sexta-feira, 30 de outubro de 2015

cozinhando com o Coveiro 5 - oriental femminili


Cozinhando com o Coveiro 5 – oriental femminili

 

           

A maioria das pessoas acha que um prato para ser aclamado tem que ser complexo e cheio de gourmetização. Tipo aqueles que ficam cozinhando por dias a fio ou em temperatura constante à perfeição. Eu entendo que comida boa pode ser simplificada e nem por isso perder sua essência. Outro engano é achar que tem que produzir tudo na cozinha. Tipo não pode usar maionese industrializada ou molho pronto. Depende. Existem tantos produtos de boa qualidade nos nossos mercados hoje em dia que a grande maioria das pessoas não consegue distinguir o caseiro do industrializado. Se tiver oportunidade faça a sua própria maionese (se bem que para chegar no ponto...) mas se a celeridade não lhe permitir, não tenha vergonha de lançar mão de produtos já prontos mas que tenham qualidade. Quer ver?

            Achei esses dias camarão médio já cozido. Muitos torcerão a cara dizendo que bom são os frescos com casca. Mas se só em pensar em descascar camarão te dá arrepio, deixe o pudor de lado e leve o pré cozido. Quer uma vantagem? Eles já estão no tamanho final de cozimento. Melhor que pegar aquele camarão extra grande que após passar na frigideira desaparece e te deixa com a sensação que comprou gato por lebre. Tempere-o com alho batido e sal (lembre-se que o camarão é primo primeiro do alho) e acrescente gengibre amassado. Gengibre é sem dúvida nenhuma, na minha opinião, o tempero que mais lembra que algo é oriental. Pois reserve esse camarão para pegar o tempero. Muitos perguntarão: e o limão? Não vai passar? Nesse caso não. O camarão já é pré cozido e o limão iria apressar ainda mais o processo de cocção. Além do que o uso do limão e outros produtos ácidos serve para retirar cheiro forte de peixe e frutos do mar. Nesse caso não há necessidade. Peque uma frigideira e em fogo alto despeje um fio de óleo de gergelim. Coloque uma porção generosa de ervilha torta (hummmm). Junte umas três folhas de salvia que colheu na horta (ainda não tem horta? Tá passando da hora né?). Salteie brevemente para manter a ervilha crocante. Sal e pimenta do reino. Reserve. Na mesma frigideira reforce o óleo de gergelim (pode usar azeite mas não fica com aquele gostinho oriental do gergelim) e coloque gengibre picado. Porção generosa. Deixe fritar como alho. Acrescente os camarões. O cozimento é bem rápido. Antes de chegar ao fim ponha uma dose de saque. Pensa no aroma na cozinha. Não invente de flambar senão vai sujar o fogão. Volte com as ervilhas tortas. Abaixe o fogo e acrescente molho para yakssoba. Aí vem a questão. Existem bons molhos no mercado. Se estiver com tempo faça o seu. Como? Carcaça de frango cozida na panela de pressão até derreter, shoyu, açúcar, gengibre, Ajinomoto, saquê para cozinha, sal e amido de milho (vulgo maisena). Fica show de bola, mas demora mais tempo fazendo o molho que o prato completo. Fique à vontade. Acrescido o molho deixe até borbulhar e reserve. Agora vem uma operação delicada. Cozinhar o bifum. O que é? Macarrão de arroz. Super delicado. Mas bota delicado nisso. Faz assim. Ferva água com sal. Assim que ferver, desligue o fogo e mergulhe o bifum. Tampe a panela e deixe por aproximadamente três minutos. Cuidado para não passar do ponto senão ele se desmancha. Escorra o macarrão e acrescente no molho que está reservado. Faça aquela firula com cebolinha verde picada. Nessa hora a cozinha já está com cheiro de oriente e está em tempo de abrir aquela cerveja especial. Qual? Lion Fish Femminili. Desenvolvida para o paladar sensível das mulheres tem adição de pétalas de rosas e hibiscos em seu feitio. Os aromas florais de rosas e sabores tendendo para o azedo do hibisco rasgam o verbo para o picante do gengibre. Posso lhe garantir que nem cachorro come. Porque não sobra. Bom apetite.         

 

ps. Onde achar a Lion Fish Femminili?  www.reinodomalte.com.br    

 

 

Guilherme Augusto Santana

Goiânia, sexta feira 30 de outubro de 2015


 

 

Quer ver a cara do bifum com camarões e ervilha torta harmonizando com a Lion Fish Femminili?
 

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

a arte de envelhecer


A arte de envelhecer

 

            Ontem estávamos comemorando o aniversário de mamãe (como ela gosta de ser chamada) quando me detive a observar minha avó de 87 anos iniciando sua segunda caneca de chopp. Bebia como se aquela fosse a primeira de sua vida. Com uma boca boa. Lembrei-me de Miele que havia nos deixado há poucos dias. Muitos agora poderão se perguntar qual a relação entre minha avó e o Miele e eu me proponho a respondê-la de imediato. Nenhuma e muitas. A relação, na verdade, existe somente na mente do escritor que se esforça para compreender um pouco mais do sentido da vida. Mas do que estamos falando? Da arte de envelhecer.

