sexta-feira, 1 de julho de 2016

Um ser, o muro e a ciência Logosófica


Um ser, o muro e a ciência Logosófica

Aquele ser tinha chegado perto daquele muro por várias vezes. Sempre que se aproximava era pura curiosidade. Puro assombro. Fazia uso de sua imaginação para tentar adivinhar o que havia do outro lado. Era um ser curioso. Coisa que não era muito bem vista onde vivia. Mas aquele ser não mais cabia dentro de seu mundo. Por isso chegou mais perto daquele muro imenso. Como pode um ser comum com aquele escalar tamanha monstruosidade? Será que valeria a pena escala-lo? Poderia voltar caso não achasse o que procurava? Isso tudo afligia aquele ser. O muro e seus pensamentos. Seus pensamentos e o muro.

Por vezes se sentava bem perto daquela parede de tijolos e ficava em silencio. Quem sabe escutasse algo que lhe desse ao menos uma pista sobre o que se encontrava do outro lado. Nada. Somente o barulho da sua mente trabalhando sem parar em busca de respostas. Quantas e quantas vezes dormiu escorado na parede fria sonhando com a grama verde e o sol brilhando que havia do lado de lá. Cá lhe parecia tudo cinza. Lá imaginava tudo colorido. Sonhou e sonhou. Dizia aos outros: “ainda hei de passar para o outro lado”. Chamaram-no de louco. Muitos nem enxergavam o muro. Muitos achavam que era blasfêmia. Muitos nem se importavam. Mas ele se importava. Aquilo importava. Aquilo o importunava. Já tinha buscado solução para essa importunação em muitos locais do lado de cá. Onde via uma placa de solução entrava com seu problema. Mas nada adiantava. A solução que lhe arrumavam importunava ainda mais. Mas do lado de lá do muro haveria de ter respostas. Por várias vezes se postou diante de seu desafeto. Olhou para cima e não conseguiu ver seu fim. Gritou. Esbravejou. Chutou. Chorou. Nada adiantou.

Um dia, próximo à exaustão, conheceu um mestre de sabedoria e sua obra. Falava de pensamentos, evolução, consciência, Leis Universais, afeto, gratidão, conhecimento. Falava de tantas coisas. Ensinava tantas coisas. Ensinava a pensar. Ensinava a ensinar. Aqueles ensinamentos o agradavam. Acalentavam. Desafiavam. Um sussurro para seu espírito. Eis que, lançando mão da coragem, abriu os olhos do entendimento e principiou a caminhar rumo ao muro. Subiu. Rastejou. Suou. Sangrou. Chegou. Alegrou. Quando olhou todo aquele novo mundo que se descortinava perante seus olhos, bateu-lhe a sensação de que acertara, apesar de ver ainda muito caminho a trilhar. Viu outros seres caminhando junto com ele. Seguiria. Seguiriam. De repente sentiu que abandonava algo vivido por grande parte da vida. Foi num átimo de segundo que olhou para trás imaginando ver o muro impávido. Para sua surpresa o colosso que lhe marcara a existência havia sumido. Nem resquício do monstro de tijolos frios. Descobriu então que podia voltar. Sentiu-se aliviado com essa oportunidade apesar de saber bem no fundo que nunca mais o faria. Então caminhou rumo ao horizonte deixando para trás o ser que deixou de ser, junto ao muro que deixou de existir para aquele ser.

Guilherme Augusto Santana

01/07/2016

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