Caros amigos
Resolvi inovar. Desta feita segue a gula com as provas cabais. Imagens. Espero que gostem.
Gula com uma pitada de Luxúria
Talvez vocês estejam estranhando o tema dessa semana e pensando que seja repeteco do anterior. Pior que é. Mas só estou voltando ao tema, porque recebi inúmeros comentários da crônica anterior com questionamentos diversos. Tipo: “Porque você não falou daquela comida?”, “E daquela?”, “Quando estava ficando bom acabou.”, “Não falou sobre as comidas internacionais.”. E diversos comentários que muito engrandecem e envaidecem o escritor. Sinal de que está sendo lido. Por isso resolvi repetir. Logicamente que com tempero diferente. Um tempero digamos... picante. Uma pitada de luxúria. Nessa crônica pretendo narrar não só o pecado da gula, mas também sua associação etílica e turística. Nada mais justo. Nada mais gostoso. Nada mais pecaminoso. Peguem seus terços e comecemos pelos mistérios deliciosos.
Vamos começar aqui por perto. Brasília. Capital Federal. O chamado prato de pessoa jurídica. O nome do Restaurante é Francisco (existem alguns espalhados pela cidade, mas o meu preferido é o da ASBAC que tem vista para o lago Paranoá). O prato é Bacalhau. Assim mesmo com letra maiúscula. Um Gadus Morhua de respeito assado na brasa. Pensa em quatro dedos de puro filé alto. Alvo. Aí você chama o garçom e pede um azeite grego Mikonos. Aproveita e pede um vinho português. Luis Pato ou Eugênio Almeida. Aí pronto. No máximo uma cebola assada e não precisa de mais nada. Só ajoelhar e rezar. Andando um pouco mais, aportamos na gastronômica São Paulo. Nada de restaurantes estrelados. Vá a Liberdade e encontre a Rua Thomas Gonzaga. Ao final à esquerda verá o Gombe. Restaurante Japonês tradicional. Mas bota tradicional nisso. Você vai se sentir literalmente na terra do sol nascente. Encontre uma garçonete brasileira, de preferência, e peça um prato que tenha um pouco de cada coisa. Anchovas, missôs, sushis, sashimis... ah sashimis! Um dedo de espessura. Nada desses transparentes que comemos em rodízio não. Peixes que você não consegue pronunciar os nomes. Peixes que não tem nome em português. Peça junto um sakê. Necessário. Depois que sair do restaurante, dobre a Rua Galvão Bueno e vá conhecer a Adega do Sakê, do amigo Adegão. Figura. Se você sair de lá sem dar ao menos uma risada eu pago a conta. Aproveite para aprender um pouco mais sobre a famosa bebida de arroz japonesa. Kampai. Atravessando as fronteiras do Mercosul, siga para Buenos Aires, a charmosa capital portenha. Lá tem um restaurante chamado Cabernet. Um charme. Sente-se na varanda sombreada e deixe chegar o pão da casa. Vá petiscando com a manteiga e logo peça o vinho. Apesar do nome, indico um Malbec (uva tradicional Argentina). Se valer a dica e o bolso suportar, um do famoso Nicolas Catena. Depois de meia garrafa de vinho peça o Bife de Chorizo. O que acompanha deixo a cargo de vocês. Na verdade é desnecessário o acompanhamento. A carne vem ao estilo portenho. Sangrando. Macia. Pouco temperada. Própria para sugarmos todo sabor de sua essência. Basta. Dulce de leche pode ajudar a finalizar. Pecado em Espanhol. Aí atravessamos a Cordilheira dos Andes e aportamos na moderna Santiago do Chile. A jóia dos Andes. Diferentemente de sua co-irmã, Buenos Aires, aqui se come pescado. E que pescado. Prepare-se e vá ao Astrid e Gastón. Restaurante estreladíssimo de comida internacional com acento Peruano. Uma história de amor que virou restaurante. E como você está na terra dos pescados, peça