sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

na torcida


Na torcida

         

          Esses dias estava eu assistindo a final do campeonato de futebol americano, o famoso Super Bowl, quando veio a pergunta, sempre atemporal, de filha: “Papai, para qual time você está torcendo? O de branco ou o de azul?”. Sem pestanejar respondi que para nenhum dos dois. Complementei que quase nunca assistia aquele tipo de esporte, e que acompanhava de curiosidade o jogo por ser uma final cercada da mística americana do espetáculo. Ela não satisfeita insistiu para que eu escolhesse um lado, mas resoluto da não necessidade, continuei assistindo sem esboçar qualquer manifestação de apreço por nenhuma das equipes. Durante o jogo foi surgindo uma leve tendência de torcida por minha parte e acabando a partida já tinha me decidido sobre o lado preferido. Mesmo resoluto de minha neutralidade, foi impossível não pender para um dos times. Passou sem análise das motivações. Passou. Foi quando, nesse carnaval, estava acompanhando a apuração do desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro pelo rádio, quando me vi torcendo contra a Estação Primeira de Mangueira. Cada nota 10 recebida pela escola era acompanhada de um muxoxo da minha parte (o que não resolveu muito afinal ela foi campeã). Instantaneamente me lembrei da final do campeonato de futebol americano. Por que eu tinha que escolher um lado para torcer sendo que nem carioca era? Nunca desfilei por nenhuma agremiação e não tenho ligação afetiva com ninguém no ramo carnavalesco. Ao contrário, tenho tremendo apreço pela cultura musical de Mestre Cartola um manqueirense histórico. Pus-me a pensar. Por que essa necessidade premente do ser humano de tomar posição por algo ou por alguém? Porque a neutralidade é vista como sinal de fraqueza? Porque é necessário opinar sobre todos os assuntos mesmo que não se tenha certeza sobre suas opiniões? De onde vem essa necessidade de torcer eu não sei, só percebo que ela é nata do ser humano. Se opta pelo mais fraco, ou pelo mais pobre, ou pelo mais bonito, ou pelo mais tradicional, ou pelo mais novo eu não sei. E nem sei a lógica da escolha. Mas que acaba torcendo isso eu tenho certeza. Torce por afinidade, torce por disputa, torce por desafinidade, torce por coleguismo, torce por picuinha, torce por ódio, torce por amor, torce para não ficar de fora dos assuntos. Todos nós ao final torcemos por um lado e pagamos esse preço. E se mudamos de opinião e consequentemente de lado, pronto, somos tachados de vira casaca e traíras. A torcida expressa é como uma tatuagem indelével e perpétua. Marca o ser. E chegamos ao final dessa crônica com pouca ou nenhuma resposta as nossas indagações, mas torço para que tenham gostado do que leram. Se não gostaram não tem problema. Podem ler uma crônica de outra pessoa. Torço para que vocês gostem. Seus traíras.

 

 

Guilherme Augusto Santana

Goiânia, sexta feira 12 de fevereiro de 2016

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