quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Rosemary, Aquiles, Salomé e calcanhares

Cuidado com as mulheres Presidente...
 
 
 
Rosemary, Aquiles, Salomé e calcanhares

 

           

“- Dispara agora, filho de Príamo!. Ordenou Apolo, que arremessando-se junto com o dardo, foi conduzindo-o até o seu alvo, que era o calcanhar direito de Aquiles.

O guerreiro, alvejado pela seta mortal, sentiu o pé fraquejar, embora dor alguma lhe lancinasse as carnes.

- Fui alvejado… Gritou Aquiles, compreendendo, num instante, que seu fim se aproximava.

Arrancando o dardo do calcanhar, que sangrava copiosamente, mesmo assim o filho de Peleu ainda encontrou forças para continuar batalhando...

... - E tão certo quanto agora cumpro meu negro fado, chegará muito em breve a vez de vocês também cumprirem o seu! Não terão como escapar, e então sentirei espumar em minha boca, mesmo nas moradas sombrias, o sumo feliz da vingança!

Aquiles cerrou seus lábios e sua armadura finalmente retiniu sobre o chão, com imenso estrondo, cobrindo-se de seu próprio sangue ajuntado ao pó.”

(A morte de Aquiles – Lilia Cristina de Souza Machado)

 

“E, chegando um dia favorável em que Herodes no seu aniversário natalício dera um banquete aos seus dignatários, aos oficiais militares e aos principais da Galiléia, entrou a filha de Herodias (Salomé) e, dançando, agradou Herodes e aos seus convivas.

Então, disse o rei à jovem: Pede-me o que quiseres, e eu te darei.

E jurou-lhe: Se me pedires mesmo que seja a metade do meu reino, eu te darei.

Saindo ela, perguntou a sua mãe: Que pedirei? Esta respondeu: A cabeça de João Batista.

No mesmo instante, voltando apressadamente para junto do rei, disse: Quero que sem demora, me dês num prato a cabeça de João Batista.

(Bíblia – Marcos 6:21-25)

 
Uma coisa não podemos negar quando se trata do Partido dos Trabalhadores e o ex Presidente Lula. A lealdade canina dos seus integrantes para com seu presidente de honra. Uma a uma foram caindo as peças e em nenhum momento se viu um tiro de fogo amigo contra o ex Presidente. Quer ele estivesse ou não na cadeira de autoridade máxima do país. Muito se especula sobre o projeto de dominação do PT para com o Brasil e sua relação estreita com o que resta de socialismo revolucionário, “Chavismo”, “Castrismo”, entre outras teorias conspiratórias. O leitor sabe o que penso sobre essas fantasiosas teorias e não preciso dizer que acho-as no máximo engraçadas. Mas volto ao ponto em que comecei a crônica. Fidelidade é o ponto chave da questão do “petismo” e “lulismo”. Sucumbiram, em tabuleiro de xadrez, as torres, os bispos, os cavalos e um sem número de peões. Para cada cabeça cortada surgiu uma nova peça. Parecido com o rabo de lagartixa que cresce novamente após decepado ou abandonado em fuga. Sucumbiu seu principal articulador que agora fatalmente irá cumprir um tempinho de prisão e não se escuta nem uma palavra que envolva o nome do rei. Dirceu era o braço direito de Lula. Sucumbiu o herdeiro político e ideológico em questões até hoje obscuras e o rei continua incólume. Palocci era o braço esquerdo de Lula. Nisso tudo um peão se transforma em rainha. Todos protegendo o rei. Será assim por muito tempo? Seria a fidelidade petista impenetrável? Eis que surge o nome de Rosemary Noronha. Secretária da Presidência da República. Aquela que detém todos os segredos do reino. Alguém se lembra que o processo de derrubada do Presidente Collor iniciou-se com a cunhada Tereza Collor? Ah as mulheres... como Salomé...enfurecidas e vingativas. Dizem as más línguas que elas não podem ser contrariadas e muito menos abandonadas. A História nos conta isso. Seria Rosemary o calcanhar de Aquiles do intransponível rei? Seria ela a pedir a cabeça real em uma bandeja de prata? Ah as histórias, Histórias e estórias... veremos como acaba essa.

       

 

 

Guilherme Augusto Santana

Goiânia, quarta feira 05 de dezembro de 2012

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Macunaíma e Joaquim

segue uma reflexão no mínimo diferente.




Macunaíma e Joaquim

 
       

No ano de 1928 um dos mais importantes escritores brasileiros, Mario de Andrade, escrevia o romance modernista “Macunaíma” que é considerado um dos marcos da literatura nacional. O personagem tema era um índio nascido na floresta amazônica e que tinha uma fraqueza de caráter inigualável. Traição, preguiça e mentira eram características desse, que foi considerado o primeiro anti-herói nacional. Na verdade, como sugere a frase inicial do livro: “no fundo do mato virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa gente. Era preto retinto e filho do medo da noite.”, ironicamente, o autor pretendia sustentar que aquele representava o ideal de herói brasileiro. No fundo uma velada crítica a miscigenação de raças e religiões que adornavam a sociedade brasileira naquele início de século. A falta de caráter e principalmente a preguiça escancarada de Macunaíma aqueceu o imaginário popular e em muito contribuiu para o que Nelson Rodrigues chamaria mais tarde de “complexo de vira lata”, no qual o brasileiro se considerava raça miscigenada e por isso menos capaz que outros povos ditos puros. Mas não estamos aqui para analisar questões literárias e sim para capturar esse personagem, Macunaíma, para compararmos com outro que vem logo a seguir. Senão vejamos.

