sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Black Friday


Black Friday

 

            Já vou começar dizendo minha opinião logo de cara. Não tenho nada contra a importação de cultura estrangeira. Contanto que ela não venha substituir uma cultura local. Afinal vivemos em um mundo globalizado e a sobreposição de modas e costumes se torna inevitável. Não sou alarmista e nem dou muita bola para os cavaleiros do apocalipse que profetizam a aculturação do povo brasileiro pelo imperialismo ianque. Isso é muito anos 80. Se entendo ser benéfico e positivo porque não adotar? Uma dessas importações mais recentes é o tão alardeado “Black Friday” que surgiu nos Estados Unidos por conta da sexta feira subsequente ao dia de ação de graças. Os americanos resolveram enforcar a sexta e então bolaram o dia do desconto. Com isso a população não ficaria à toa em casa e sairia as compras. Isso aqueceria o mercado aproveitando um tempo ocioso. Se pensarmos por esse lado vemos que nossos irmãos americanos do norte bolaram uma coisa interessante. Aí vem o brasileiro e importa do jeito que se aplica lá. Mas cá não é igual lá e a coisa que era redonda não cabe em um buraco quadrado. Mas nós temos o jeitinho brasileiro! Aparamos as arestas daqui e dali e voilà! Coube. Meio esdrúxulo mas coube. Por isso nessa sexta onde só se fala de compras e compras, pensei no que seria a Black Friday diante do cenário nacional. Que promoções teríamos?

 

1)    Ações do BTG Pactual, Petrobrás e Vale por metade do preço! E caindo.

2)    Faça uma delação premiada e passe uma temporada no hotel de luxo da PF em Curitiba! Na companhia do japa bonzinho.

3)    Vire Presidente da Câmara e ganhe grátis uma conta na Suíça! Uma para a esposa também.

4)    Cite o nome de três Ministros do STF numa gravação e ganhe uma prisão! Seu advogado pode ir junto.

5)    O dobro de veículos nas ruas por metade da paciência! Temos a versão engarrafada.

6)    Metade da energia elétrica pelo dobro do preço! Você economiza e ajuda o governo.

7)    Mantenha um Senador preso e constranja outros 80! Menos o Collor claro.

8)    Eleja uma Presidenta e leve de presente 300 picaretas com anel de doutor! Foi o Luiz Inácio que avisou.

             

Rir para não chorar.

Guilherme Augusto Santana

Goiânia, sexta feira 27 de novembro de 2015

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Roman e Juliene


Roman e Juliene

 

           

