sexta-feira, 13 de julho de 2012

Auto Epitáfio

Amigos leitores

que minha loucura seja perdoada.


Auto Epitáfio



O tema da crônica de hoje é um tanto fúnebre. Não tanto se recobrarmos o ofício do cidadão que vos escreve. Mas diríamos que não se trata de abordagem cotidiana e banal. A arte de escrever epitáfios remonta os primórdios da humanidade e tenta deixar para posteridade, em breves palavras, as vidas que jazem sob sete palmos. Poucos tiveram a coragem de escrevê-los ainda em vida. Talvez os poetas loucos e os coveiros (espero encaixar-me somente na segunda categoria). Dentre os raros que se arriscaram destaco “A hora íntima” de Vinícius de Morais com seu começo icônico: “Quem pagará o enterro e as flores se eu me morrer de amores? Quem, dentre amigos, tão amigo para estar no caixão comigo?”. Tirando a loucura e morbidez, muitos poderão se perguntar o porquê dessa atitude. Respondo de bate pronto. Aproxima-se a data de meu aniversário e aproveitando a máxima do inferno astral que supostamente beira tais dias, faço-o como um balanço desses anos passados de vida. Um resumo de atitudes, feitos, dores e amores que marcam a vida de um ser vivente e pensante. Talvez seja esse um dos motivos que levem os homens a não fazê-lo. Será que tenho algo de bom a dizer em defesa própria? Vivi uma vida que pôde, de alguma forma, ser cantada em verso e prosa? Tenho algo de importante que mereça ser grafado em minha lápide? Que cada um responda por si só essas perguntas. Mas deixemos de lado os delongados questionamentos da ignorância humana e partamos para o objetivo final. Segue escrito em letras esculpidas no frio mármore:
 

“ Aqui jaz um homem que morreu...

... de amores pela vida, pela morte, pelo nascer do sol, pelo por do sol, pelos sóis que iluminaram sua vida.
 

        Aqui jaz um homem que escreveu...

... seus sonhos, suas glórias, suas decepções, suas virtudes, seus amores, suas dores e suas mentiras.

Aqui jaz um homem que amou...

... as pessoas, as histórias, as paisagens, os excessos, as comidas, as bebidas, as músicas, os perfumes e a si próprio.


Aqui jaz um homem que falhou...

... em não ser rico, famoso, bonito, inteligente, perspicaz, humilde e sincero.


Aqui jaz um homem que abundou...

... em deficiências, erros, ilusões, vícios, paixões e comedimentos.

Aqui jaz um homem que mentiu...

... em dizer que era forte, que era imortal, que era capaz, que era único e que era passageiro.

Aqui jaz um homem que chorou...

... enquanto filho, marido, pai, irmão, amigo e criança.
 

Aqui jaz um homem que viveu...

... e que agora só o faz na lembrança dos que lhe queriam bem.”



Segue o cortejo.        




Guilherme Augusto Santana

Goiânia, sexta feira 13 de julho de 2012



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