 

O assunto da semana que passou, foi a posse do Ministro Joaquim Barbosa como Presidente do impoluto Supremo Tribunal Federal, ou como carinhosamente chamam os brasileiros: “Supremo”. O primeiro Presidente negro do STF. E o mais empolgante de tudo: por méritos próprios. Joaquim se tornou pop. Capa de revista, jornal, blog, veículos nacionais e internacionais. Assunto de mesa de boteco. Comparam-no com Batman (sem conotação de homossexualidade). Cotaram-no para Presidente da República. Pensaram-no para ajudar o Palmeiras a não cair para a segundona. Chamaram-no de herói. Aí o ponto onde quero chegar. HERÓI. Um país que tem um histórico recente de democracia e encontra poucas pessoas na vida pública que possam encarnar essa tão importante veste. Seria Joaquim a antítese de Macunaíma? Seria ele o anti anti-herói? Um homem de reputação ilibada e caráter reto? Será esse o ideal de salvador da pátria que tanto ansiamos? Senão pensemos.

 

Isso tudo mereceria uma tese de doutorado. Assunto vasto que merece dissecação acurada. Logicamente que seria quase insano comparar um personagem plasmado em páginas de livro com uma pessoa real de carne, osso e humanidade. Macunaíma foi criado para extremar a falta de caráter a que pode chegar um ser. E por isso acho temeroso tentar fazer de Joaquim o extremo oposto. O homem caráter. Reto e indefectível. Já observamos alias, algumas manifestações de sua personalidade que não consideramos de todo qualidades. Mas também não estamos aqui para analisar essa ou aquela atitude do Presidente do STF, e sim para tentar entender o efeito que isso causa no brasileiro. Aos poucos vai caindo por terra a tese de Nelson do cachorro vira lata. Talvez até por conta de nossa miscigenação concentrada (Isso também mereceria outra tese). Talvez porque a mistura de raças e culturas nos tenha dado algo muito importante nos dias atuais de globalização. A famosa “adaptabilidade”. E para quem nos chama constantemente de “República de bananas”, digo o seguinte: Yes, nós temos bananas! E temos também Joaquim! Vai encarar?          

 

 

Guilherme Augusto Santana

Goiânia, sexta feira 23 de novembro de 2012

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Família, família

Uma confissão de amor a minha família e ao bem que ela me faz.



Família, família

 

            Canta Titãs: “Família, família, papai, mamãe, titia. Família, família, almoça junto todo dia. Nunca perde essa mania.”. Porém temos visto que esse conceito tem mudado ao longo dos tempos. Quer seja pelas novas estruturas não ortodoxas das famílias modernas, quer seja pela ciranda da vida moderna que impede a continuidade de seus ritos tradicionais. Em resumo, a instituição “família” em seu significado original, está se perdendo. Diria melhor. Está em fase de mutação. Eu me considero uma pessoa de sorte. Ainda tenho uma família tradicional. Pode parecer pretensão ou conservadorismo, mas orgulho-me ainda mais disso. Que atire a primeira pedra quem passou dos 30 e não viu seus conceitos se despirem do liberalismo de adolescente. Mas não entremos em polêmica. Hoje quero falar de família. Da minha. Ontem parte dela se reuniu. Comemoração. Alias tenho notado que ultimamente as famílias tem se reunido somente por dois motivos: Comemorações e velórios (sendo que a segundo não é permitido falar mal de ninguém). Voltemos. Comemorávamos o aniversário de um tio que não mora na cidade. Um médico errante. De homens e de almas como São Lucas. Uma pessoa muito querida por toda família. Mas quem não é? Cada um o é, a sua maneira. Tios, primos, filhos, netos, bisnetos, noras, mães, agregados e crianças. Criança não tem classificação. Apesar de que nessas mudanças de conceitos, elas, as crianças, estão se tornado cada vez mais dominantes. Ah e ia esquecendo a figura primaz! A matriarca. Aquela que tudo vê apesar de todos acharem que os detalhes lhe são alheios. Engano. Lá está ela sempre a observar e sorrir como que dando uma benção para toda aquela algazarra de gerações que se mistura entre comidas, bebidas e conversas. Cada um fala de suas experiências, vivências, mágoas e percepções da vida e de como a novela está chata. Enquanto isso, as garrafas de vinho vão sendo abertas e estancadas numa profusão de aromas que estimula cada vez mais a elevação do volume da conversa. Todos gritam, riem, gargalham e se entendem. Como se nada mais importasse em suas vidas a não ser aquele momento. Talvez quem olhe de fora não entenda que dialeto aqueles seres proferem, mas podem ter certeza que o entendimento se faz presente. Nem sempre por palavras, mas por laços de afeição. A velada linguagem dos sentimentos, que naquela mesa transborda. As crianças quebram o ritmo da conversa enfiando suas mãos nos tira gostos sobre a mesa como se fossem batatas fritas e sempre recebem reprimendas como se valessem de alguma coisa. Ora ou outra se escutam choros e brigas que logo se desfazem com uma boa conversa ao pé do ouvido: “se você não parar de brigar com seu primo nós vamos embora”. E nesse momento o que menos as crianças querem é deixar a brincadeira. Paro por um momento para observar toda essa profusão. Vejo muitas coisas. Sinto muitas coisas. Olho para a matriarca. Ela me olha. Sorri. Não sou o único a observar. Não sou o único a sentir. E as conversas continuam. E de repente, não mais que de repente, todos acordam da hipnose familiar e percebem que as horas já avançaram e que é necessário voltar para suas casa. Despedem-se com o compromisso de voltarem a se encontrar. As vidas retomam seus caminhos.