           

Só fui entender quem foi a figura Luís Carlos Miele quando assisti a um musical sobre a vida da cantora Elis Regina em São Paulo uns tempos atrás. Vi a carreira de uma pessoa fora da curva, no caso de Elis, ser descoberta e alavancada por uma figura que dominava o meio cultural brasileiro nas décadas de 50 e 60. Não só a carreira da pimentinha, mas também a de artistas como Roberto Carlos, Alcione, Wilson Simonal, Sérgio Mendes, Milton Nascimento, Agnaldo Timóteo entre outros. Tudo isso numa classe fora do comum. Foi produtor, ator, escritor, apresentador e diretor de teatro, cinema, televisão e espetáculos. Hensga! Um currículo invejável. Até assistir o espetáculo sobre Elis tinha na figura de Miele um senhor muito do safado que apresentava um programa de top less, em pleno horário nobre da televisão brasileira, nos anos 90. Não que eu não gostasse, mas o tinha na mesma conta do Peréio. Um arremedo de bon vivant decadente. Estava enganado. Sua produção cultural foi invejável e continuou até o fim. Não com o glamour que o cercou nos tempos idos, mas com a maturidade que seus mais de 70 anos lhe conferiram. Soube alavancar os artistas e se alavancar. Pareceu entender o papel de coadjuvante que ajuda no sucesso geral. Soube envelhecer com classe.

           

Minha avó, mais conhecida como Dona Fia, ficou viúva muito cedo. Nem por isso terceirizou as rédeas da família. Nunca de maneira matriarcal italiana com pulso firme e tom elevado. Sempre ficou nos bastidores. Observando o que se passava em torno dos filhos, genros, noras, netos e bisnetos. De vez em quando conversava com um pontuando algo que ela entendia ser o essencial. Outras vezes mostrava sua discordância sem alterar o semblante. Eram conselhos de vovó. Nunca a vi alterando a voz. Nunca precisou. A família sempre se fechou em torno dela. O argumento era para cuida-la, mas no fundo ela que sempre cuidou da família. Curtiu as viagens as praias com todas as confusões provocadas pela aglomeração de pessoas. Foi a Disney e andou de montanha russa no carrinho da frente para agradar os netos. Mora sozinha, borda à perfeição e cuida de suas plantas com mãos de fada. Ontem quando a vi iniciar sua segunda caneca de chopp e lembrei-me de Miele, senti uma sensação diferente. Senti que ela observava a todos na mesa como se desse a benção para aquela balburdia familiar, mas também senti que envelhecia. Passava mais ainda aos bastidores. Assumia o papel de coadjuvante. Agora realmente precisava ser cuidada. Mas mostrava ali a todos que quisessem ver a sua arte. Suprema. Coisa que poucos dominam. A arte de envelhecer com classe.         

   

             

Guilherme Augusto Santana

Goiânia, sexta feira 16 de outubro de 2015

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

não é meu!


Não é meu!

 

           

