Na torcida
Esses
dias estava eu assistindo a final do campeonato de futebol americano, o famoso
Super Bowl, quando veio a pergunta, sempre atemporal, de filha: “Papai, para
qual time você está torcendo? O de branco ou o de azul?”. Sem pestanejar
respondi que para nenhum dos dois. Complementei que quase nunca assistia aquele
tipo de esporte, e que acompanhava de curiosidade o jogo por ser uma final cercada
da mística americana do espetáculo. Ela não satisfeita insistiu para que eu escolhesse
um lado, mas resoluto da não necessidade, continuei assistindo sem esboçar
qualquer manifestação de apreço por nenhuma das equipes. Durante o jogo foi
surgindo uma leve tendência de torcida por minha parte e acabando a partida já
tinha me decidido sobre o lado preferido. Mesmo resoluto de minha neutralidade,
foi impossível não pender para um dos times. Passou sem análise das motivações.
Passou. Foi quando, nesse carnaval, estava acompanhando a apuração do desfile
das escolas de samba do Rio de Janeiro pelo rádio, quando me vi torcendo contra
a Estação Primeira de Mangueira. Cada nota 10 recebida pela escola era
acompanhada de um muxoxo da minha parte (o que não resolveu muito afinal ela
foi campeã). Instantaneamente me lembrei da final do campeonato de futebol
americano. Por que eu tinha que escolher um lado para torcer sendo que nem
carioca era? Nunca desfilei por nenhuma agremiação e não tenho ligação afetiva
com ninguém no ramo carnavalesco. Ao contrário, tenho tremendo apreço pela
cultura musical de Mestre Cartola um manqueirense histórico. Pus-me a pensar.
Por que essa necessidade premente do ser humano de tomar posição por algo ou
por alguém? Porque a neutralidade é vista como sinal de fraqueza? Porque é
necessário opinar sobre todos os assuntos mesmo que não se tenha certeza sobre
suas opiniões? De onde vem essa necessidade de torcer eu não sei, só percebo
que ela é nata do ser humano. Se opta pelo mais fraco, ou pelo mais pobre, ou
pelo mais bonito, ou pelo mais tradicional, ou pelo mais novo eu não sei. E nem
sei a lógica da escolha. Mas que acaba torcendo isso eu tenho certeza. Torce
por afinidade, torce por disputa, torce por desafinidade, torce por coleguismo,
torce por picuinha, torce por ódio, torce por amor, torce para não ficar de
fora dos assuntos. Todos nós ao final torcemos por um lado e pagamos esse
preço. E se mudamos de opinião e consequentemente de lado, pronto, somos
tachados de vira casaca e traíras. A torcida expressa é como uma tatuagem
indelével e perpétua. Marca o ser. E chegamos ao final dessa crônica com pouca
ou nenhuma resposta as nossas indagações, mas torço para que tenham gostado do
que leram. Se não gostaram não tem problema. Podem ler uma crônica de outra
pessoa. Torço para que vocês gostem. Seus traíras.
Guilherme Augusto Santana
Goiânia, sexta feira 12 de fevereiro de 2016
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