terça-feira, 16 de junho de 2015

A conquista da América


A conquista da América

 

 

            Começo essa crônica com os olhos rasos d´água. Assim como estavam no dia da apresentação. Mas não se preocupem que são de alegria. De realização de pai. Daquele sentimento que vai brotando do coração e afeta dois pontos em especial. Os lábios com o sorriso e os olhos com a lágrima. Se todos ao meu lado não estivessem no mesmo estado de transe em que me encontrava, juro que teria pedido por um beliscão. O que acontecia era coisa quase inacreditável. Crianças subindo ao palco de um dos maiores expoentes da música mundial. Mas não eram quaisquer crianças. Eram músicos que estavam treinando em exaustão por um semestre inteiro. Mas não estavam apresentando quaisquer músicas. Tocaram peças de compositores brasileiros. Mas não era qualquer casa de música. Era o Carnegie Hall em Nova Iorque. E isso tudo só começou a fazer sentido quando passando pelos corredores da casa, pude ver quadros dos que haviam se apresentado lá. Não precisava legenda para nominar. Beatles, Edith Piaf, Frank Sinatra e Louis Armstrong. E agora minha filha. Os nossos filhos. Vocês conseguem abarcar a dimensão disso que estou tentando narrar em meio às lágrimas que me atrapalham? Eu também achava que tinha até entrar na sala de espetáculos e ver o piano solitário criar vida com os acordes dos talentosos e privilegiados pianistas que ali se sentavam. Coisa de gente grande. O pai se tremia todo na cadeira da plateia enquanto uma criança de nove anos deslizava seus dedos pelas teclas de marfim como se fosse habitual e corriqueiro. Fez parecer fácil. Mas não era. Lembrei-me de todo o esforço dos treinos. Das horas ausentes das brincadeiras dedicadas aos estudos. Das aulas, audições, saraus e apresentações exaustivas. Comia música, dormia musica, respirava música. Camargo Guarnieri, autor das músicas que ela interpretou, já era parente bem próximo. Como se fosse da família. Alias família foi que ganhamos em toda essa cruzada. Pais, mães, avós, tias, amigos e professores que se tornaram família por uma semana. Os que estavam presentes realmente e virtualmente. Uns cuidando dos outros como se filhos e pais fossem. Cada um vibrando com a vitória dos seus, dos outros e dos nossos. Sim! Dos nossos. Somos uma família ligada pelo estrondoso sucesso. Ligados pelo coração. Ligados pelos brindes nos almoços e jantares. Ligados pelos risos e prantos de alegria. Ligados pelos hospitais (mas só de vez em quando). Ligados pela brisa quente do central Park. Ligados pelas luzes da Times Square. Ligados pelo carinho dos professores. Esse um capítulo a parte. Mestres no sentido literal da palavra. Acolhimento, ensinamento e engrandecimento. Ligados pela gratidão. Ligados por um fio invisível que nos tornou fortes e grandes. E se hoje, ao escrever essa crônica, meus olhos se enchem de lágrimas, assim como se encheram no dia da apresentação, é porque sei que não vivi essa emoção só. Vivemos essa emoção. Um furacão tropical musical arrebatou Nova Iorque. A América nunca mais será a mesma depois desse 10/06/2015. Nem nós. Bravo! Bravíssimo!        

             

 

 

Guilherme Augusto Santana

Goiânia, terça feira 16 de junho de 2015
 
 

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