Roman era polonês mas morava em Paris faziam mais de dez anos. Era policial e tinha muito orgulho de ter se tornado cidadão francês e ter o ofício de proteger um povo que o acolhera com tanto carinho. Desde que se mudara para a cidade luz não tinha arrumado sequer uma namorada. Dedicava todo seu tempo a profissão. Era do setor de inteligência antiterrorismo. Ajudava a monitorar as possíveis ameaças contra o solo francês. Numa dessas incursões eletrônicas em busca de indícios de ataques, entrou em um chat de conversas e acabou conhecendo Juliene. Ela era italiana de Verona mas morava em Amsterdã. Estudava literatura inglesa de Shakespeare e tinha fascinação por conhecer Paris. Trocaram muitos cliques e acabaram se apaixonando. Amores possíveis em tempo de internet. Combinaram de se conhecerem em Paris. Ele fazia questão de mostrar a namorada a cidade que tanto conhecia e que a moça desejava estar desde sempre. O amor era realmente lindo. Roman se preparou para o encontro. Pediu ao chefe uma dias de folga pois queria dedicar todo tempo a amada e foi busca-la no aeroporto levando um buque de rosas. Queria impressionar. O momento em que se viram pareceu que o tempo parou. Uma concessão Divina para aqueles olhares de cumplicidade. Se amaram de começo. Se amaram de fato. Se amaram. Três dias sem sair do quarto. Quando haviam matado a saudade de nunca terem se encontrado saíram para viver Paris. Agora podiam andar pela cidade de mãos dadas. Juliene era uma italiana anarquista. Vivia em uma das cidades mais libertárias da Europa. Escolhera literatura pois entendia ser uma profissão romântica e sem amarras. Era assim. Pássaro livre. Roman o contrário. Polonês cheio de regras. Criado por pais comunistas e disciplinadores. Era metódico e visceral. Escolhera a polícia pela ordem e disciplina. Era assim. Pássaro preso. Mas o amor unificava tudo. Fazia das diferenças igualdade. Pelo menos até aparecerem as primeiras desavenças. Isso começou a ocorrer quando ele comprou ingressos para assistirem um jogo da Seleção Francesa. Amistoso no Estádio da final da Copa de 98. Comprou porque achou que iria impressionar a namorada. Enganou-se. Juliene amava a França mas odiava futebol. Entendia como pão e circo para o povo dos tempos de seu compatriota Cézar. Um alienador de opiniões. Teceu uma hora de comentários na cabeça de Roman sobre as teorias libertárias e anarquistas. Tudo se resumia ao ninguém é de ninguém. Frontalmente contra o que ele pensava. E para piorar a situação, ela disse que iria a um show de rock em uma famosa casa de shows com um amigo espanhol que conhecera pela internet. Mas ela não se opunha a que ele fosse ao jogo. Cada um com suas vontades. Aquilo para Roman era uma facada. Tudo que ele mais abominava. Com o pouco de sanidade que lhe restou após a discussão, saiu em direção ao estádio para assistir ao jogo. Não prestou atenção em nada que ocorria pelo caminho. Estava desapontado. Chegou até a porta do local do jogo e ficou parado olhando aquele colosso de aço e concreto. Os olhos marejados e cegos de amor e ódio. Não conseguiu entrar. Virou-se e pegou o rumo da casa de shows onde estaria a namorada. Esbarrou em um cidadão que parecia de origem árabe. O cidadão foi ao chão com o encontro acidental. Prontamente Roman o ajudou a se levantar e pareceu reconhecer o sujeito de algum lugar. Deve ser de alguma ficha policial. Pegou a mochila do homem que parecia suspeita e devolveu a ele. Tudo parecia suspeito, mas aquele não era o momento de abordagens. Seguiram seu rumo. Ele de encontro a namorada e o homem parado perto do estádio. Chegando perto da casa de shows respirou fundo e se dirigiu a entrada. Não sofreu nenhuma revista na porta e pensou em dar um esculacho no segurança. Como poderiam deixar que ele entrasse armado em uma casa lotada? E se fosse um terrorista? Mas desistiu. Aquele não era o momento de abordagens. Percebeu que duas pessoas entraram junto com ele para o interior da boate. Pareciam suspeitos. Tinham caras de suspeitos. A mesma sensação que tivera com o indivíduo perto do estádio. Mas uma cena tirou sua atenção nesse momento. Na pista de dança viu Juliene dançando com um sujeito magro com cara de toureiro. Parecia que faziam uma dança do acasalamento. Pelo menos era assim que parecia para um polonês rígido. Perdeu a cabeça. Foi em direção ao casal em quase orgia e puxou a namorada numa tentativa de tirá-la dali. Bruscamente. Ela se debateu sem entender o que se passava. Começaram a bater boca ali mesmo. No meio da pista. Ele em francês com sotaque polonês e ela em italiano com sotaque francês. O rapaz que dançava com ela tentou entrar falando em espanhol com sotaque catalão mas foi imediatamente empurrado pelo bruto polonês. Juliene foi ao encontro do amigo no chão e o ajudou a se levantar proferindo palavras deselegantes a Roman. Ele perdeu a cabeça. Sacou da pistola que era sua ferramenta de ofício e apontou para a namorada. Com os olhos rasos d´água disse que se não podia ser só dele que então não seria de ninguém. Antes que pudesse puxar o gatilho Juliene caiu ao chão. Sem vida. Tinha levado um tiro pelas costas. Roman viu um dos cidadãos suspeitos que tinha encontrado na entrada empunhando uma arma automática. Ele havia matado sua namorada. A sua Juliene. Como num reflexo de ódio, ele virou a mira da arma que empunhava e num tiro seco atingiu a testa do homem que havia matado a namorada. Nesse momento a polícia francesa invadiu o local e um agente vendo-o de arma em punho atirou sem perguntar. Sem tempo de reação. Sem tempo de comoção. Sem tempo de despedida. Roman caiu morto em cima de Juliene que jazia no chão frio de Paris naquela noite de desamor.      

