Um
ser, o muro e a ciência Logosófica
Aquele
ser tinha chegado perto daquele muro por várias vezes. Sempre que se aproximava
era pura curiosidade. Puro assombro. Fazia uso de sua imaginação para tentar
adivinhar o que havia do outro lado. Era um ser curioso. Coisa que não era
muito bem vista onde vivia. Mas aquele ser não mais cabia dentro de seu mundo.
Por isso chegou mais perto daquele muro imenso. Como pode um ser comum com
aquele escalar tamanha monstruosidade? Será que valeria a pena escala-lo?
Poderia voltar caso não achasse o que procurava? Isso tudo afligia aquele ser.
O muro e seus pensamentos. Seus pensamentos e o muro.
Por
vezes se sentava bem perto daquela parede de tijolos e ficava em silencio. Quem
sabe escutasse algo que lhe desse ao menos uma pista sobre o que se encontrava
do outro lado. Nada. Somente o barulho da sua mente trabalhando sem parar em
busca de respostas. Quantas e quantas vezes dormiu escorado na parede fria sonhando
com a grama verde e o sol brilhando que havia do lado de lá. Cá lhe parecia
tudo cinza. Lá imaginava tudo colorido. Sonhou e sonhou. Dizia aos outros:
“ainda hei de passar para o outro lado”. Chamaram-no de louco. Muitos nem
enxergavam o muro. Muitos achavam que era blasfêmia. Muitos nem se importavam.
Mas ele se importava. Aquilo importava. Aquilo o importunava. Já tinha buscado
solução para essa importunação em muitos locais do lado de cá. Onde via uma
placa de solução entrava com seu problema. Mas nada adiantava. A solução que
lhe arrumavam importunava ainda mais. Mas do lado de lá do muro haveria de ter
respostas. Por várias vezes se postou diante de seu desafeto. Olhou para cima e
não conseguiu ver seu fim. Gritou. Esbravejou. Chutou. Chorou. Nada adiantou.
Um
dia, próximo à exaustão, conheceu um mestre de sabedoria e sua obra. Falava de
pensamentos, evolução, consciência, Leis Universais, afeto, gratidão,
conhecimento. Falava de tantas coisas. Ensinava tantas coisas. Ensinava a
pensar. Ensinava a ensinar. Aqueles ensinamentos o agradavam. Acalentavam.
Desafiavam. Um sussurro para seu espírito. Eis que, lançando mão da coragem,
abriu os olhos do entendimento e principiou a caminhar rumo ao muro. Subiu. Rastejou.
Suou. Sangrou. Chegou. Alegrou. Quando olhou todo aquele novo mundo que se
descortinava perante seus olhos, bateu-lhe a sensação de que acertara, apesar
de ver ainda muito caminho a trilhar. Viu outros seres caminhando junto com
ele. Seguiria. Seguiriam. De repente sentiu que abandonava algo vivido por
grande parte da vida. Foi num átimo de segundo que olhou para trás imaginando
ver o muro impávido. Para sua surpresa o colosso que lhe marcara a existência
havia sumido. Nem resquício do monstro de tijolos frios. Descobriu então que
podia voltar. Sentiu-se aliviado com essa oportunidade apesar de saber bem no
fundo que nunca mais o faria. Então caminhou rumo ao horizonte deixando para
trás o ser que deixou de ser, junto ao muro que deixou de existir para aquele
ser.
Guilherme
Augusto Santana
01/07/2016
Nenhum comentário:
Postar um comentário