 

Hoje acordei com uma ressaca danada. Não do vinho, mas da saudade. Essa não se cura com água ou analgésico. Ela só vai passar quando nos reunirmos de novo. A família. Espero que seja breve.

 

Guilherme Augusto Santana

07/11/2012

santanagui@hotmail.com

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

JK procuram-se outros

amigos leitores

com a aproximação de mais um pleito eletivo desenterrei uma crônica escrita em 2006, mas que espelha ainda meu fascínio pela figura de JK.


espero que gostem



JK PROCURAM-SE OUTROS



Sempre tive um fascínio por Brasília desde a infância, quando visitava familiares que moravam na capital. Tudo muito espaçado, planejado, harmônico, limpo e principalmente grande. Passava horas a fio observando os prédios, as avenidas, a torre de TV, a Catedral e o Congresso. Talvez esse fosse um dos motivos que me fazia perder em Brasília toda vez que ia dirigindo à cidade: ficava meio embriagado com a beleza. Nenhum compromisso com hora marcada tinha mais importância do que apreciar aquelas formas de Oscar. Ficava imaginando quantos homens, burros, máquinas, suor, lágrimas e sangue haviam sido despendidos para realizar tamanha façanha. Imaginava também quanto preconceito, hesitação, crítica, menosprezo, macumba e outros que não sofreu Juscelino Kubitschek e sua equipe ao transladar a capital federal da cidade maravilhosa para o árido Planalto Central. Vocês conseguem imaginar a cara dos funcionários públicos que moravam na beira da praia, aos pés do Cristo Redentor, ter que se mudar para “o meio do mato”? Imagino que os que não se demitiram e partiram para a jornada devem ter ficado emburrados por anos, senão estão até hoje. E por esses e por outros motivos que crescia minha admiração por Oscar Niemeyer, Lúcio Costa, Israel Pinheiro e principalmente por JK.

Tinha anos que não entrava no memorial JK. Para ser sincero desde criança quando a escola patrocinava excursões para conhecer cidades históricas. Voltei lá estes dias. Acho que motivado principalmente pela “JK mania” que toma conta do Brasil. Realmente foi emocionante. Realmente é emocionante. Quem dera se todo homem ou mulher que teve importância histórica para o Brasil tivesse um templo como aquele, para mostrar às gerações futuras o quão importante foi sua contribuição para a formação de nosso país. Quem dera se houvessem mais minisséries, novelas e filmes para retratar a vida e a realização de pessoas que só conhecemos nos livros de história como Assis Chateaubriant, Getúlio Vargas, Luiz Carlos Prestes, Rui Barbosa, Santos Dumont entre outros. Seria um passo fundamental para que o povo brasileiro entendesse seu passado e as lutas que foram travadas para que o país chegasse à atualidade melhor do que foi. Porque o povo que não conhece , valoriza e aprende com seu passado não tem direito a futuro. O cidadão que passa pela rua Princesa Isabel e não entende sua importância histórica não merece estar alforriado.

Uma crônica seria ínfima para dissertar sobre tudo que JK realizou, pensou, idealizou, amou, traiu e construiu. Por isso existem as inúmeras biografias espalhadas pelas livrarias, inclusive as que ele mesmo escreveu. Portanto não me preocupo em narrar nada de espetacular ou inédito sobre a vida do Presidente, preocupo-me apenas em colocar minhas impressões e sentimento sobre esta figura que antes de tudo foi um homem na acepção da palavra. Um homem virtuoso e falível como todos. Mas que valorizava suas qualidades, potencializando-as acima de seus defeitos. Nada desta versão “pasteurizada” que a TV apresenta, como um super-herói que não erra. Pelo contrário. Juscelino tinha defeitos de “carrada”. Mas tinha virtudes ainda maiores. Um conquistador nato. Tanto de mulheres como de homens. Amigo dos seus amigos e também dos seus inimigos. Logicamente que nada sem interesse. Carismático e sorridente. Perseverante e flexível. Mas não era insensível. Chorou quando viu a represa da Pampulha romper e foi o único governador a estar presente no enterro de Vargas. Teve muitos amores e amantes, sendo que o Brasil foi o principal deles. Mas acima de tudo tinha coragem, e sonhava com um Brasil próspero, e tinha coragem de contar seus sonhos e mais ainda de colocá-los em prática. Um presidente como poucos, um homem raro.

Tenho um amigo, que por coincidência ou não, é conterrâneo do Presidente: cidadão de Diamantina. Em seu escritório grudado à janela, dando para o nascer do sol, existe um adesivo que toda vez que leio não posso deixar de me sensibilizar e refletir profundamente. Os dizeres são: “JK procura-se outro”. Eu acrescentaria um “m” e um “s” à frase: procuram-se outros. Porque nós não precisamos somente de um governante grande como JK. Nós precisamos, sim, de um povo grande que se assemelhe a JK.


Guilherme Augusto Santana
Goiânia, 10/02/2006

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

sobre educação

educar filhos: um desafio constante


Sobre educação

 

Já diria o ditado mais que popular, que de boas intenções o inferno está cheio. A maioria dos grandes erros da humanidade iniciaram-se com as ditas boas intenções. E penso que transladando para o mundo da educação infantil podemos cair na mesma vertente. Por que digo isso? Por que como pais e educadores, estamos sempre na linha tênue entre acertar e errar quando educamos nossos filhos. Não existe receita de bolo no processo educacional e não passamos de experimentadores a testar nossa capacidade de transferir conhecimentos e conceitos. E muitas das vezes, nem dominamos e muito menos temos pacificado dentro de nós os tais conhecimentos e conceitos que tentamos legar. Ossos do ofício dos educadores. Por que estou falando isso? Logo explico.

