Sobre
baleias e outros animais
Esses
dias atrás assisti novamente um filme que versa sobre os Beatles, onde um pai
escandalizado, força o filho a cortar o cabelo por entender que aquele “visual”
não era de gente séria. Na verdade, o cabelo imitava o corte do quarteto que
arrasou o mundo do rock e arrastou multidões. Naquela época os garotos de
Liverpool, segundo os mais conservadores, eram um mau exemplo para seus filhos
e tudo que remetesse a eles deveria ser expurgado como má influência. Percebam
bem, aos olhos estupefatos de hoje, o quão retrógrado e sem noção seria
associar o rock e os Beatles a ruina da juventude. Percebem? Mas a maioria dos
pais daquela época não percebeu e com isso viram em uma banda de rock a
perdição de seus filhos.
Várias
coisas travestiram-se de ruina da juventude em determinados momentos da
humanidade. Assim foi com o aparecimento das drogas e overdoses que ceifaram
vidas tenras, levando pais a histeria coletiva e monitoramento constante. Foi
assim também com o aparecimento da AIDS e a demonização dos grupos de risco e
do suposto ganho do “amor livre”. E assim as gerações vão passando com seus
jovens, que acham que os pais exageram, andando no limiar do risco e os pais,
que acham que os filhos não têm responsabilidade, buscando cada vez mais
mecanismos de controle.
O
que difere essa geração das demais é só uma coisa: a velocidade com que as
novidades aparecem. A bola da vez é o tão propagado jogo da baleia azul. Já foi
o saco na cabeça e já foi também a asfixia até o desmaio. E serão outros para
frente. Esse fator diferencial, ou seja, a velocidade, que talvez leve os pais
a maior desespero. Quando estão armando uma contraofensiva para derrotar o
“mal”, aparece outro completamente diferente que exigirá outro esforço para buscar
o antídoto. Sabem a causa disso? Do porque essa é uma batalha perdida? Pelo
simples fato que estamos tratando as consequências e não as causas. Crianças
que não tem conceitos, torna-se jovens suscetíveis e adultos incapazes. Como
trataremos de um “inimigo” que reside dentro de nós e não fora? Porque ideias
ruins sempre existiram na humanidade e não cessarão tão cedo. E a resposta
está, no meu entendimento, na educação de nossas crianças e jovens. Dando a
eles conceitos firmes e corretos. E não estou aqui falando de nada religioso e
ideológico. Estou falando de conceitos universais como da família, do afeto, de
Deus, de humanidade, de vida, de evolução. Conceitos que podem atuar como
defesas mentais em nossas crianças e evitar que se deixem levar por qualquer
fato estúpido e que atente contra seus princípios. Fora isso é enxugar gelo. Enquanto
ainda estivermos preocupados em caçar baleias, continuaremos sendo caça do
mundo cão.
Guilherme Augusto Santana
Goiânia, sexta feira 20 de abril de 2017
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