 

* essa é uma estória de ficção

  

   

Guilherme Augusto Santana

Goiânia, sexta feira 20 de novembro de 2015

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

o mar e o sertão


O mar e o sertão

 

            Dona Sá vivia naquela casa desde que o marido tinha conseguido emprego em uma mineradora em idos passados. Antes viviam no interior do Mato Grosso e trabalhavam o campeio do gado de corte. Marcos era o nome do afortunado que tinha levado Sabina ao altar. Depois de muito tempo virou Dona Sá. Dona Sá do Marcos. Desde que mudaram para Minas Gerais a vida tinha se tornado mais tranquila. Nada de perder o marido para as intermináveis comitivas que transportavam gado para o abate ou para fugir das cheias do pantanal. Ali no interior das Minas parecia que o tempo tinha parado. Tiveram seus filhos. Quatro. Tiveram seus netos. Quatro. Tiveram felicidade. Mas o infortúnio um dia se abateu sobre o casal. Na verdade se abateu sobre Seu Marcos. Um ferimento no pé provocado por ferramenta de trabalho foi infeccionando e como era do feitio do homem bruto, não reclamado a tempo. Foi tomando conta e a fatalidade veio a levar o marido de Dona Sá para os braços do Senhor. Ficou Sá sem Marcos. Com o desgosto provocado pela perda do pai cada filho foi tomando um rumo. Alguns foram para a capital em busca de melhores oportunidades e uma não se sabia o paradeiro. Fugira de casa. A mais nova. Sempre tida pelo pai como desajustada. Deixou para a avó um presente. Mariana. Neta que a filha abandonara antes da fuga. Era o xodó de Dona Sá. Muito insistiram os filhos para que a mãe fosse morar com um deles na capital mas Dona Sá alentava o desejo de continuar vivendo no vilarejo em que fora tão feliz com seu homem. Conformaram-se os filhos e ficaram avó e neta a formarem uma família. Uma para a outra. Depois da morte do marido Dona Sá adquiriu um problema nas pernas que a levou a precisar de cadeira de rodas. Nunca diagnosticaram direito o que era. Muitos atestaram que poderia ser desgosto. Mas vida que segue. Seguia até que um dia estava Mariana a brincar no seu quarto com a boneca de pano feita pela avó quando da janela gritou Dona Sá. Correu em direção da avó mais que depressa. Sabina estava na janela observando o mar de lama que se avolumava em direção a sua casa. Estava petrificada. Sem reação. Sua moradia, pela antiguidade era uma das primeiras da vila e quase isolada do restante. Por um momento pensou em correr mas imaginou a cena de uma velha em cadeira de rodas e uma criança de 5 anos a fugir de uma onda avassaladora. Desistiu. Preferiu deixar o destino cumprir seu feitio. Chamou a neta e tentou disfarçar para não provocar medo na pequena. Lembrou-se do único filme que tinha assistido na capital ainda em companhia do marido. “A vida é bela”. Lembrou-se do pai que fizera de tudo para salvar o filho do holocausto. Decidiu fazer o mesmo com a neta. Inventou uma estória. Imaginação. “Mariana você não acredita no que está acontecendo?! Seu sonho vai se realizar!”. A neta acalentava uma vontade de conhecer o mar e a avó dizia que um dia a levaria para experimentar a água salgada. Também Dona Sá não conhecia o mar. Também acalentava o desejo de fazê-lo. Sem pensar muito sentou a criança no colo e disse que se as duas não podiam ir até o mar, que o mar tinha vindo até elas. Mariana num entusiasmo infantil correu até o quarto. Sem que a avó tivesse reação ela disse que iria buscar a boneca de pano. Também a boneca tinha desejo de conhecer o mar. Chegou com a boneca nos braços e abancou-se no colo da avó. Dona Sá conseguiu ainda ver escrito no vestido branco da pequena boneca o nome da neta escrito de caneta azul. Mariana. E ficaram as duas, com lágrimas nos olhos, a observar pela janela aquele sertão, que por ora, virava mar.