Helena, minha filha mais velha está na fase de entender o valor financeiro das coisas e consequentemente criando fascinação pelo dinheiro, o que é muito característico dessa fase. Eis que algumas semanas atrás ela manifestou o desejo de adquirir um brinquedo. O pai recusou. Não por falta de dinheiro, mas por entender que a mocinha merecia um freio em seu ímpeto consumista (que aliás, é uma coisa extremamente difícil de combater nos dias de hoje). Não satisfeita ela decidiu que ganharia seu próprio dinheiro para satisfazer a vontade do mimo. Nessa hora sua direção educacional muda por completo. Passa-se de “não incentivador do consumismo” para incentivador do “vire-se” como forma de crescimento individual. Pois bem. Mas o que vender? Entra nesse ponto o imediatismo das crianças que querem ver seus problemas resolvidos instantaneamente. Quando ela percebe que não será fácil, lança-se aos prantos. Outra reação típica. Acalma-se. Aí vem uma manifestação muito característica dela. Desenha com letras recortadas a frase: “Helena quer vender”. O pai acha engraçadinho e posta na rede social. As pessoas se comovem. O que aquela menina queria vender? Porque estava chorando? Coitadinha! Mostro a ela as manifestações. Ela delira. Aí o pai dá a ideia: Porque você não faz desenhos exclusivos e vende para as pessoas? Se tivesse uma máquina fotográfica para poder captar o brilho no olho da criança... Colocamos a ideia em pratica. Rede social e esperamos. Logo surgem as primeiras encomendas. Ela rapidamente se lança aos lápis de cor. Esmera-se. Colore. Posto os desenhos. Ela quer saber quais foram os comentários. Ela não quer dormir. Quer fazer logo todas as encomendas. Quer saber detalhes das pessoas que pediram os desenhos para ser bem personalista. Dá gosto ver a maneira com que ela plasma sua alegria na folha de papel. Parece tudo perfeito né? Mas não é. E o que isso tem de risco? Logo explico.

Parei para refletir sobre o ato. Pontos positivos e negativos. O que provocou essa minha parada para reflexão foi a ansiedade dela em saber o que as pessoas tinham comentado sobre seus desenhos. As dúvidas começam a pulular na mente do pai educador. Não estaria a pequena mente em formação preocupada demais com opiniões instantâneas? A não confirmação das expectativas não poderia causar uma frustração irreversível? Ou a frustração faz parte do processo de crescimento? Em qual proporção? O imediatismo das redes sociais não traz uma dificuldade de fixação dos conceitos permanentes? A exposição excessiva não traria uma certeza infantil de supervalorização de suas habilidades? Para variar não sei responder todas as perguntas. Deixo para vocês tentarem fazê-lo. O que me alenta depois de tantas perguntas foi lembrar de uma passagem da minha infância. Quando criança e adolescente trabalhei (durante as férias escolares) em uma loja de canetas que pertencia à família no centro da cidade. Foram momentos de aprendizado intenso. Convivência com conceitos que moldaram meu caráter e minha maneira de enxergar as convivências humanas. Aprendi a tomar gosto pelo comércio e entendi que o “não” faz parte do seu crescimento pessoal. Assim como o “sim”, logicamente que o primeiro de maneira muito mais dolorosa. Penso que nos dias atuais os conceitos não mudaram muito, com exceção da velocidade de informações. Por isso fiquei mais tranquilo. Movimentar a mente de nossas crianças no sentido de lhes disponibilizar crescimento é fundamental. Logicamente que com responsabilidade e discernimento dos conceitos. Esse é o desafio.       

                       

 

 

Guilherme Augusto Santana

Goiânia, sexta feira 31 de agosto de 2012

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

O que diria Nelson

E ai? O que diria Nelson?



O que diria Nelson

 

Essa semana, mais precisamente ontem dia 23 de agosto, comemoraria 100 anos de nascimento, se vivo estivesse, o impagável Nelson Rodrigues. Recifense de nascimento e carioca de paixão foi considerado por muitos o maior dramaturgo brasileiro. Talvez não seja essa a unanimidade em sua vida, e sim sua irreverência e acidez politicamente incorretas. Autor de diversas peças, crônicas e contos, Nelson tentou de uma forma freudiana colocar toda a culpa das mazelas da sociedade brasileira no sexo. E sejamos francos quanto ao ineditismo de abordagens de temas como incesto, homossexualismo e adultério. Peças como “Vestido de noiva” e “O beijo no asfalto”, contos como “A dama do lotação” e “A vida como ela é” imortalizaram o escritor e o colocaram no rol dos mais lidos da literatura brasileira. Fanático torcedor do Fluminense estendeu suas talentosas mãos para a crônica esportiva e junto com seu irmão Mário Filho fez história nos ritos da grande paixão nacional. Além de todo talento controverso para a literatura e a polêmica, Nelson é conhecido como um dos maiores frasistas do país, tendo destilado sua acidez para todo canto possível e imaginado. Lendo sua biografia, descobri que no dia do seu falecimento ele havia acertado os 13 pontos da loteria esportiva (sem saber do fato visto que faleceu pela manha e o resultado da loteria só saiu à tarde) e pensei numa frase célebre proferida por ele: “Deus está nas coincidências.”. Pensando nisso resolvi fazer uma homenagem ao mestre da dramaturgia, propondo um exercício no mínimo interessante. Caso Nelson Rodrigues estivesse vivo, que frases ele diria para algumas personalidades nacionais e internacionais? Senão vejamos.

 

Diria para Maria da Penha:

“Nem todas as mulheres gostam de apanhar, só as normais. As neuróticas reagem.”

