sexta-feira, 8 de julho de 2016

o jogo da vida


O jogo da vida

 

          Estava eu esses dias dirigindo distraído, pensando na morte da bezerra como diriam na roça, quando veio a pergunta cabal do filho. Aquela que te pega desprevenido. Facada no rim.

- Papai, você já notou que somos perdedores?

          Nesse momento os pensamentos entram em curto circuito. Como assim perdedores? No sentido de fracassados? Incompetentes? Fracos? Qual fato teria provocado essa análise tão determinante? Tão novo e com um pessimismo tão forte.  Num instante de lucidez, quando a consciência assume depois do colapso, veio o aprendizado de fazer a repergunta.

- Como assim perdedores, meu filho?

- A gente sempre perde as coisas papai. Você já perdeu seu avô e um dia vai perder seu pai. E um dia eu vou perder você também.

          Bateu-me aquele alívio tranquilizador. Entendi. A preocupação da perda. Coisa comum nessa fase da vida que o pequeno se encontra. Por um momento todos achamos que os pais são imortais e quando descobrimos o erro, somos levados ao receio constante. O mesmo temor que, nós pais, temos quando nascem os filhos. O amor por aqueles pequenos seres é tão incomensurável que o simples pensamento de os perder nos leva a histeria mental. Nesse momento de reflexão, pensei na alegria que senti quando ele nasceu e, de maneira suave, tentei responder sua inquietação.

- É verdade meu filho. Mas também é verdade que somos ganhadores. Quando você nasceu eu ganhei você. E você ganhou quando suas priminhas mais novas nasceram.

          Olhei pelo retrovisor esperando ver sua reação e notei um sorriso em seus lábios. Ele havia entendido a mensagem e, por ora, havia aquietado seu pequeno coração da angústia da perda. Aproveitei a porta aberta e disse-lhe que esse era um dos sentidos da vida. Entender que algumas vezes ganhamos e outras perdemos. E que as perdas doem assim como os ganhos alegram. E ao final a felicidade é um resultado dessa equação matemática, onde não podemos jamais esquecer as perdas, mas ao mesmo tempo temos que buscar e valorizar os ganhos. Sempre.

          Seguimos então o caminho. Cada qual com seus pensamentos, suas perdas, seus ganhos e seus sorrisos no rosto.            

Guilherme Augusto Santana

Goiânia, sexta feira 08 de julho de 2016

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