sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

ostra bem


ostra bem

 

            Sabem programa de turismo certo? Aquele que dez entre dez fazem? Pois esse se chama Mercado Municipal de São Paulo. Apesar de muitos não considerarem a cidade um modelo de turismo ideal, vide sua falta de praia e neve, sempre fui fascinado por andar pelas ruas da Paulicéia buscando  peculiaridades e histórias espalhadas pela maior metrópole do país. Nesse contexto a unanimidade é o mercadão. Ponto de encontro dos forasteiros que imergem numa torre de babel de aromas, cores e sabores. Não só nos acepipes comestíveis, mas em sua arquitetura eclética, vitrais coloridos e no burburinho alto dos feirantes. Chega ficar tonto com tamanha efusão e confusão. Nesse instante os que estão lendo devem estar pensando: “daqui a pouco ele vai falar do pastel de bacalhau ou do sanduiche de mortadela do Hocca Bar”. Erraram! Não que não valha destaque. Aliás, pelo contrário. Aos que nunca experimentaram esses dois ícones da gastronomia paulistana, recomendo enormemente. O conselho é que chegue cedo, pois a maioria dos visitantes também são ávidos pela iguaria, o que torna a fila de espera quase interminável em determinados horários. Fora esse circuito clássico do mercadão, basta ficar atento para descobrir inúmeros outros atalhos ao jardim do éden da gastronomia. Quer um exemplo? Na entrada da ala dos pescados logo à direita. Casa das Ostras. Barraquinha de esquina com menos de meia dúzia de mesas altas e banquetas. Alguém em sã consciência não sentaria ali. Mas a questão é que quando se trata de comida, não me considero um cidadão totalmente provido das faculdades mentais. Da última vez que fui estava com a família. Esposa e meus dois filhos pequenos. Pensa em dois meninos no meio do mercado pela primeira vez?! Queria leva-los para conhecer o roteiro clássico, mas as ostras frescas me olharam de uma maneira irresistível. Pensei que uma paradinha para “algumas” ostras não faria mal antes do almoço. Estava lotado. Pensei em desistir devido à falta de mesa. Com criança é mais complicado. A esposa pediu paciência e logo a Santa da Mesa Desocupada nos atendeu com uma no canto e sentamos espremidos em meio aos demais comensais. Pede uma porção de ostras e um chopp. Só para abrir o apetite. Os meninos avistam uma porção de lulas fritas. Certeza. “Papai, eu quero!!”. Pede também. A mesa mal cabe os dois pratos e o chopp. Vamos fazer um aparte para o chopp. Ir à sampa e não tomar uma caneca ou várias no mercado é considerado no manual do gastrônomo amador uma heresia sem perdão. Como não gosto de pecar pedi logo o segundo. Daquele preto com a espuma cremosa. E vai ostra e vai lula e vai chopp. Não nessa mesma ordem. O que devem estar pensando em como ter coragem para comer frutos do mar no meio do mercado de São Paulo vai um ditado antigo que diz sabiamente: “o que não mata engorda”. Só para constar nas minhas estatísticas estomacais, nunca tive nem um revertério comendo no mercadão. Tudo parecia muito bem, mas eis que no meio da refeição, pela proximidade das cadeiras, dois homens que estavam na mesa ao lado puxam assunto e dão uma sugestão: “compre camarão do grande na barraca do lado e peçam para fritar no alho e óleo”. Pronto. Sugestão acatada. Compra um meio quilo daquele camarão de ver Deus (que na sua terra vale 3 dígitos o quilo) e pede a garçonete para preparar. Olha... olha... olha! É de comer ajoelhado. Casou com o chopp e os dois viveram felizes para sempre. No final das contas, o pastel de bacalhau e o sanduiche de mortadela ficam para a próxima feita, em virtude de refestelamento precoce. Você sai de lá rico, bonito e satisfeito. Comida simples, fresca e bem feita. Junta com a presteza do atendimento paulistano e a carga histórica do local e pronto. Se eu fosse jurado da Michelin era estrela na certa.       

 

 

 

Guilherme Augusto Santana

Goiânia, sexta feira 12 de dezembro de 2014
 
 
abriu o apetite?
 


 

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