sexta-feira, 6 de julho de 2012

O toque de Midas

caros amigos leitores

uma história de empreendedorismo.

em especial para meu amigo Newton Fernandes


O toque de Midas



Nos idos de 2003 em um desses aeroportos do Brasil no qual os goianos são obrigados a fazer conexão, estava eu sentado na sala de embarque quando um senhor sentado ao meu lado puxou conversa. De uma maneira muito simpática perguntou de onde vinha e para onde ia. Respondi-lhe que vinha de Goiânia e ia para meu primeiro congresso cemiterial. Apressei-me logo a explicar que era engenheiro e que naquele momento minha missão era desenvolver e construir um cemitério parque na capital de Goiás. Essa pressa em esclarecer ainda era fruto do meu preconceito interno sobre minha atual ocupação, qual seja, empresário do setor funerário. Ele muito tranquilamente escutou minhas palavras e em seguida, mais tranquilamente ainda, disse que também militava na área cemiterial. Era proprietário de um cemitério vertical em Curitiba. Naquele momento meus olhos brilharam como se tivesse encontrado alguém que de certa forma não me olharia torto pela ocupação funesta. Perguntei o que pude, e ele, dentro do meu afã por conhecimento, respondeu da maneira que pôde. Encantei-me por suas histórias e a partir daquele momento comecei minha paixão pelo setor que abarcava. Nascia ali naquela sala de embarque, a figura do “Coveiro”. Trocamos cartões de visita e nos despedimos prometendo encontro em breve para nova conversa. Deixei aquele senhor sentado na sala de embarque com a sensação de que ainda tinha muito a aprender com ele, mas que aquele não era o momento. Tudo na vida tem o momento certo.



            Semana passada estava tomando café e folhando uma revista, enquanto aguardava a hora de retornar ao batente, quando me deparei com uma reportagem que chamou a atenção. Falava sobre o sonho de um empreendedor em montar a primeira fábrica de automóveis 100% nacional. O ano era 1963 e o automóvel proposto era o Democrata. Na mesma hora identifiquei aquele senhor que havia encontrado no aeroporto no ano de 2003. Depois de devorar a reportagem, fotografei as páginas e enviei, via celular, para meu sócio e amigo na cidade de Curitiba. Sentia orgulho naquele momento, pois uma história que eu já conhecia estava sendo contada em uma revista de circulação nacional. Senti como um filho que escuta falar bem de seu pai. A Reportagem contava uma história de empreendedorismo e superação. Uma história digna de Cervantes. Em pleno florescimento dos anos de chumbo brasileiro a tentativa de implantar uma indústria nacional batendo de frente com as grandes montadoras automobilísticas da época. Realmente se assemelhava a Dom Quixote e suas batalhas desumanas contra os moinhos de vento. Mas não era ilusão. Talvez um pouco fora de seu tempo, mas aquilo era empreendedorismo.  



            Hoje recebi, via correio, uma encomenda de Curitiba muito especial. Um exemplar do livro “Democrata – o carro certo no tempo errado” de Roberto Nasser. O remetente foi o mesmo para quem mandei as fotos da reportagem na semana passada. Meu amigo e sócio Newton Fernandes. Filho do senhor que encontrei no aeroporto. Nelson Fernandes. Não contive a ansiedade e rasguei o envelope começando de imediato a leitura. Gosto muito de histórias de empreendedores. Ainda mais essa que está tão próxima do meu convívio. Já tive várias oportunidades de conversar com Dr. Nelson após o breve encontro no aeroporto, e toda vez que o faço tento sugar casos e contos de sua experiência de vida. Além da Indústria Brasileira de Automóveis Presidente – IBAP são de sua autoria o Acre Clube e o Hospital Presidente na cidade de São Paulo. Hoje o projeto é o belíssimo e bem sucedido Cemitério Vertical de Curitiba, administrado pelo filho e herdeiro de virtudes Newton. Penso que na vida às vezes nos encontramos com pessoas que estão além do seu tempo. E Dr. Nelson é uma dessas pessoas. E digo mais ainda. O empreendedor não é tão importante pela obra física que deixa para a posteridade, e sim pelo exemplo que incentiva novos feitos. Talvez aquele senhor do aeroporto não saiba e eu posso nunca ter dito, mas naquele momento ele deu a primeira martelada na forja do que poderia ser um projeto de futuro empreendedor. De forma desinteressada e magnânima. Característico dos homens além de seu tempo. E quem recebe só pode agradecer, e tentar retribuir passando seu legado para frente. Tudo no seu tempo.
    



Guilherme Augusto Santana

Goiânia, sexta feira 06 de julho de 2012







CAPA DO LIVRO 
























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