Zé Coalho era o nome de guerra. Tinha adquirido a alcunha pelo ofício. Fabricante de queijos do Município de Cunhalândia no interior do Estado de Minas Gerais. Era o único a se ocupar do importante labor. Passava todos os dias nas fazendas recolhendo o leite e na volta vendendo o queijo. De tão conhecido resolveu um dia se candidatar a vaga de vereador. Diziam para ele que pessoa boa tinha que defender o povo. E ele era pessoa boa. Muitas vezes fazia queijo fiado quando via a dificuldade de um ou outro. Sua esposa Maria do Zé do Coalho não gostou muito da ideia do ingresso na politica. Dizia que esse assunto era para gente letrada, e seu marido assinava documentos com o dedo polegar. Não tinha nem conta bancário o pobre coitado de vergonha de ter que manchar o dedo na almofada azul. Mas nada desencutia da cabeça do Zé a possibilidade da candidatura. Precisava defender o povo do seu município. E assim foi feito. Candidatou e ganhou. Ascendência meteórica. Caiu nas graças do Prefeito e logo se tornou líder do governo na Câmara. Dai para Presidência da casa foi um pulo. Agora Zé do Coalho sentava na cadeira da cabeceira. Zé do Coalho não! Senhor Presidente da Câmara Municipal de Cunhalândia José da Silva. Mas nada adiantava esconder a alcunha. Todos o conheciam pelo apelido. E assim ia. Certo dia surgiu um boato. Uma conta bancaria de Zé Coalho na capital. Com um depósito vultoso. Logo se espalhou pela cidade. Igual rastilho de pólvora. Certeza que virou aglomeração de gente na frente da Câmara dos Vereadores. Um diz que me diz de gente querendo explicação. Gente acusando: “Como pode um vereador que veio do povo estar envolvido nesse tipo de irregularidade?”. Gente defendendo: “Pode ser engano”. Todos aguardando o pronunciamento do Senhor Presidente. Surgiu outro boato. O dinheiro depositado na conta na capital era propina de empreiteira que tinha feito a reforma na praça central. E que reforminha mais meia boca viu?!! Aí a confusão estava formada. Uma revolta só. Zé do Coalho tido como cidadão respeitado e honesto envolvido em corrupção?! A turba foi ficando histérica e já tinha empurra empurra quando o acusado saiu pela porta da frente e improvisou uma fala à multidão. Negou veementemente que tivesse conta em banco na capital e principalmente que tivesse recebido propina de empreiteiro que fosse. Aplausos foram ouvidos timidamente. Vaias em maior quantidade. Manoel do banco gritou indignado: “sou gerente do banco aqui do município há trinta anos e nunca abriu uma conta conosco. Agora abre uma na capital? Isso é muita trairagem!” Mas Zé do Coalho defendia a postura de que tudo não passava de intriga da oposição. Foi quando Maria do Socorro, irmã da esposa de Zé, veio em seu socorro: “você não está se lembrando Zé? Essa conta foi aberta na capital para pagar o tratamento da minha irmã.”. Nesse momento o acusado teve que admitir. Realmente havia uma conta em seu nome na capital. Mas tinha sido por um motivo justo. Sua esposa foi acometida de câncer e só havia tratamento na capital. Usou suas economias para custear as despesas. Fazia transferências para o hospital daquela conta aberta. Disse isso à multidão que estava se enfurecendo com os desencontros de informação. Admitiu o engano. Tinha realmente uma conta na capital. Tudo para salvar a esposa enferma. Zé chorou. A multidão chorou. A oposição não: “E o dinheiro depositado na conta?”. Soma considerável para o salário de vereador. Esse não estava explicado. Zé alegou que não era dele. Que tinha vida condizente com seu salário. Nada além disso. Muita gente assentiu daquela informação. Mas tem um dinheiro nessa conta. Precisava esclarecimento. Se não é do Zé então de quem seria? Quem teria depositado? Seria armação da oposição? Zé jurava tanto que aquele dinheiro não lhe pertencia que prometeu dividir a soma com a população do município. Ouviram-se muitas palmas e um coro de “Zé” “Zé” Zé”. Mas não era esse o caso. “Então vamos montar uma comissão para averiguações na capital”. Sugeriu um outro vereador. Boa ideia. Comissão foi sendo montada. Vai o Prefeito, Padre, Vice Presidente da Câmara, representante da oposição, Seu Antônio Ancião, Dona Maricota da rádio comunitária. E foi crescendo a quantidade de gente. Quando é fé metade da cidade compunha a comissão de esclarecimentos. E quem pagaria a conta do deslocamento? A prefeitura é claro! CPI do Zé. As mulheres correram em casa para preparar as marmitas de farofa de frango para a viagem. A distância não era grande mas tinha a tradição da parada para a farofa. Subiram todos no ônibus escolar para seguir para capital. Nesse dia não haveria aula porque não haveria ônibus escolar. Nem expediente na prefeitura porque não haveria Prefeito. Nem na Câmara porque nem vereador tinha. Feriado municipal foi decretado. E todos partiram rumo a capital. Chegando à porta do banco da capital aquela quantidade de gente, a população achou que era manifestação. E logo se formou aglomeração. Entraram todos no banco e logo se dirigiram ao gerente. Todo mundo era autoridade ali. Exigiam explicações. O gerente ainda tonto com aquela situação correu para a sala das gravações. Talvez conseguisse identificar o depositante da quantia pelos vídeos de segurança. Todo mundo seguiu para a sala apertada. Ninguém queria perder. E o Zé confiante que seu nome seria limpo daquela acusação infame. E não é que conseguiram identificar uma pessoa! Um senhor de barba farta e casaco. Uma coisa estranha para aquele calor dos trópicos. Mas o ângulo era muito ruim. Não dava para identificar mais detalhes. De qualquer forma não parecia ninguém da cidade. E com isso o acusado já gritava em bom e alto som: “Eu falei que não era meu esse dinheiro! Deve ser gente da oposição!”. O representante da oposição iniciou um bate boca que logo foi esfriado por outra ideia. “Vamos procurar nas fichas de depósito a identificação do senhor de barba e casaco. Com essa soma de depósito é norma do banco que haja identificação do depositante.”. Correram para o saguão do banco que há essa hora já estava aquela confusão de gente. Pega o livro de registro. Abre na página do dia. Eis que estava escrito lá o nome do meliante. O Zé já gritou para o Juiz da cidade que estava presente na comitiva: “manda prender Seu Juiz! Olha aí o safado que quer me denegrir”. O Juiz logo rebate: Então me diga logo no nome dele que já emito mandado de prisão.”. O gerente do banco leu o nome do cidadão em voz alta: “Santa Claus”. Era o que estava escrito. Nisso uma senhora do caixa gritou de lá: “Ah me lembro desse senhor que fez o depósito! Ele desceu num treno com umas renas!”. Eis que Zé não titubeou: “ então manda prender essa renas também Seu Juiz! Devem ser comparsas. Eu não disse que esse dinheiro não era meu?!” 

           

 

 

* essa é uma estória de ficção

 

    

   

Guilherme Augusto Santana

Goiânia, sexta feira 09 de outubro de 2015