Doença
ou cura?
Estava
eu, nessa manhã, comprando apressadamente um suco na padaria perto da escola
dos meus filhos (porque filho lembra que tem que levar as coisas para escola na
última hora) quando, no caixa, vi fixado um cartaz com os dizeres: “contrata-se
atendente – salário + vale transporte + vale alimentação – tratar aqui”. Parece
um cartaz normal não é? Mas não é. A letra que oferece o vale alimentação está
o dobro do tamanho da letra que oferece o salario e o vale transporte. Por quê?
Um turbilhão de reflexões me veio à mente. Vale uma crônica. Ô se vale.
Nunca
antes na História desse país se discutiu tanto sobre programas sociais. As
chamadas bolsas assistencialistas encontram defensores árduos e críticos
vorazes, além de uma massa que é beneficiada e logicamente aquiesce do fato.
Esse Estado paternalista foi institucionalizado por Getúlio Vargas em meados de
1900 que consolidou as leis trabalhistas através do decreto lei 5.452 de
01/05/1943 que garantiu direitos básicos dos trabalhadores. Como um processo de
evolução, esse modelo migrou para os benefícios assistencialistas, como
alimentação, escola, gás entre outros, sendo muito explorados politicamente
pelos partidos que implantaram ou se apropriaram desse viés. Em virtude disso,
houve uma institucionalização das bolsas, bastante percebido nas eleições de
2014, onde quem não se alinhou a continuidade dos benefícios perdeu pontos e
principalmente votos. Resumindo, as bolsas assistencialistas se incorporaram
extra oficialmente a CLT. São direitos incontestes dos trabalhadores e não
trabalhadores. Os defensores do modelo pregam que existe uma próxima fase, que
seria a qualificação do cidadão beneficiado para que ele possa se despregar da
bolsa e consiga caminhar pelas próprias pernas. Seria o famoso “não dar o peixe,
mas ensinar a pescar”. Ainda nessa linha os defensores argumentam que “ensinar
a pescar” um cidadão que passa fome e privações básicas, não resolveria o
problema, e por isso, necessitaria de um estágio anterior justificando o
benefício das bolsas. Os críticos defendem a ideia que não passa de uma ação
politiqueira que utiliza da máxima do estado romano do “pão e circo” para
alienar a população e transformá-la cada vez mais em massa de manobra. Além
disso, criticam a falta de evolução para a próxima fase de descolamento
colocando dúvidas se realmente os assistencialistas querem essa evolução ou
simplesmente almejam manter a população sob sua asa paternalista. Coisa que
também não seria novidade, já que o então “pai dos pobres” Getúlio, já fazia
isso desde o começo do século XX.
Qual
a minha opinião? Posso exprimir em uma palavra. Decepção. Isso me acomete
quando vejo um cartaz de oferta de emprego que tem como principal atrativo o
assistencialismo. Salário, vale transporte, vale alimentação, plano de saúde,
plano odontológico, etc. Sou de uma geração que acredita na capacidade
produtiva. Na remuneração por esforço e meta. Não quer dizer que não defenda
com unhas e dentes benefícios para meus funcionários. Pelo contrário. Mas
entendo que deve fazer parte do processo de remuneração. Tudo conversado
previamente e acordado. Aquilo que é dado de graça sem anteceder o esforço e a
dedicação se esvai depressa ou pouca valoração tem para quem recebe. Um
trabalhador motivado que vista a camisa da empresa e cumpra suas metas deve ser
bem remunerado através de seu esforço e de programas de distribuição de lucros
das empresas. Assim ele poderá por seu mérito crescer e dirigir sua própria
carreira sem necessitar de assistencialismo. A maioria dos empresários e
trabalhadores pensa assim? Com certeza não. Utópico? Prefiro pensar que seja um
objetivo de longo prazo. Melhor seguir assim do que andar pelo caminho que
estamos trilhando, onde não temos certeza se estamos caminhando para a cura ou
para a doença. Pensemos.
#
crônica dedicada ao amigo Jones
Guilherme
Augusto Santana
Goiânia, sexta feira 05 de dezembro de
2014
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