ostra bem
Sabem
programa de turismo certo? Aquele que dez entre dez fazem? Pois esse se chama
Mercado Municipal de São Paulo. Apesar de muitos não considerarem a cidade um
modelo de turismo ideal, vide sua falta de praia e neve, sempre fui fascinado
por andar pelas ruas da Paulicéia buscando peculiaridades e histórias espalhadas pela
maior metrópole do país. Nesse contexto a unanimidade é o mercadão. Ponto de
encontro dos forasteiros que imergem numa torre de babel de aromas, cores e
sabores. Não só nos acepipes comestíveis, mas em sua arquitetura eclética, vitrais
coloridos e no burburinho alto dos feirantes. Chega ficar tonto com tamanha
efusão e confusão. Nesse instante os que estão lendo devem estar pensando: “daqui
a pouco ele vai falar do pastel de bacalhau ou do sanduiche de mortadela do
Hocca Bar”. Erraram! Não que não valha destaque. Aliás, pelo contrário. Aos que
nunca experimentaram esses dois ícones da gastronomia paulistana, recomendo
enormemente. O conselho é que chegue cedo, pois a maioria dos visitantes também
são ávidos pela iguaria, o que torna a fila de espera quase interminável em
determinados horários. Fora esse circuito clássico do mercadão, basta ficar
atento para descobrir inúmeros outros atalhos ao jardim do éden da gastronomia.
Quer um exemplo? Na entrada da ala dos pescados logo à direita. Casa das
Ostras. Barraquinha de esquina com menos de meia dúzia de mesas altas e
banquetas. Alguém em sã consciência não sentaria ali. Mas a questão é que
quando se trata de comida, não me considero um cidadão totalmente provido das
faculdades mentais. Da última vez que fui estava com a família. Esposa e meus
dois filhos pequenos. Pensa em dois meninos no meio do mercado pela primeira
vez?! Queria leva-los para conhecer o roteiro clássico, mas as ostras frescas
me olharam de uma maneira irresistível. Pensei que uma paradinha para “algumas”
ostras não faria mal antes do almoço. Estava lotado. Pensei em desistir devido à
falta de mesa. Com criança é mais complicado. A esposa pediu paciência e logo a
Santa da Mesa Desocupada nos atendeu com uma no canto e sentamos espremidos em
meio aos demais comensais. Pede uma porção de ostras e um chopp. Só para abrir
o apetite. Os meninos avistam uma porção de lulas fritas. Certeza. “Papai, eu
quero!!”. Pede também. A mesa mal cabe os dois pratos e o chopp. Vamos fazer um
aparte para o chopp. Ir à sampa e não tomar uma caneca ou várias no mercado é
considerado no manual do gastrônomo amador uma heresia sem perdão. Como não
gosto de pecar pedi logo o segundo. Daquele preto com a espuma cremosa. E vai
ostra e vai lula e vai chopp. Não nessa mesma ordem. O que devem estar pensando
em como ter coragem para comer frutos do mar no meio do mercado de São Paulo
vai um ditado antigo que diz sabiamente: “o que não mata engorda”. Só para
constar nas minhas estatísticas estomacais, nunca tive nem um revertério
comendo no mercadão. Tudo parecia muito bem, mas eis que no meio da refeição,
pela proximidade das cadeiras, dois homens que estavam na mesa ao lado puxam
assunto e dão uma sugestão: “compre camarão do grande na barraca do lado e
peçam para fritar no alho e óleo”. Pronto. Sugestão acatada. Compra um meio
quilo daquele camarão de ver Deus (que na sua terra vale 3 dígitos o quilo) e
pede a garçonete para preparar. Olha... olha... olha! É de comer ajoelhado.
Casou com o chopp e os dois viveram felizes para sempre. No final das contas, o
pastel de bacalhau e o sanduiche de mortadela ficam para a próxima feita, em
virtude de refestelamento precoce. Você sai de lá rico, bonito e satisfeito. Comida
simples, fresca e bem feita. Junta com a presteza do atendimento paulistano e a
carga histórica do local e pronto. Se eu fosse jurado da Michelin era estrela
na certa.
Guilherme Augusto
Santana
Goiânia, sexta feira 12 de dezembro de 2014
abriu o apetite?
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