sexta-feira, 23 de março de 2012

Queimaremos cuecas na fogueira

Leitores amigos

Histórias e vivências.

Apreciem sem moderação


Queimaremos cuecas na fogueira



         O que pretendo relatar aqui foi uma experiência que tive essa semana e que remonta ao movimento de liberalização feminina dos anos 60 e seu ato mais lembrado na História que foi o “Bra-Burning” ou “Queima dos Sutiãs”. Como de praxe, gostaria de reforçar aos leitores que os relatos aqui expostos, são de cunho pessoal e intransferível. Às vezes pode parecer exagero, mas não passa de uma vivência colocada sob o foco de uma lupa para entendermos as nuances de fatos corriqueiros. Afinal, entendo que o segredo da vida esteja nos detalhes. Vamos aos fatos.

         Era uma quarta-feira como outra qualquer. Na proa trabalho pela manhã e uma reunião de negócios na hora do almoço. Nada de espetacular. Como de praxe, antes de sair de casa, avisei a esposa que não poderia levar os meninos na escola pois tinha a tal reunião de negócios. Ela concordou. Logo seu celular toca e no telefonema alguém avisa sobre um compromisso inadiável. Ela não pode mais levar os meninos na escola. Pensa. Ligo para mamãe. Ela sempre me salva. Mamãe pode. Enquanto isso banho, café da manhã e preparativos para sair. Mamãe liga de volta. Não pode mais. Vai ficar com a neta recém-nascida. Júlia. O jeito é cancelar o almoço. Esposa sai para trabalhar. Ficou para o pai (no caso eu) levar Helena no balé. Acorda Helena. Mamadeira para Helena. Helena vai arrumar. Cadê a empregada que não chega para fazer o coque de balé na Helena?! Liga para a empregada. “Olha Dr. Estou no médico. Não vou poder trabalhar hoje”. Nessa hora você escuta Maysa cantar: “meu mundo caiu!”. Sem esposa, sem mãe e sem empregada. E agora José? Rapidamente coloco os neurônios para funcionar. Não deve ser tão complicado assim. Conto a Helena que eu terei de fazer seu coque. Mando que ela busque os apetrechos para a realização da cirurgia. Ela sobe. Enquanto isso, acordo Otávio (o mais novo). Mamadeira para Otávio. Terei que levar Otávio comigo. Helena demora. “Anda menina senão atrasa!”. Helena volta com uma dúzia de coisas e uma folha de papel. “O que é isso?”. “Papai, como é sua primeira vez, fiz um esquema explicativo de como fazer um coque. Se você seguir direitinho não vai errar.”. Detalhe que ela só tem 6 anos. Na folha tinha desenhado passo a passo a execução do coque. Para não achar que é conversa de pai, anexarei a foto que tirei do esquema. Depois de fechar a boca de tanto espanto, comecei o ato. Vai daqui e vai dacolá. Faz um rabo de galo, coloca a liga, passa gumex (era assim que chamava na minha época), coloca grampo, coloca rede, amarra, desmancha e começa de novo. Além do desafio do coque, ainda tem Helena dando palpite e Otávio batendo nos dois com uma espada. Lá pela quarta tentativa a coisa ficou mais ou menos. Corre. Veste roupa no Otávio. Coloca menino na cadeirinha do carro. Vai. Na porta do Studio de balé Helena constata: “Esqueci minhas sapatilhas!”. Enche o olho de lágrima. A primeira reação é de dar uma senhora bronca, mas engole e sai para comprar uma sapatilha na loja mais próxima. Coloca menino na cadeirinha. Chega à loja. Desce menino da cadeirinha. Compra. Coloca menino na cadeirinha. Volta ao Studio. Nessa hora Otávio já dormiu. Não dá tempo de ir ao serviço e voltar. Dá uma volta. Volta para buscar Helena. Coloca menino na cadeirinha. Lembra que tem natação. Volta para casa. Desce menino e coloca as vestes para piscina. Cadê o protetor solar? “Esse dá alergia papai.”. Passa protetor (o que não dá alergia). Corre. Coloca menino na cadeirinha. Natação. Volta para casa. Arruma as mochilas da escola. Uniformes. Cadê os uniformes? Sempre estão fora da gaveta de uniformes. Arruma lanche. Nessa hora aquele pedido da escola de levar lanches saudáveis vai para o ralo. Skiny e bolacha recheada. É o jeito. É a pressa. Volta para a natação. Coloca menino na cadeirinha. Volta para casa. Direto para o banho. Enfia os dois no chuveiro. Linha de produção. Sai do banho. Seca e coloca roupa. Mamãe liga. “Vem almoçar aqui?”. Nessa hora você tem certeza da existência de Deus. Coloca menino na cadeirinha. Mochilas, lancheiras e uniformes. Casa de mamãe. Almoço. Corre que está atrasado. “Escovou os dentes?”. Lógico que não né? Coloca menino na cadeirinha. Escola. Quando chega à porta da escola você se sente como o mecânico de Formula 1 que está apertando o último parafuso da troca de pneus. Parece “slow motion”. Quando eles entram na escola dá vontade de levantar as mãos e zerar o cronômetro. Nesse instante você olha para o tempo e o sol brilhando. As nuvens vão passando e os passarinhos cantam. Estou livre!

         Como disse no começo, pode parecer um exagero, mas só a lente de aumento pode mostrar os detalhes e nos dizer algo de proveitoso sobre nossos fatos cotidianos. Primeiro que nós homens damos conta do recado. Essa coisa de serviço doméstico ser extremamente desgastante é conversa para boi dormir. Depois que entra no ritmo, podemos lidar com isso com a mão nas costas. Mais um marketing feminino que vai para o ralo. Segundo que nós homens, pais em especial, deveríamos assumir mais as tarefas cotidianas. Principalmente as que envolvem nossos filhos. Isso nos trás detalhes e riquezas que não conseguiríamos nunca somente aos fins de semana. Penso que esse é um dos segredos. No mais vê logo meu adicional de periculosidade e meus passes de ônibus que vou ali queimar umas cuecas na fogueira. Chega dessa opressão feminina.               







Guilherme Augusto Santana

Goiânia, sexta feira 23 de março de 2012

santanagui@hotmail.com



Como prometido, o esquema para se fazer um coque de balé. Qualquer dúvida contatar Helena.

Um comentário:

  1. OOOOOOOObá!!! manhãs livres e quintas à noite também ... só para vc entrar no ritmo.

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