 

            Juliana estava a observar como sempre fazia quando os afazeres da escola deixavam. Fazia o quarto ano e era boa aluna. Observava o mar e toda aquela lama que descia de não sei onde. O professor da escola tinha explicado para a turma sobre o acidente ambiental e tudo mais mas ela não conseguia se conformar com toda aquela terra transformando o seu lindo mar. Seu mar. Participou até da campanha de doação para os desabrigados que sofreram com o mar de lama entregando bonecas que não usava mais para diminuir o sofrimento das crianças, mas no fundo tinha mais dó daquele desastre ecológico. Não que não se preocupasse com as pessoas, mas o mar era sua vida. Tinha tempo que acalentava o sonho de fazer oceanografia e cuidar da vida marinha. Sempre teve fascínio pelas ondas e pela maresia. Por isso com frequência era vista coletando conchas na orla de onde morava no Espírito Santo. Não era diferente naquela manhã nublada de sábado. Só era diferente a cor da água que teimava em permanecer turva. Vermelha como a terra do sertão. E foi nessa inspeção matinal de conchas que encontrou uma boneca semienterrada. Estava só com a cabeça para fora. Retirou-a da areia e levou até o mar para lava-la. Estava encardida de lama mas conseguiu ler escrito em seu vestido agora marrom. Mariana. Achou aquilo de uma coincidência incrível. Tinha enviado bonecas para as crianças vítimas do desastre e tinha recebido outro em troca. Como se o destino a agradecesse pelo ato de bondade. Tomada por uma alegria imensa abraçou a boneca. Ficou ali alguns minutos contemplando aquela sobrevivente que vinha de não sei onde. Decidiu que a adotaria. E como primeira lição de mãe quis lhe mostrar o mar. “olha mariana, esse é o mar. Aposto que nunca você viu coisa mais linda”. E ficaram as duas por longo tempo a observar, com lágrimas nos olhos, aquele mar, que por ora, virava sertão.                        

           

* essa é uma estória de ficção

  

   