 

Diria para o Papa Bento XVI:

“Não se apresse em perdoar. A misericórdia também corrompe.”

 

Diria para Sandy:

“O pudor é a mais afrodisíaca das virtudes.”

 

Diria para os brasileiros favoritos que sucumbiram nas Olimpíadas de Londres:

“O brasileiro não está preparado para ser o maior do mundo em coisa nenhuma. Ser o maior do mundo em qualquer coisa, mesmo em cuspe à distância, implica uma grave, pesada e sufocante responsabilidade.”

 

Diria para o físico Stephen Wawking:

“Qualquer individuo é mais importante do que a Via Láctea”

 

Diria para o Cadinho da novela Avenida Brasil:

“Os homens mentiriam menos se as mulheres fizessem menos perguntas.”

 

Diria para Mônica Lewinsky:

“Sem paixão não dá nem para chupar um picolé.”

 

Diria para Hugo Chaves:

“Se os fatos são contra mim, pior para os fatos.”

 

Diria para todos das redes sociais que cultuam a sexta feira:

“Sexta feira é o dia em que a virtude prevarica.”

 

Diria para Gretchen:

“Qualquer um de nós já amou errado, já odiou errado.”

 

Diria para o Tiririca:

“Não reparem que eu misture os tratamentos de “tu” e “você”. Não acredito em brasileiro sem erros de concordância.”

 

Diria para Gisele Bundchen:

“Toda mulher bonita, é namorada lésbica de si mesma.”

 

Diria para  Adriano O Imperador:

“O Flamengo tem mais torcida, o Fluminense tem mais gente.”

 

Diria aos coveiros:

“A morte é um grande despertar.”

 

Diria ao Lula:

“O Presidente que deixa o poder passa a ser, automaticamente, um chato.”

 

Diria de si mesmo:

“Chegou às redações a notícia da minha morte. E os bons colegas trataram de fazer a notícia. Se é verdade o que disseram de mim os necrólogos, com a generosa abundância de todos os necrólogos, sou de fato um bom sujeito.”

 

                       

 

 

Guilherme Augusto Santana

Goiânia, sexta feira 24 de agosto de 2012

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Ser Pai também é...

Amigos leitores

Depois da poesia vem a conta.

Uma visão bem real sobre os ônus de ser pai



Ser Pai também é...



            Muitos dos leitores devem ser lembrar que a crônica da semana passada foi sobre o dia dos pais. Reeditei um semi poema dedicado a minha primeira filha por ocasião do seu nascimento. Ali ficaram escancaradas as sensações, descobertas e alegrias de um pai de primeira viagem embarcando na nave do amor incondicional. Muitos acharam lindo e poético. Eu também! Mas agora vamos bater uma real? Vamos ao lado “obrigações” do ser pai? Espero que estejam preparados, porque não vai ser nada poético dessa vez. Então aqueles que estão em dúvida sobre ter filhos, aconselho que abandonem o texto nesse momento. Não me responsabilizo por traumas de leitura.

           

