A ave e a Barbie
Quando li essa semana a
notícia do caso da bela moça que aplicava golpes pela internet bateu-me uma
imensa vergonha alheia. Para os que não estão cientes explico em poucas
palavras. Trata-se da prisão de uma gatuna que aplicava golpes de venda de
celulares e outros pela internet. Nada de novo não se tratasse de uma meliante
acima da média de beleza das mulheres brasileiras e que se utilizava desse
artifício para facilitar a atuação danosa. Não que as belas estejam incólumes
ao mal feito e que a culpa seja sempre das feias. Até apelido a moçoila tinha.
Barbie. Não quero aqui me ater aos detalhes dos delitos, mas a vergonha que
senti expressa no começo do texto. Mania que nós goianos temos de levar golpes
sô! Parece que fazem fila para ludibriar os pobres habitantes do Planalto
Central. Aí de imediato lembrei-me de uma crônica escrita no final do ano de
2005 que versava sobre o golpe do avestruz e tinha o título “Ave struz cheia de
graça”. Resolvi transcreve-la para que os leitores possam tirar suas próprias
conclusões:
“Há alguns meses (quase ano) atrás, chegou
um empresário Português da cidade do Porto a nossa cidade e levei-o para
almoçar e conversar sobre os negócios da terra. Ele, observando a dinâmica da
arquitetura, notou o avestruz. Questionou-me então se aquele negócio havia
chegado ao Brasil, e eu mais que prontamente respondi que era o negócio da
moda. Ele mais prontamente ainda me informou que o mesmo negócio tinha aportado
em terras Lusitanas ,
anos atrás, e tinha deixado rastro de quebradeira. Mudamos de assunto, mas um
questionamento dele ficou em minha mente: Raciocina comigo. Quem no mundo come
avestruz? Aqui no Brasil se come esta ave? Então para quem eles vão vender?
Ainda mais a um preço exorbitante... mas como eu não havia investido, pouco
interesse tinha na conversa. Passamos a conversar sobre vinho do Porto, assunto
bem mais interessante.
Hoje
vendo todo este caos em torno da inofensiva ave, lembro-me do conterrâneo
português, que aquela época já nos informava da barbárie do negócio. Também não
posso deixar, de como sempre, analisar a influência do lusitanismo português,
sempre no sentido sarcástico e nunca ofensivo, na formação do povo brasileiro.
Porque será que este negócio da China (nem sei se chinês come avestruz) conseguiu
terras férteis logo em países coirmãos? E logo em países descendentes de
Camões? Algo há! Será que nas raízes da cultura portuguesa a “ingenuidade” e a
propensão ao fácil são mais arraigadas? Enquanto escrevo esta crônica escuto
“Pecado Capital” na voz de Paulinho da Viola e, por uma coincidência de fatos,
a música é o retrato do malandro brasileiro a procura do dinheiro fácil.
“Dinheiro na mão é vendaval, na vida de um sonhador... “. Aí podemos entender
que a ingenuidade do português se associou a malevolência do negro africano e a
“pouca vontade” de trabalhar do índio Tupi-Guarani e tudo se misturou no
caldeirão da miscigenação surgindo a alegria do brasileiro, e é claro, a
malandragem. Para ter certeza desta teoria aguardemos os próximos países na
rota do avestruz. Caso seja Timor Leste, Angola e Macau... bingo!
Não
querendo ser precursor do Apocalipse nem aproveitador da desgraça já ocorrida,
mas eu bem que avisei! Também não tenho certeza se dei meu alerta por convicção
do imbróglio em que se metiam os investidores ou porque tinha inveja da coragem
que tinham de arriscar em causa tão perdida, e faturar unzinho na maciota. Mas
ao final prevaleceu a lógica, porque esta é uma lei inexorável da natureza. Por
alguns instantes pode parecer que as coisas se portam ilogicamente, mas ao
final tudo tende ao equilíbrio. Lei Natural. E aos meus conterrâneos,
especificamente, um aviso com cara de puxão de orelha: deixemos de nos portar
como os bugres que viviam nos Goyazes que se impressionavam com os bandeirantes
paulistas que ateavam fogo em cachaça se fazendo passar por Deuses que
colocavam fogo em água. Deixemos de endeusar forasteiros que chegam em Ferraris
gastando mundos e fundos, dando festas de arromba, e levando vida de marajás às
nossas custas. Esta época em que nós, índios, éramos enganados pelo Anhanguera
já passou. Raciocinemos que rendimentos de 11% ao mês nem prostituição e
drogas, só mesmo a venda do Eldorado aos incautos.
Ao
fim uma palavra de esperança aos que compraram o sonho de se tornarem ricos
sendo cowboys de avestruzes. Boa sorte. É o que resta. Ao fim de toda lógica
violada só resta a sorte, de que as aves sejam em número suficiente para serem
distribuídas irmanamente. E o que fazer com elas? Sinceramente não tenho esta
resposta. Só uma ideia. Ao invés de peru este fim de ano porque não...
Avestruz?”
Quem compartilha da minha
vergonha (mais uma vez) ponha o dedo aqui.
Guilherme Augusto
Santana
Goiânia, sexta feira 14 de agosto de 2015
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