Guilherme Augusto Santana

Goiânia, sexta feira 13 de novembro de 2015

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Pedido de Natal

Pedido de Natal

            A família Queiroz era tipicamente brasileira. Descendente duma miscelânea que envolve portugueses, italianos, africanos, índios e um toque do oriente. Se pegar a árvore genealógica mais parece um ninho de guacho. Todos falam ao mesmo tempo e a reunião familiar é sempre cercada de surpresas. Tinham uma tradição muito forte no calendário de eventos familiar: o Natal. Sempre foi assim. O evento esperado do ano. Seu Filomeno, patriarca da família, era louco com as festas natalinas. Dona Cotinha, a matriarca, fazia aniversário no dia 25 de dezembro então sempre faziam duas festas em uma. E assim foram criados os filhos. Filomeno Filho, o Filozinho, Florêncio, Vanildes e Shirley Maria. Essa última em homenagem a atriz Shirley Temple de quem a mãe era fã incondicional. Cada filho com seu cônjuge foram se ajeitando. E uns até com dois cônjuges, logicamente que não ao mesmo tempo. Cada um com seus filhos e até netos. Tudo isso perfazendo um total de mais de quarenta pessoas diretos e agregados. Tudo junto e misturado. Infelizmente uma doença coronária levou Seu Filó para os braços do Senhor e Dona Cotinha foi de embrulho por não aguentar a tristeza de viver sem o marido. Coisa de dedicação de uma vida. A família se abateu. A família quase morreu. Mas não podia. Tinham que renascer apesar da dor. Tinham. Pois estavam no primeiro Natal pós-perda. Oportunidade de retomar a vida. Chegaram a cogitar em reunião de família abortar a comemoração, mas decidiram manter a tradição. Seria em homenagem aos patriarcas. Homenagem justa. Pois organizaram. E a noite chegou. Aquela coisa de Natal. Cheiros de quitutes assando no ar. Presentes mil embaixo da árvore grande na sala. Adultos, adolescentes, crianças e recém-nascidos as voltas com o espírito natalino. Uma profusão de cores, sabores e rumores. Tudo junto e misturado. Pois não há de ver que tinham a tradição da entrega de presentes pelo Papai Noel. Era feiro por seu Filó, mas com o tempo foi substituído pelo filho mais velho o Filozinho. Tradição que passa de pai para filho. Desta feita Filozinho resolveu alugar uma roupa de Papai Noel. Com barba e tudo. Seria mais interessante para as crianças. Combinou com os irmãos, cônjuges e ex-cônjuges o que cada um iria ganhar para dar mais veracidade à boa farsa montada. Pois na hora combinada chegou o Papai Noel com o saco nas costas. Só alguns presentes porque não cabia tudo no saco. Foi aquela algazarra. Emoção só. As crianças boquiabertas, os adolescentes reclamando de pagar mico e os recém-nascidos chorando perante aquele homem todo vestido para neve em pleno trópico. Sei que a ideia foi um sucesso. Cada um, aos poucos, foi entrando na brincadeira e pedindo seu presente, que era solicitamente atendido pelo bom velhinho. E assim foi transcorrendo a noite com o farfalhar dos papeis sendo rasgados e a renovação entrando de vez na família Queiroz. Assim é a vida. Um eterno recomeço. Pois sobrou por último, no seu pedido ao Papai Noel, o segundo filho mais velho. Florêncio estava visivelmente emocionado. De todos os irmãos era o que tinha mais sentido a morte dos pais. Pois estava ele parado ali diante do Irmão Noel tentando dizer o que queria de presente de Natal. Não conseguia seguir com o combinado. Estava congelado. Chorava. Sucumbia à emoção. Os irmãos começaram a se preocupar e aos poucos buscaram incentiva-lo a dizer qual presente queria para evitar constrangimentos e atropelos na noite que se mostrava maravilhosa. Mas nada fazia o cidadão dizer o que queria. Até que o “Papai Noel” se cercou de todo afeto e disse ao irmão que se não conseguisse falar que poderia escrever numa cartinha o seu desejo de presente. Logicamente que o fantasiado já estava deveras preocupado porque já intuía que não conseguiria atender ao irmão por já perceber que o combinado já tinha ruído. Mas estava mais preocupado com irmão e incentivou a fala mesmo que não pudesse cumprir seu desejo. E assim os outros adultos foram percebendo as intenções de Filozinho e iniciaram ajudar na improvisação da encenação. Com os olhos cobertos de lágrimas, Florêncio conseguiu escrever numa folha de papel o seu desejo tão emocionado. Entregou o bilhete ao irmão que leu e imediatamente fez rolar uma lágrima na face do Papai Noel. E um a um os irmãos foram chegando e lendo aquele bilhete e as lágrimas tomaram conta de todos. E uns abraçando aos outros num demonstração explícita que todos ali desejavam a mesma coisa. Foi uma emoção nuca experimentada pela família. Aqueles adultos abraçados no centro da sala em prantos e as crianças e adolescentes atônitos sem entender o que estava ocorrendo. Foi quando o bilhete caiu da mão de um dos adultos e repousou manso no chão. Mais que depressa Filozinho Neto foi ao encontro do pedaço de papel para poder entender o fenômeno que ocorria. Pegou o mesmo e leu para os que estavam de fora do abraço coletivo. Estava escrito em letras trêmulas por conta da emoção:
“Meu desejo de Natal é conseguir emitir e pagar a guia do imposto simples da minha empregada doméstica no site do e-social”
Esses adultos são mesmo uns doidos disse Filozinho Neto e com a concordância dos demais menores foram atacar o peru de Natal que já estava esfriando na mesa da ceia.          
       
Guilherme Augusto Santana
Goiânia, sexta feira 06 de novembro de 2015