            A frase “todos veem a cachaça que eu bebo, mas poucos veem os tombos que levo” seria cômica se não fosse trágica. E real. Educar filhos é uma arte no mínimo espinhosa. Delicada. Afinal estamos lidando com mentes em formação. Aí muitos poderiam supor que isso denotasse fragilidade e inocência. Ledo engano. Por estarem em formação, essas pequenas mentes ainda não distinguem bem o certo do errado e muitas vezes erram querendo acertar e acertam querendo errar. E os pais (sempre me colocando no meio destes) com seus conceitos bem definidos, não conseguem assimilar esse método infantil de erro e acerto. É fácil de entender. Mirem no exemplo. Você sabe qual cor é o azul. Eu sei também. Aprendi isso e a informação faz parte do meu conceito. Vamos lá. A criança não sabe o que é azul. Aí se você pergunta para ela onde está o azul e ela aponta o amarelo, é como se acendesse uma luz vermelha no seu cérebro. Você explica que aquele que ela apontou é o amarelo e aponta novamente o azul como a resposta certa. Pergunta de novo qual é o azul. Ela aponta para o verde. Nesse ponto o pai descobre que a repetição dos conceitos faz parte da fixação dos mesmos. Porém a paciência é inversamente proporcional ao número de vezes que você repete qual é o azul. Funciona assim. Minha filha mais velha tem me dito com frequência que não tem paciência para fazer suas tarefas de casa, e eu me pergunto: Será que eu tenho paciência suficiente para ensiná-la a ter paciência? Ou será que ela aprende melhor a ter paciência, detectando a paciência nos atos de seu pai? Seria a famosa educação por exemplos. Outro aspecto interessante que temos que lidar na educação de filhos é a firmeza de nossa postura e o valor da palavra. Essa semana estava eu, pai avulso (esposa tinha viajado), com os dois pequenos em uma feira que acontece no meu condomínio uma vez por semana. Procuro estabelecer as regras para esses eventos antecipadamente com os meninos. Tipo: primeira coisa que fazemos ao chegar é cumprimentar todo mundo da mesa e depois escolher algo para comer e depois ir brincar. Coisas desse tipo. Eis que a primeira regra estabelecida foi: Não teremos sobremesa hoje. Vocês estão comendo doce demais a noite. Ok? O mais novo pergunta: “papai, vou pedir um pastel de banana com canela. Pode?”. “Pastel de banana com canela é doce (pelo menos no meu conceito). Então não pode. Peça um de queijo.”. Sai um menino para cada lado e num átimo de segundo o que foi pedir o pastel volta. Sem o pastel e mastigando alguma coisa. Senti o cheiro de doce. Tentando me controlar pergunto o que ele comia. Ele, muito espertamente para a idade, mostrou que estava com a boca cheia e que responderia após engolir a comida. Provavelmente pensou que se falasse de boca cheia estaria cometendo dois delitos e que sua pena poderia ser maior. Logicamente que ele demorou uma década para terminar de mastigar imaginando que eu pudesse esquecer o delito. Pacientemente esperei a deglutição e perguntei novamente o que era em sua boca. Ele me respondeu que era um doce. Nessa hora dá vontade de pegar pelos cabelos e gritar qual parte do “não é para comer doce” ele não entendeu, mas de maneira sutil iniciei uma conversa. Nessa hora a mesa inteira de avós, tias e afins está a te olhar esperando sua reação. Relembrei a criança o combinado e sentenciei: Estará de castigo pelo resto da noite. O que significa isso na prática? Ficar sentado ao meu lado e não poder ir brincar no parquinho. Aí começa a revolta geral. Inicia-se pela irmã mais nova que vem igual uma cobra caninana tentar um Habeas Corpus. Nessa hora você já não está se sentido bem. Os olhares de reprovação são lançados por muitos. Você se sente injusto. A criança que está de castigo começa a argumentar e dizer que não fará mais isso e que se arrepende do seu erro. Você se sente um sem coração. A partir desse momento nada mais desce redondo. Nem o pastel nem o suco e nem a conversa. Você se sente um monstro, déspota, covarde e insensível. Mas uma coisa é certa. Você lançou sua palavra. E se tem alguma coisa que aprendi com educação é que a palavra lançada tem que ser cumprida. Uso muito um exemplo esdrúxulo para justificar a perspicácia das crianças em detectar erros paternos e se aproveitar deles. Digo que elas se assemelham aos Veliciraptores (dinossauros retratados no filme “Parque dos Dinossauros”) que ficam testando a cerca elétrica a todo o momento buscando uma falha para escaparem. Assim funcionam as crianças. Testam os pais a todo o momento e se apegam aos seus deslizes para errarem também. Correndo o risco de ser considerado um monstro, mantive minha palavra e fomos no mesmo enredo até o fim da noite. Se ele ficou com raiva de mim? Parece que não. No outro dia acordou com a felicidade que lhe é peculiar e a relação voltou ao seu estado harmônico. Se as avós, tias, irmãs e afins ficaram com raiva de mim? Provavelmente sim. Mas esse é um dos ônus da educação. Uma coisa é certa. Educar é uma função individual e intransferível. Não podemos achar que delegando a outros essa função, cumpriremos nossa missão de pai. E para não terminar só com bronca e para que o leitor não fique também achando que sou um monstro, citarei uma frase de minha autoria que postei no twitter essa semana. Ela expressa, no meu entendimento, a relação ônus e bônus de ser pai. É mais ou menos assim: “Se não tivesse tido filhos, talvez não tivessem tantos livros inacabados na minha vida, mas com certeza, o livro da minha vida estaria inacabado.”.        









Guilherme Augusto Santana

Goiânia, sexta feira 17 de agosto de 2012

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Ser pai é...

Amigos leitores

Esse mimo foi escrito por conta do nascimento da minha primeira filha, Helena. Confesso que meus olhos enchem de lágrimas toda vez que o leio. Coisas de pai.

Espero que gostem


Ser Pai é ...



... conversar com a barriga da esposa mesmo que isso pareça ridículo.

... ir às compras com a grávida e notar a diferença entre as roupinhas de bebê.

... olhar o preço dos carrinhos e não converter em cerveja.

... ir ao supermercado comprar mantimentos alegre e sorridente.

... saber que sua vida vai mudar e se sentir bem com isso.

... achar sua grávida linda e sexy.

... contar do fato para todo mundo e esperar um elogio.

...  ajudar a escolher os móveis do quarto e não brigar com a vendedora.

... ouvir as reclamações de dor e sempre ter uma palavra de incentivo.

... se abster da bebedeira e principalmente do charuto no quarto da maternidade.

... entrar na sala de parto mesmo correndo o risco de passar vergonha.

... não avançar no pediatra quando ele enfia todos aqueles tubos na criança.

... dizer que é linda mesmo que ela, a princípio, se pareça com um joelho.

... aceitar aquelas brincadeiras sem graça tipo: passar de consumidor a fornecedor.

... pegar o bebê sem medo de que você possa quebrá-lo.

... trocar a fralda assim que possível e as avós deixarem.

... participar do primeiro banho mesmo que seja de fotógrafo.

... cuidar da mãe para que ela não se sinta deprimida.

... começar a estudar farmácia e aprender os nomes dos remédios.

... interromper o jogo da TV ao meio para verificar qualquer barulho no berço.

... achar o espirro dela a coisa mais linda do mundo.

... cheirar o cocô para verificar se anda tudo bem.

... acordar a noite pra participar do pagodinho da madrugada.

... mudar seu ciclo de sono para de duas em duas horas.

... colocar para arrotar mesmo que isso exija uma dançinha especial.

... colocar a foto da filha no protetor de tela do computador.

... ter vontade de morder seus braçinhos e perninhas.

... conversar com ela mesmo que no começo ela não retribua.

... entender que o laço de mãe e filha é mais forte.

... perceber as pequenas mudanças que vão surgindo.

... explodir de orgulho quando alguém fala que ela se parece com você, mesmo que seja a sobrancelha.

... se pegar às vezes com os olhos cheios de lágrima olhando para aquela criaturazinha indefesa e pensando como a vida lhe foi generosa.



Ser pai é ...



Participar, ajudar, sofrer, ensinar, chorar, se emocionar...



