sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Minha maior professora


Minha maior professora

 

          Diz o ditado que citar a mãe no discurso tem que ser no final, porque aí começa o choro e dá-se por encerrado a oratória. Eu preferi arriscar. Já começo no modo power de emoção. Hoje falarei de mamãe. Esperem que vou ali enxugar as lágrimas e já volto. Falo dela porque se aproxima seu aniversário. Coincide com o dia dos professores. E aí me coloquei a pensar numa maneira de homenagear os professores e não achei melhor. Falarei da maior. Da melhor. Da que me ensinou a viver. Pausa para enxugar as lágrimas de novo. Vamos lá.

 

1)    Mamãe me ensinou a ser observador.

 

Lá em casa o costume era viajar à fazenda nos finais de semana. Coisa de família goiana. Quando criança era super legal, mas foi chegando a juventude e as festas passaram a ser mais atrativas. Em um determinado momento solicitei aos meus pais que eu pudesse ficar na cidade ao invés de ir a fazenda. Só algumas vezes para não ser o excluído da turma, o que não ia as festas e outras chantagens emocionais baratas. Depois de muito tentar deu certo. Depois de recomendações mil deles, consegui ficar sozinho em casa. Aí vinha o capeta e chamava todos os amigos para uma festinha de comemoração. E aí o fim de semana explodia em alegria. No domingo à noite, minha mãe chegava e só comentava: Fez festa em casa né? Foi animada? Eu ficava intrigado pois tinha apagados todos os vestígios que caracterizasse algum tipo de aglomerado de pessoas. Isso foi uma, duas, três vezes. Muitas vezes. Quebrava a cabeça para descobrir de onde ela tirava essa informação. Cheguei a acreditar em sexto sentido de mãe. Foi quando um dia ela me contou. Lá em casa tinham alguns tapetes na sala. Esses tapetes tinham franjas. Quando ela saia na sexta-feira, penteava as franjas. Quando voltava no domingo, as mesmas estavam todas despenteadas. Muita gente transitando. Conclusão: festa. Vejam se não é um ensinamento precioso esse da observação?!

 

2)    Mamãe me ensinou a adaptação.

 

Eu era daquelas crianças chatas para comer. Inimigo número um das coisas verdes. Daqueles que ficava com o prato todo cheio de salsinha nas bordas. Cebola, alho, cheiro verde, frutas, folhas... nada disso fazia parte do meu cardápio. Sem falar na carne cozida, costela e essas proteínas que não tem aparência de bife de filet. E como uma boa mãe, a minha tentou à exaustão mudar essa atitude. Por vezes com paciência, explicação e algumas com a chinela na mão. Mas nada que desse jeito. Quando passei na faculdade fui estudar no Campus da UFG. Longe absurdo. Período integral. Pensa se mamãe dava dinheiro para almoçar em algum lugar decente para meu nível de exigência?! Não! Hora de aprender a se adaptar. Comer no Restaurante Universitário. O famoso bandejão. Aí é que o filho chora e a mãe não vê. É cada quitute que vem no seu prato... dava saudades imensas da carne de panela da mamãe. Bem temperada com cebola e cheiro verde. Hummm... deu água na boca. Muitas vezes tive que matar a carne no meu prato por achar que a mesma ainda continuava viva. Pois foi que aprendi a Lei da Adaptação. Hoje como quase tudo graças a mamãe.

 

3)    Mamãe me ensinou a ser comedido.

 

No idos da década de 80, todos eram fã de Michael Jackson. Pelo menos a maioria. Na época que ele ainda não tinha inventado aquela pataquada de ficar branco. Tempos de Billie Jean e Thriller. Ficava horas na frente da TV assistindo os clipes gravados em VHS (meu pai trouxe um vídeo cassete da Zona Franca de Manaus que pesava meia tonelada) e tentando imitar seus passos. Depois ia para as festinhas e não ia para a pista dançar de vergonha. Um certo dia a escola onde eu estudava, por conta da febre do break, lançou um concurso de dança. Pronto. Era o palco que eu podia exercitar a minha prática em MJ sem passar muita vergonha. Foram acontecendo as classificatórias do concurso e eu fui passando até chegar na final. Foi quando fiz a proposta à mamãe. Queria fazer permanente no cabelo para ficar com os cachos igual ao pop star (não acredito que estou contando isso numa crônica). Ficar igual um poodle, sabe?! De qualquer forma minha mãe, muito sábia, não permitiu. Lançou mão do gumex (quem não souber do que se trata procura no google) e fez os cachos. Ganhei o concurso e preservei meu cabelo. Olha se isso não é uma lição de parcimônia e equilíbrio. Sem isso hoje eu poderia estar careca.

 

Ao final penso que daria um livro se juntasse todos os ensinamentos que recebi de minha mãe. Na verdade, eles se transformaram em um livro de história. A minha história. E agora a história dos meus filhos, porque se ela foi uma grande mãe (e ainda o é), imaginem o quão grande avô ela não se tornou?! Além de tudo isso uma filha amorosa e presente. Uma esposa companheira e leal. Sempre franqueando a todos os que estão próximos, não somente seus filhos, a bondade e amabilidade que sempre lhe foram característica. Espero mamãe (é assim que ela gosta de ser chamada), que todas essas coisas que me ensinou com tanta paciência tenham me tornado, ao menos, metade de tudo que você é. Se for assim já estarei satisfeito. E vamos parando por aqui que preciso enxugar minhas lagrimas.  

 

 

Guilherme Augusto Santana

Goiânia, sexta feira 14 de outubro de 2016

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