o famoso ceviche. Eles vêm variados. Todos os tipos. O de ouriço do mar é de comer ajoelhado. Pecado mortal. Outro pecado mortal é não pedir uma garrafa de vinho chileno. Se puder e o dinheiro der peça uma Almaviva ou Montes Alpha. Melhor ainda? Escolha a uva Carmenère. Não gosto nem de imaginar. Chega de América do Sul? Suba mais um pouco (bem mais um pouco) e aporte na Big Apple. New York. Vou tentar me conter em dois lugares para não virar um livro. Primeiro vá a Brasserie Les Halles. Antiga casa do Polêmico chefe Anthony Bourdain. Por ocasião de minha ida a esse lugar, resolvi mandar um twitter para o chefe em questão solicitando uma sugestão de prato. Quando não muito chega a resposta. Cote Du Boeuf for two. Não podia deixar de provar o prato recomendado pelo Chef. Quando chegou à mesa, era quase o quarto traseiro inteiro de uma vaca. Divino. Macio. Vermelho. Acompanhado do vinho então... ficou imperdoável. Dez aves marias e quinze pais nossos. Passado o sobressalto do Boeuf, siga para o Eataly, do famoso Chef Mario Batali. Uma cidade gastronômica. Carnes, legumes, frutas, massas, temperos... entremeados com vários restaurantes de comidas diversas. Sente-se no Manzo do Chef Michael Toscano. Peça uma garrafa de Pio Césare Barbera D´Alba e em seguida um Raven e Boar Whey Fed Pig. Gravem esse nome. Vocês podem precisar. É um porco alimentado somente com produtos de primeira (dão até cerveja para o porco) e depois cozido lentamente. Quando digo lentamente é por horas a fio. Derrete na boca. Derrete a alma. Depois da refastelação, dê uma passeada pelo Eataly e aproveite para tomar um espresso (do italiano mesmo). Nesse ponto pulamos para a outra costa americana. A Oeste. Los Angeles. Afaste-se do centro e vá para Santa Mônica. A memória falha no nome do restaurante, mas fica na esquina da Santa Mônica Boulevard com a Arizona Avenue. Peça uma bela garrafa de vinho da uva Zinfandel, de preferência com a assinatura de Robert Mondavi e procure ao garçom pelo Boeuf Bourguignon. O melhor que já comi na vida. Repito. Na vida. Estonteante. Se conseguir, depois de pecar bastante, pode andar pela Santa Mônica Boulevard. Lá encontrará as maiores lojas de grifes mundiais. Outro tipo de pecado. Saindo da agitada Los Angeles, siga para a romântica San Francisco. Posso indicar uma pérola? Centro da cidade. Se enfiem em qualquer beco. Entrem em qualquer bistrô. Peçam uma garrafa do vinho branco Sauvignon Blanc. Uma entrada de escargot e uma salada de frutos do mar com salmão defumado. Sente-se em uma das mesas de rua, e escute jazz ao vivo. Garanto que passará a tarde inteira lá. Juro que não tem coisa melhor. Inesquecível.
Depois de tanto pecado, nada como uma virtude para aliviar nossa consciência. Tudo o que está descrito acima, ou seja, as sensações e prazeres adquiridos com a comida, bebida e turismo, não valem de nada se não estiver em boa companhia. Aliás, de que vale viver a vida se não em companhia dos que você quer bem? Para mim não vale de nada. Por isso, quando for viajar e pensar em desfrutar ao máximo sua estada, lembre-se que pouco importa o destino. Pense primeiro na companhia. Essa vale uma viagem. Uma boa viagem.
Guilherme Augusto Santana
Goiânia, 16/12/11
legenda
1) Sashimi do Gombe
2) Bife de Chorizo do Cabernet
3) Ceviche do Astrid e Gaston
4) Cote du Boeuf do Les Halles
5) Raven e Boar Whey Fed Pig do Manzo (Eataly)
6) Boeuf Bourguignon em Santa Mônica
7) Escargot em San Francisco
8) Salada de frutos do mar com salmão defumado em San Francisco