É saber que a partir daquele momento você nunca mais será o mesmo, e ter orgulho disso.



Agora eu sou pai.



Guilherme Augusto Santana

21/09/2005

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Show do Mensalão

Bem amigos da Rede Globo!



Show do Mensalão



Bem amigos da Rede Globo! É hoje a grande decisão. Os times já se preparam para entrar em campo. As torcidas em polvorosa esperando o início do espetáculo. E vamos às escalações dos times. O STFutebol Clube entra em campo com a seguinte escalação: Presidente Ayres Britto no gol. A defesa é composta por Cesar Peluso na lateral esquerda, Marco Aurélio Mello e Celso de Mello no miolo de zaga e Gilmar Mendes na lateral direita fechando. O Meio de campo é formado por dois volantes. Ricardo Lewandowski e Luiz Fux. Armando as jogadas e fechando o meio de campo estão as meninas (não tão meninas assim) Cármem Lúcia e Rosa Maria Weber. E finalmente no ataque os artilheiros Joaquim Barbosa e Dias Toffoli. Sendo que esse último não sabe se entra em campo, pois paira sobre ele a síndrome do PT (Perda Total). O time dos Mensaleiros Futebol Clube entra em campo com 38 réus e 122 advogados sob a vaia contundente da torcida. E vai começar o espetáculo! Apita o juiz!

            Poderíamos confundir muito bem o julgamento do Mensalão pelo STF, com as três paixões nacionais. Cito: futebol, carnaval e novela. Isso tudo devido à importância midiática do fato e do acompanhamento maciço pelo grande público. Está bonito de se ver as rodas dos botecos comentarem entre os resultados do Brasileirão, os embates entre vilã e mocinha da novela das oito, as notas 10 da comissão de frente e bateria e as questões de ordem do julgamento. Os interesses por entender a estratificação da justiça brasileira, os ritos, termos e porquês das coisas que se sucedem. São opiniões mil que se amontoam. Das mais corretas as mais esdrúxulas que demonstram que o brasileiro está cada dia mais evoluindo em seu dever cívico político. Mesmo que seja uma piadinha ou um comentário deslocado, tudo representa um afã do cidadão em entender como funciona e poder opinar sobre as questões de relevância do país. Bonito também de se ver o papel da mídia mostrando todas as nuances e replays dos melhores momentos. Requentando notícia de vez em quando, é certo, mas tentando traduzir para o grande público os termos difíceis de nossos Ministros. Ao menos tentando. Outra coisa interessante de se ver é a atuação da Polícia Federal e do Ministério Público que de certa maneira tenta mostrar ao cidadão brasileiro que está atuando em defesa dele e da lei. Com certos exageros aqui e ali, mas de maneira geral tentando cumprir com sua obrigação. E mais louvável ainda o comportamento do brasileiro. Acompanhando, opinando, criticando e principalmente descobrindo que aquilo tudo que está lá sendo julgado, faz parte da sua história política e é reflexo do seu voto. Da sua decisão perante as urnas. Fico feliz. Pode-lhes parecer que acordei meio Poliana hoje. Pode até ser. Confesso. Mas os que me leem há mais tempo sabem que sou um otimista de carteirinha. Porém, também o sabem, que não sou adepto da solução imediata e sem dor. Sempre defendi a tese de mudanças lentas e graduais. Um processo de evolução da cultura do brasileiro. E vendo esse julgamento do STF cercado de interesse inédito, sinto que não estou de todo errado. Estamos evoluindo. Lentamente e dolorísticamente (permitam-me o neologismo). Porque mudança nenhuma vem sem dor. E para finalizar vai uma torcida mais otimista ainda. Espero que esse jogo não termine empatado e nem tenha seu resultado decidido no tapetão. Um golzinho basta. Pode ser até de mão. Mas que dê ao brasileiro o aceno de que ele está no caminho certo. Assim eu espero. Assim espero que os brasileiros esperem.







Guilherme Augusto Santana

Goiânia, sexta feira 03 de agosto de 2012

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Meu Araguaia

Caros amigos leitores

uma prosa poética para uma paixão de infância.



