quinta-feira, 20 de outubro de 2016

como é que se diz "eu te amo"


Como é que se diz “eu te amo”

         

Esses dias atrás completaram-se vinte anos da morte de Renato Russo. Logicamente que passei o dia todo a escutar suas músicas. Relembrando. Eis que me aconteceu um fato estranho. Cada canção que escutava me remetia a uma fase da vida. Um momento. Uma recordação. E na singularidade de lembranças, algo era constante. A turma. A mesma turma. Formada na década de 80 no Colégio Agostiniano. Entre idas e vindas eles sempre estiveram presentes na minha vida.  

“O sistema é maus, mas minha turma é legal. Viver é foda, morrer é difícil. Te ver é uma necessidade. Vamos fazer um filme”. Fizemos um filme. O nosso filme. Crescemos e aparecemos. É verdade. Mas sempre que nos encontramos voltamos a ser adolescentes. Gritos, abraços, melodrama, posse, amor. Faltam só as espinhas na cara. Coisa de gente que se entende só de olhar. Olhamo-nos. Curtimo-nos. Ao vivo ou pelas redes. Um mundo à parte.

Todos os dias quando acordo. Não tenho mais o tempo que passou. Mas tenho muito tempo. Temos todo o tempo do mundo”. Naquela época achávamos que éramos imortais. Quanto engano. Mas muitos duvidavam da imortalidade de nossa amizade. Quanto engano. Resistiu ao tempo e a distância. Somos poucos em muitos lugares. Somos todos no mesmo lugar. Sempre. Com certeza a Lei do Tempo, inexorável, fez com que o mesmo passasse para todos, mas ela, a amizade, parece resistir a corrosão da lei temporal. É mutável mas ao mesmo tempo original. O andado dos ponteiros do relógio marcou nossas faces mas ainda resta todo tempo do mundo para sermos amigos.

“Esse é o nosso mundo. O que é demais nunca é o bastante. A primeira vez é sempre a última chance”. Muitas vezes nos escondíamos dentro do próprio colégio para estar mais perto. Como se deixássemos de ser grudados alguma hora do dia. Ficávamos ali uns olhando para os outros as vezes sem dizer nada. Uma palavra. Várias palavras. Em um grito uníssono que levava a sermos descobertos. Batíamos em fuga procurando outros lugares para esconder. Esse era o nosso mundo. Quanto mais perto mais perto. Resistíamos aos dias e as noites. Parecíamos brincar com a tempo. E era o tempo que brincava conosco. O que para muitos parecia demais, para nós não era o bastante. “Será só imaginação? Será que nada vai acontecer? Será que é tudo isso em vão? Será que vamos conseguir vencer?”. Será? O que era dúvida virou certeza. Realização. Cada um a sua maneira se tornou gente. Gente boa. Resistimos a separação. Mas continuamos nos procurando. Nos falando. nos vendo. Voltando a ser o mesmo corpo. A mesma turma. Só usando de muita imaginação. De muita emoção. De muito coração. “E nesse dias tão estranhos” enquanto escuto Renato Russo, bate uma vontade irresistível de estar junto deles e dizer o quanto eu os amo.        

Guilherme Augusto Santana

Goiânia, sexta feira 21 de outubro de 2016

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