Como
é que se diz “eu te amo”
Esses dias atrás
completaram-se vinte anos da morte de Renato Russo. Logicamente que passei o
dia todo a escutar suas músicas. Relembrando. Eis que me aconteceu um fato
estranho. Cada canção que escutava me remetia a uma fase da vida. Um momento.
Uma recordação. E na singularidade de lembranças, algo era constante. A turma. A
mesma turma. Formada na década de 80 no Colégio Agostiniano. Entre idas e
vindas eles sempre estiveram presentes na minha vida.
“O
sistema é maus, mas minha turma é legal. Viver é foda, morrer é difícil. Te ver
é uma necessidade. Vamos fazer um filme”. Fizemos um filme. O nosso filme. Crescemos e aparecemos.
É verdade. Mas sempre que nos encontramos voltamos a ser adolescentes. Gritos,
abraços, melodrama, posse, amor. Faltam só as espinhas na cara. Coisa de gente
que se entende só de olhar. Olhamo-nos. Curtimo-nos. Ao vivo ou pelas redes. Um
mundo à parte.
“Todos os dias quando acordo. Não tenho mais
o tempo que passou. Mas tenho muito tempo. Temos todo o tempo do mundo”. Naquela época achávamos que éramos imortais. Quanto engano. Mas muitos
duvidavam da imortalidade de nossa amizade. Quanto engano. Resistiu ao tempo e
a distância. Somos poucos em muitos lugares. Somos todos no mesmo lugar.
Sempre. Com certeza a Lei do Tempo, inexorável, fez com que o mesmo passasse
para todos, mas ela, a amizade, parece resistir a corrosão da lei temporal. É
mutável mas ao mesmo tempo original. O andado dos ponteiros do relógio marcou
nossas faces mas ainda resta todo tempo do mundo para sermos amigos.
“Esse é o nosso mundo. O
que é demais nunca é o bastante. A primeira vez é sempre a última chance”. Muitas vezes nos escondíamos dentro do próprio colégio para estar mais
perto. Como se deixássemos de ser grudados alguma hora do dia. Ficávamos ali
uns olhando para os outros as vezes sem dizer nada. Uma palavra. Várias
palavras. Em um grito uníssono que levava a sermos descobertos. Batíamos em
fuga procurando outros lugares para esconder. Esse era o nosso mundo. Quanto
mais perto mais perto. Resistíamos aos dias e as noites. Parecíamos brincar com
a tempo. E era o tempo que brincava conosco. O que para muitos parecia demais,
para nós não era o bastante. “Será só
imaginação? Será que nada vai acontecer? Será que é tudo isso em vão? Será que
vamos conseguir vencer?”. Será? O que era dúvida virou certeza. Realização.
Cada um a sua maneira se tornou gente. Gente boa. Resistimos a separação. Mas
continuamos nos procurando. Nos falando. nos vendo. Voltando a ser o mesmo
corpo. A mesma turma. Só usando de muita imaginação. De muita emoção. De muito
coração. “E nesse dias tão estranhos”
enquanto escuto Renato Russo, bate uma vontade irresistível de estar junto
deles e dizer o quanto eu os amo.
Guilherme
Augusto Santana
Goiânia, sexta feira 21 de outubro de
2016
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