Meu Araguaia



            Fecho os olhos por um instante e sinto o calor do meio da tarde surrar o ar. Quente. A sorte é que a sombra do rancho impede que o sol incida diretamente sobre minha pele. Pele já castigada pelos dias passados desafiando o astro rei. Lembro-me de Bial e seu filtro solar. Cuido-me, apesar de ser de uma geração que passava óleo de cozinha na pele para espantar os mosquitos da beira do rio. Sinto também a água morna correr por entre as pernas. Metade do corpo dentro d’água e metade fora. A correnteza vai levando todas as energias negativas. Rio abaixo. Vão desembocar no mar. Diluídas. Silêncio profundo. Escuto no máximo minha respiração. Estado zen. Zen nada para fazer. Tão abstraído que me esqueci de almoçar. De propósito. Delongando ao máximo aquela sensação de contato íntimo com a natureza. Um contato entorpecente. De êxtase e de álcool. Tomei uma cervejinha. Duas. Vamos lá... várias. O calor e o suor permitem esse excesso. Aliás, o que seria da vida sem excessos né? Chata. Preciso tomar uma decisão drástica. Ou levanto da cadeira semi enterrada na água para almoçar ou para dar um novo mergulho no rio. Mergulho. Melhor. Comida para que? Ali já tem alimento demais para alma. Congestão. Não sinto as picadas dos insetos. Naquela altura do Rio Araguaia quase não existe mosquitos. Lembro-me onde estou. Araguaia. Meu Araguaia. Lá para as bandas do Estado do Tocantins divisa com Pará e Maranhão. Longe. Prá mais de mil e duzentos quilômetros da minha casa. Mas minha casa parece ser ali. Sinto a brisa quente bater. Ameniza o calor. Lembro-me que mais tarde ela amornará. Virá o cair da noite. Na beira da fogueira com lenha crepitando e viola desfiando. Moda da boa. Alguma coisa a assar na brasa e uma bebida quente para esquentar o corpo. E a alma. Sinto o cheiro da seresta. Mais a noitinha barraca. Ver a lua. Ver as estrelas. Ah as estrelas... parece que lá elas são mais. Na cidade elas não brilham como no céu da beirada do Araguaia. Meu Araguaia. Sinto cheiro do sereno. Friozinho da madrugada, edredom e lanterna. Dias quentes, noites frias, coração morno. Sinto o cheiro do orvalho logo ao raiar o sol. Não dá preguiça de levantar cedo na beira do Araguaia. Os pássaros cantam em algazarra e o sol começa a castigar as barracas de lona. Levanta e vai em direção ao cheiro do café. Morno. Qualquer coisa de alimento para o corpo. A alma já está enfastiada. Começa tudo outra vez. Sinto o cheiro de nostalgia. Passei quase todos os meus aniversários na beira do Rio Araguaia. Meu Araguaia. Quase não ganhava presente. Quem vai lembrar-se de levar presente para beira do barranco? Não importava. O Rio era meu presente. Justo e necessário. Parecia que éramos feitos um para o outro. Separados no nascimento. Sinto o cheiro de cidade. Ainda estou de olhos fechados. Parece que ligaram o ar condicionado. Mas na beira do rio? A água parece que molha minha roupa, meu sapato. Abro os olhos para me certificar. Estou sentado no meu escritório. Só. Sinto um desapontamento desabar. Sinto vontade de chorar. Sinto muito. Não estou na beira do Araguaia. Esse ano não ganhei presente de aniversário. Mas deixa estar. Enquanto viver será meu. Enquanto viver serei seu. Meu Araguaia.  





Guilherme Augusto Santana

Goiânia, sexta feira 27 de julho de 2012

sexta-feira, 20 de julho de 2012

ei você aí, me dá um dinheiro aí?

Seu salário já está na internet?


Ei você aí, me dá um dinheiro aí?





Quanto você ganha de salário? Você mesmo servidor público! Estou falando com você! Não adianta olhar para o lado e disfarçar. A resposta à sociedade terá que ser dada! E a polêmica está no ar. Fruto da Lei n. 12.527/2011 que foi sancionada pela Presidente Dilma. A famosa lei de acesso a informações públicas. Cento e oitenta dias foram dados para que todos os brasileiros pudessem ter acesso aos rendimentos dos funcionários dos três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. Entre cumprimentos e descumprimentos, o fato é que “nunca antes nesse país” se falou tanto sobre os salários do funcionalismo público. E junto a isso, logicamente, nunca se falou tanto em transparência versus invasão de privacidade. E você que está lendo nesse momento? É a favor ou contra a divulgação dos proventos dos funcionários públicos? Acha que é direito do cidadão brasileiro, como pagador, saber essas informações? Ou acha um descabimento total? O fato é que entre desculpas e argumentações, muitos cumpriram a determinação. E ai entram os jeitinhos brasileiros travestidos de erro de informação. “Mas olha que esse é o salário bruto! Tem a retenção do Imposto de Renda que come quase metade do salário!”. “Gratificação não conta como salário!”. Tudo na tentativa de esconder o real provento a que são agraciados os trabalhadores públicos. O pessoal do Judiciário então... Nunca se buliu no Poder Judiciário. Bastião da integridade e retidão. Falar em dinheiro é quase uma blasfêmia. E aí surgem os pensamentos errados no imaginário popular. “Imagina se meu vizinho descobre quanto eu ganho?!?! Vai querer me pedir dinheiro emprestado.”. “Se divulgam meu salário, meus filhos correm risco de serem sequestrados.”. “Todos vão achar que ganho muito e trabalho pouco.”. Aí entra o cerne da questão. O ponto onde o cronista queria chegar com toda essa prosopopeia. Sendo sincero, não acho que os servidores públicos recebam excessivamente. Não vejo essa disparidade de proventos que tanto se alardeia na mídia. Conheço vários profissionais liberais, empresários e executivos que recebem tanto quanto ou mais que muitos funcionários públicos de alto escalão. Acho que muitos cargos deveriam receber ainda mais como Prefeitos, Delegados e Juízes. São funções extremamente desgastantes e que muitas vezes colocam a própria vida em risco. E afinal de contas a maioria deles prestou concurso para estarem ali ou foram eleitos de forma popular. O que me causa indignação é a maneira como muitos se portam no trato público. O conceito de corrupção arraigado no âmago do brasileiro que leva o funcionário público a cair em tentação e sujar as mãos na lama do crime. Do colarinho branco ou não. O que me causa indignação é a ideia esdrúxula de que passou em um concurso, não terá que trabalhar mais nunca na vida. Pode viver de pernas para ar, afinal estabilidade é meu nome. Pelo contrário! Deveria fazer jus ao provimento pago pelo cidadão brasileiro. Assim como em todo emprego. Vestir a camisa. Cumprir com suas obrigações. O que me causa indignação é a cultura imbecil de que a coisa pública não é de ninguém. Pois sim. É sim. É minha e sua e de todo povo brasileiro. Se os salários estão ou não na internet, pouco me interessa como cidadão. O que me interessa de verdade é que cumpram suas funções. E sejam dignos delas.   









Guilherme Augusto Santana

Goiânia, sexta feira 20 de julho de 2012