
provavelmente não quis retornar à monarquia, mas tão somente dar alento ao
sofrimento dos desvalidos.
Levando
em consideração as descrições acima responda a seguinte questão do ENEM:
1) Apesar de se tratarem de três figuras
históricas ilustres, somente um deles foi alçado ao posto de herói brasileiro,
tendo sido agraciado com um feriado nacional por ordem da sua data de
falecimento e também cidade batizada com seu nome. Baseado no conhecimento da
sistemática de produção da História Brasileira, em consonância com o
preconceito racial ainda predominante no país e com a intolerância religiosa
crescente na sociedade brasileira, e ainda coadunando com a máxima de que “a
História é escrita pelos vencedores”, de qual desses personagens estamos nos
referindo?
Vale
uma balinha.
Guilherme Augusto
Santana
Goiânia, sexta feira 21 de novembro de 2014
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