sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

doença ou cura?


Doença ou cura?

 

            Estava eu, nessa manhã, comprando apressadamente um suco na padaria perto da escola dos meus filhos (porque filho lembra que tem que levar as coisas para escola na última hora) quando, no caixa, vi fixado um cartaz com os dizeres: “contrata-se atendente – salário + vale transporte + vale alimentação – tratar aqui”. Parece um cartaz normal não é? Mas não é. A letra que oferece o vale alimentação está o dobro do tamanho da letra que oferece o salario e o vale transporte. Por quê? Um turbilhão de reflexões me veio à mente. Vale uma crônica. Ô se vale.

            Nunca antes na História desse país se discutiu tanto sobre programas sociais. As chamadas bolsas assistencialistas encontram defensores árduos e críticos vorazes, além de uma massa que é beneficiada e logicamente aquiesce do fato. Esse Estado paternalista foi institucionalizado por Getúlio Vargas em meados de 1900 que consolidou as leis trabalhistas através do decreto lei 5.452 de 01/05/1943 que garantiu direitos básicos dos trabalhadores. Como um processo de evolução, esse modelo migrou para os benefícios assistencialistas, como alimentação, escola, gás entre outros, sendo muito explorados politicamente pelos partidos que implantaram ou se apropriaram desse viés. Em virtude disso, houve uma institucionalização das bolsas, bastante percebido nas eleições de 2014, onde quem não se alinhou a continuidade dos benefícios perdeu pontos e principalmente votos. Resumindo, as bolsas assistencialistas se incorporaram extra oficialmente a CLT. São direitos incontestes dos trabalhadores e não trabalhadores. Os defensores do modelo pregam que existe uma próxima fase, que seria a qualificação do cidadão beneficiado para que ele possa se despregar da bolsa e consiga caminhar pelas próprias pernas. Seria o famoso “não dar o peixe, mas ensinar a pescar”. Ainda nessa linha os defensores argumentam que “ensinar a pescar” um cidadão que passa fome e privações básicas, não resolveria o problema, e por isso, necessitaria de um estágio anterior justificando o benefício das bolsas. Os críticos defendem a ideia que não passa de uma ação politiqueira que utiliza da máxima do estado romano do “pão e circo” para alienar a população e transformá-la cada vez mais em massa de manobra. Além disso, criticam a falta de evolução para a próxima fase de descolamento colocando dúvidas se realmente os assistencialistas querem essa evolução ou simplesmente almejam manter a população sob sua asa paternalista. Coisa que também não seria novidade, já que o então “pai dos pobres” Getúlio, já fazia isso desde o começo do século XX.

            Qual a minha opinião? Posso exprimir em uma palavra. Decepção. Isso me acomete quando vejo um cartaz de oferta de emprego que tem como principal atrativo o assistencialismo. Salário, vale transporte, vale alimentação, plano de saúde, plano odontológico, etc. Sou de uma geração que acredita na capacidade produtiva. Na remuneração por esforço e meta. Não quer dizer que não defenda com unhas e dentes benefícios para meus funcionários. Pelo contrário. Mas entendo que deve fazer parte do processo de remuneração. Tudo conversado previamente e acordado. Aquilo que é dado de graça sem anteceder o esforço e a dedicação se esvai depressa ou pouca valoração tem para quem recebe. Um trabalhador motivado que vista a camisa da empresa e cumpra suas metas deve ser bem remunerado através de seu esforço e de programas de distribuição de lucros das empresas. Assim ele poderá por seu mérito crescer e dirigir sua própria carreira sem necessitar de assistencialismo. A maioria dos empresários e trabalhadores pensa assim? Com certeza não. Utópico? Prefiro pensar que seja um objetivo de longo prazo. Melhor seguir assim do que andar pelo caminho que estamos trilhando, onde não temos certeza se estamos caminhando para a cura ou para a doença. Pensemos.      

 

# crônica dedicada ao amigo Jones

 

 

Guilherme Augusto Santana

Goiânia, sexta feira 05 de dezembro de 2014
 
 
 
 
 

 
 
 
 

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